Outubro, 24
I
Dia Branco....em Casas Brancas e Baleal
II
24 de Outubro de 1910. Segunda Feira (DN). Na “Chronica Marítima”, Pedro Diniz procurou justificar a necessidade do país ser dotado de uma “Marinha de guerra” : “ a marinha é precisa, é indispensável para a defesa da pátria; a marinha deve ressurgir agora”. A “Chronica do Porto” centrou-se em “A cidade (do Porto) e o porto de Leixões”. Criticando as preocupações nacionais com o fazer as grandes obras sem cuidar da sua manutenção e perante os danos na infra-estrutura portuária de Leixões e o autor- João Grave – vê a cidade do Porto , com uma “barra … primitiva e hostil” e desprovida de um “porto comercial” à altura das necessidades de uma cidade de “duzentas mil almas” que “ […] pela sua população, pela sua fortuna, pela sua actividade commercial e fabril, pela sua extensão, é a segunda do reino” .
Prosseguia a actividade dos “bandos precatórios” que participavam na recolha de fundos para apoio às famílias das vítimas da Revolução, com destaque para o cortejo organizado por uma “comissão de sargentos do ultramar” que angariam de “esmolas” cerca de 1,277$480 réis.
E enquanto se expressavam “vozes” em prol da indispensável “descentralização administrativa” como “factor de progresso social e político”( Fernando Emygdio da Silva, Congresso Internacional de Ciências Administrativas, Bruxelas) o Governo fazia publicar vários “Decretos respeitantes à Universidade de Coimbra”, extinguindo a Faculdade de Teologia, tornando livre a frequência dos cursos, tornando facultativo o “uso de capa e batina, e abolindo tanto o “foro académico” como os tradicionais “ juramentos” dos lentes, reitor, graduados, secretário e oficiais da UC, incluindo o célebre juramento da “Immaculada Conceição”. Ainda sobre a Universidade de Coimbra, e a propósito das recentes “Ocorrências graves na Universidade” (ver registo 19 de Outubro) e as reformas acima referidas Hipólito Raposo [José Hipólito Vaz Raposo, 1855-1953], ainda na fase pré-integralismo lusitanista, escreve e publica “Pela Universidade”. Assim:
«Ainda agora não sei o motivo porque a proclamação da República armou para vários excessos de vandalismo um grupo de estudantes de direito. […] Os ueus autores nunca pensaram cinco minutos no trabalho e na competência que semelhante reforma exige, […]. Nem eles nem eu, nenhum dos nossos camaradas tem elementos para estabelecer bases para uma remodelação do ensino: apenas podemos dizer, e isso com segurança, que isto não está bem e que exigimos um regime pedagógico que não inutilize quase completamente o nosso esforço e o esforço dos mestres que, na verdade, não são culpados de tudo.
[…] A Universidade há muito que não é para o paiz o que já foi e tomou até carácter axiomático a afirmação de que a sua única utilidade era o grau. Estas verdades confirmam-nas quantos por cá passaram e conhecem-nas bem alhuns membros do governo […]
Numa oração inaugural notava o ilustre professor Sobral Cid que os espíritos de mais larga influência […]. A Universidade perdendo com a centralização do constitucionalismo a autonomia corporativa , não pôde realizar jamais a sua função directora e ficou vivendo de glórias passadas, com um prestigio ficticio , como um fidalgo arruinado[…]. E seria injusto supor que não há em Coimbra professores com vontade e com faculdades […] . Para este ano, como remédio provisório a velhas reclamações , o Sr. Ministro do Interior veio a Coimbra prometer-nos as seguintes concessões: abolição do foro académico e do juramento religioso, cursos livres, uso facultativo da capa e batina e proibição de matricula no primeiro ano da faculdade de Teologia.[…]
O Foro académico era uma instituição anacrónica […]. A obrigação do juramento […] era uma velharia que ninguém, tomava a sério
Os cursos livres que uns desejam e outros abominam, não sei porquê, virão este ano em que condições? A Faculdade de Direito não tem programa – é preciso que isto se saiba – de sorte que, não fazendo o professor imprimir as projecções, ninguém sabe o que é a matéria do acto […].
Venha o programa, provisório, seja como for, de outro modo teremos de voltar à nojentíssima sebenta e ficar presos ao velho magister dexit [sic] , tomando para Canon a palavra do professor.
Suprimindo o regime de faltas, como é lógico num curso livre e não estabelecendo exames de frequência, à moda alemã, as presenças diminuirão sucessivamente porque a maioria dos rapazes dispensarão prelecções e ares de Coimbra […]. Vira a hecatombe do fim do anno […].
Não se compreendem cursos livres com farda, é verdade. Mas há razões de comodidade e economia […] De restos os únicos interessados na supressão da capa e batina são os alfaiates…
A supressão da Faculdade de Teologia , que ela mesma já tinha pedido ao governo Franco era necessária desde que o episcopado a vinha inutilizando de há muito para a vida eclesiástica portuguesa . Em substituição dela deve vir a criar-se uma faculdade de filosofia e letras que possa d`algum modo tomar a direcção intelectual do país, preparando para po magistério secundário e que inclua no seu quadro muitas sciencias que em Portugal ninguém ensina e pouquíssimos estudam: sociologia, psicologia, história da civilização, psicofisiologia, o alto humanismo greco-romano que os povos germânicos cultivam com ardor e que naturalmente se impõe à civilização de um povo de tão funda tradição humanista.
Se em Portugal não há competências não é vergonha reconhece-lo , é honesto remediá-lo, lembrando-nos de que assim procederam Dom João III e o Marquez de Pombal para que a universidade fosse gloriosa e illustre entre as do seu tempo, em toda a Europa . Hippolyto Raposo." E nos meios operários intensificavam-se as “Reclamações […] “ . Os Caixeiros de Lisboa, através da sua Associação de Classe, que achava representar em epírito os 40.000 individuos que “em Portugal mourejam no commercio”, tornaram claro que não aclamavam “a mudança de regime como simples remodelação política” mas como um facto de “uma reflectida e constante transformação social” e levam ao governo, uma representação sobre o “descanso semanal” , reivindicando o gozo de “24 horas seguidas” .
HAF
Editorial
Um amigo muito estimado tem uma “FlorBela” , a poetisa, sentada à janela do mundo. A peça é de Pedro Fazenda e hoje permite à poetisa, a partir da Quinta de Santa Rita, um olhar eterno sobre o lado este da cidade de Évora. Todavia ela nem sempre esteve ali. Conheci-a na cidade, no Pátio de S. Miguel , quase debruçada sobre o velho Colégio Espírito Santo (actual “centro” da Universidade de Évora) e com um horizonte que dos “coutos “ orientais da cidade se prolongava, nos dias verdadeiramente transparentes , até Évora-Monte . Mas as coisas da vida são como se fazem. Depois de um par de anos vendo o mundo a partir da cidade , e de mais alguns por outras andanças e paragens, Florbela sentou-se definitivamente para observar a cidade. E lá a encontrará nos anos vindouros quem a souber procurar. À janela, de onde a poetisa gostava de apreciar se não o Mundo, pelo menos o Mar (“Da Minha Janela”, 1923).
À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.
DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.
Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.
A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.
Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.
Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)
À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.
DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.
Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.
A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.
Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.
Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)