Editorial

Um amigo muito estimado tem uma “FlorBela” , a poetisa, sentada à janela do mundo. A peça é de Pedro Fazenda e hoje permite à poetisa, a partir da Quinta de Santa Rita, um olhar eterno sobre o lado este da cidade de Évora. Todavia ela nem sempre esteve ali. Conheci-a na cidade, no Pátio de S. Miguel , quase debruçada sobre o velho Colégio Espírito Santo (actual “centro” da Universidade de Évora) e com um horizonte que dos “coutos “ orientais da cidade se prolongava, nos dias verdadeiramente transparentes , até Évora-Monte . Mas as coisas da vida são como se fazem. Depois de um par de anos vendo o mundo a partir da cidade , e de mais alguns por outras andanças e paragens, Florbela sentou-se definitivamente para observar a cidade. E lá a encontrará nos anos vindouros quem a souber procurar. À janela, de onde a poetisa gostava de apreciar se não o Mundo, pelo menos o Mar (“Da Minha Janela”, 1923).

À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.

DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.

Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.

A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.

Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.

Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)

quarta-feira, outubro 27

10953º Dia

Outubro, 27
I
09,00-13,00: Despacho do CC e preparação dos dossiers para sessão
14,00-18,00: Sessões Extraordinária e Ordinária do CC ECS EU
18.00-18,45: Reunião para planeamento do Seminário Interdisciplinar (programas de doutoramento em TJ e HC)
II
27 de Outubro de 1910. Quarta Feira (DN). Na “Chronica Agrícola”, D. Luís da Cunha tratou do “Crédito Agrícola Democrático” avocando os modelos de França e da Prússia .
À subscrição nacional a favor da vitimas sobreviventes da mudança de regime junta a “grande subscripção nacional para o pagamento da dívida externa”, publicando-se a lista dos primeiros ofertantes.
A “Academia das Sciencias de Portugal”, fundada em 16 de Abril de 1907, vê promulgados os seus estatutos (20.10.1910) , como “corporação (instituída em Lisboa) “ com “caracter permanente” cuja finalidade era o “progresso e a integração filosófica dos principais ramos do saber humano”, através da publicação de trabalhos, atribuição de prémios e promoção de conferências”
A greve dos carroceiros chegou ao fim, “aceitando os restantes industriais as resoluções dos seus colegas “ ( aceitou-se a nova tabela salarial) , mas permaneceu o “protesto dos proprietários de transportes de materiais”. Os operários das oficinas da Alfândega de Lisboa , através da sua associação, reivindicam junto da administração o horário de 8 horas, reivindicação que estava também na agenda dos operários matalúrgicos. Os funcionários públicos e municipais mobilizavam m-se para uma reunião em Lisboa , com vista a aprovar uma representação da classe ao Ministério do Interior “ em que se solicita que na próxima reforma administrativa seja melhorada a sua situação”, ou seja, fixação de vencimentos com base “ no projecto lei apresentado no parlamento”(Projecto Bellard da Fonseca); organização de um quadro de todo o funcionalismo, “effectuando-se dentro delle, por concurso devidamente regulamentado a nomeação e promoção de lugar para lugar pela ordem de acesso, de forma a que os lugares de secretários sejam providos por amanuenses” ; aposentação dos funcionários nos termos do artº 353 do Cód. Adm. De 1878, sem o limite de idade fixado no Cod. Adm. 1906; garantia da mobilidade no caso de extinção de serviços e instituições.
No plano político foram ainda notícia a prisão e envio para Lisboa de Francisco Homem Christo, redactor do jornal “Povo de Aveiro”: “vestia sobretudo preto, chapéu mole da mesma cor e lunetas azuis claras; a mão direita segurava uma manta de viagem presa a uma correia” e foi publicamente insultado. Entretanto corriam “boatos [considerados] infundados” sobre “o «complot» monarchico”, mas a verdade é que os meios militares, “descontentes” , conheciam alguma agitação e até ocorreu uma sublevação nos “Caçadores 5” que o ministro da guerra reduziu a um levantamento de rancho. R. Castilho voltou a escrever sobre “A nova Bandeira”
Da Europa, uma nota sobre o “Times” , o “mais importante diário londrino”, onde se publicou uma noticia sobre a comemoração da Batalha do Buçaco; e a referência ao “Congresso contra a Escravatura Branca” a decorrer em Madrid.
HAF

10952º Dia

Outubro, 26
I
09,00-13,00: Correspondência do Gen. J.A.
14,30-16,00: Tutoria do MEEE
16,00-19,30: Documentos do CC .UÉ e CC ECS UÉ incluindo proposta de regulamento de avaliação dos docentes
II
26 de Outubro de 1910. Terça Feira (DN). No Conselho de Ministros do dia anterior deliberou-se publicar “em breve um decreto reconhecendo o direito à greve”, nomear uma comissão para “tomar conhecimento das reclamações do operariado e regular as relações d`este com o governo” , entendendo o governo que a “greve actual não produzirá a mínima alteração da ordem pública”; relatadas as condições contratuais do casamento de D. Maria Pia; e apresentados projectos de novas leis sobre a liberdade de imprensa e do divórcio; e , entre outras matérias, “resolveu-se” enviar uma navio ao Rio Janeiro “no próximo aniversário da República Brasileira”. No Diário do Governo ficou nomeada a comissão para “elaborar o projecto de código administrativo da República”: João Jacintho Nunes, Francisco António de Almeida, José Maria de Sousa Andrade, Francisco José Fernandes Costa e António Cateano Macieira. Um código que nunca vera a luz do dia…..
Um grupo de comerciantes de Lisboa representou ao ministro das finanças solicitando a reintegração do antigo presidente do Banco de Portugal, Mello e Sousa, evocando os “relevantes serviços prestados ao commercio e ao paiz”. J. Neuparth, que assinava a “Chronical Musical” do DN, geralmente centrada na História da Música, para tratar de “um assumpto da maior actualidade”, a “escolha do Hino Nacional […]”, para contrariar os argumentos dos que, considerando a “Portuguesa” sem brilho, carácter e alegria, defendiam a adopção como hino nacional o da Maria da Fonte., que “é vivo, heróico e cheio de enthusiasmo”. O autor acha que o hino que Alfredo keil escrevera duas décadas antes não era espontâneo e brilhante mas , analisando os diversos compassos, tinha vigor , vida, virilidade.
A inquietação no ensino superior acentuava-se. Agora eram os alunos da Escola Politécnica de Lisboa, cuja “comissão de alumnos” nomeada em assembleia (Amilcar Albuquerque, Jayme Hespanha e Luis Passos) , que solicitou ao ministro do interior “a regularização do ano lectivo”, a “revisão e remodelação dos programas e regulamentos da escola”, o “aperfeiçoamento do ensino prático”, “cursos livres”, e ao ministro da Guerra, a ”egualdade de coeficientes e classificações para a admissão à Escola do Exército” nas disciplinas correspondentes.
No plano social, a greve dos carroceiros já tinha dois dias , um conflito entre os condutores das carroças e os seus proprietários sobre salários, tabelas dos preços e dispensa de pessoal. A mediação da Associação dos Lojistas parecia não estar a dar grandes resultados imediatos. Entretanto outros grupos , como os estivadores (salários) e os impressores tipográficos (horário de 9 horas) apresentavam também a sua agenda reivindicativa.
E se em Montemor-o-Velho o povo podia andar entretido em busca da “mulher com forma e feições de homem” , isto é, “um supposte jesuíta disfarçado” a “Empreza Portugueza Cinematographica , Lta fazia saber aos seus clientes e público, através de “Aviso Importante”, “que a fita dos funerais dos cidadãos dr. Miguel Bombarda e vice-almirante Cândido dos Reis, apresentada ultimamente em alguns salões animatographicos de Lisboa , não [era] propriedade da mesma emrpeza. A que esta possue, e que hotem obteve justificado sucesso nos principais salões de Lisboa, é uma verdadeira maravilha produzida pela afamadíssima casa Gaumont.” Deixando “o cuidado do confronto ao público, podendo no entanto afirmar que dos mais curiosos, aos mais insfignifcantes detalhes de tão imponente cortejo fúnebre, são apreciados na citada fitta”.
HAF

segunda-feira, outubro 25

10951º Dia

Outubro, 25
09,00-13,00: Correspondência do General João de Almeida (1938-39)
12,00-16,00: Tutoria (teses de Mestrado)
16,00-18,00: Reunião da Mesa do CC ECS UÉ
18,00-20,00: Correspondência e Diversos
II
Leonor Figueiredo: Sita Valles, Revolucionária, Comunista até à Morte (1951-1977), Lisboa, Aletheia Editores, 2010. Há já uns dias que ando com esta história incómoda que culmina num olhar complementar sobre o golpe-purga-massacre de 27 de Maio 1977 em Angola. A fotografia da capa do livro, a mesma da revista expresso de 1992, é uma das mais conhecidas desta jovem revolucionária romântica e ousada, maldita para o PCP e o MPLA. Há alguma literatura sobre o assunto mas a pesquisa mais consistente parece ser a de Dalila e Álvaro Mateus: Purga em Angola. O 27 de Maio de 1977 (ed. ASA, 2º ed. 2007)
III
25 de Outubro de 1910. Terça Feira (DN). O “Assumpto do dia” foi o« “O Reconhecimento da República Portuguesa”, num momento em que “já dois estados” o tinham feito (Brasil e Argentina) aqui interpretado como um acto de “confraternidade internacional” daquelas repúblicas da América do Sul, que agiram pelo interesse de “Estado” e pelo “coração”. A expectativa é que estados da Europa, mesmo que apenas movidos pelos interesses de Estado “o reconhecimento não se fará esperar por muito tempo” sendo certo que Portugal “não irá mendigar o reconhecimento das suas novas instituições”. Enquanto isso, especulava-se sobre a possibilidade do rei deposto ir residir para Bruxelas.
Por iniciativa do Ministério do Interior e decisão do Conselho de Ministros foi constituía uma “comissão encarregada de um plano integral da reforma da instrucção pública” .
Noticia de revelo foi ainda o naufrágio do paquete português “Lisboa”, “no promontório de Paternoster-Point, ao norte do Cabo da Boa Esperança “ havendo alguns mortos e perda do navio da “Empreza Nacional de Navegação” que custra 136.000 libras andava segurado em 80 mil libras. Era a segunda viagem que fazia para “as nossas possessões”. No “bello barco” -- de 145 metros, 7,5 toneladas, com duas maquinas de 7300 cavalos que consumiam 65 toneladas de carvão por dia; com 10 barcos salva-vidas (para 600 pessoas) , 4 guindastres hidráulicos, rede telefónica, 2 telégrafos; 40 camarotes de 1ª classe (108 passageiros) , 16 camarotes de 2ª classe (70 pessoas), 18 camarotes de 3º classe (150 passageiros) e uma “coberta especial com beliches para 200 colonos”; três cozinhas, uma delas “a vapor, na qual se podia fazer uma refeição para 1000 pessoas em duas horas e meia”; e tinha ainda “padaria, lavandaria, estendal de secar a roupa, 45 retretes, 25 casas de banho, barbearia, tipografia, 4 “hospitais para 20 doentes” e outros serviços – saíram de Lisboa cerca de 160 passageiros , metade dos quais com destino a África Oriental.
HAF

domingo, outubro 24

10950º Dia

Outubro, 24
I
Dia Branco....em Casas Brancas e Baleal
II
24 de Outubro de 1910. Segunda Feira (DN). Na “Chronica Marítima”, Pedro Diniz procurou justificar a necessidade do país ser dotado de uma “Marinha de guerra” : “ a marinha é precisa, é indispensável para a defesa da pátria; a marinha deve ressurgir agora”. A “Chronica do Porto” centrou-se em “A cidade (do Porto) e o porto de Leixões”. Criticando as preocupações nacionais com o fazer as grandes obras sem cuidar da sua manutenção e perante os danos na infra-estrutura portuária de Leixões e o autor- João Grave – vê a cidade do Porto , com uma “barra … primitiva e hostil” e desprovida de um “porto comercial” à altura das necessidades de uma cidade de “duzentas mil almas” que “ […] pela sua população, pela sua fortuna, pela sua actividade commercial e fabril, pela sua extensão, é a segunda do reino” .
Prosseguia a actividade dos “bandos precatórios” que participavam na recolha de fundos para apoio às famílias das vítimas da Revolução, com destaque para o cortejo organizado por uma “comissão de sargentos do ultramar” que angariam de “esmolas” cerca de 1,277$480 réis.
E enquanto se expressavam “vozes” em prol da indispensável “descentralização administrativa” como “factor de progresso social e político”( Fernando Emygdio da Silva, Congresso Internacional de Ciências Administrativas, Bruxelas) o Governo fazia publicar vários “Decretos respeitantes à Universidade de Coimbra”, extinguindo a Faculdade de Teologia, tornando livre a frequência dos cursos, tornando facultativo o “uso de capa e batina, e abolindo tanto o “foro académico” como os tradicionais “ juramentos” dos lentes, reitor, graduados, secretário e oficiais da UC, incluindo o célebre juramento da “Immaculada Conceição”. Ainda sobre a Universidade de Coimbra, e a propósito das recentes “Ocorrências graves na Universidade” (ver registo 19 de Outubro) e as reformas acima referidas Hipólito Raposo [José Hipólito Vaz Raposo, 1855-1953], ainda na fase pré-integralismo lusitanista, escreve e publica “Pela Universidade”. Assim:
«Ainda agora não sei o motivo porque a proclamação da República armou para vários excessos de vandalismo um grupo de estudantes de direito. […] Os ueus autores nunca pensaram cinco minutos no trabalho e na competência que semelhante reforma exige, […]. Nem eles nem eu, nenhum dos nossos camaradas tem elementos para estabelecer bases para uma remodelação do ensino: apenas podemos dizer, e isso com segurança, que isto não está bem e que exigimos um regime pedagógico que não inutilize quase completamente o nosso esforço e o esforço dos mestres que, na verdade, não são culpados de tudo.
[…] A Universidade há muito que não é para o paiz o que já foi e tomou até carácter axiomático a afirmação de que a sua única utilidade era o grau. Estas verdades confirmam-nas quantos por cá passaram e conhecem-nas bem alhuns membros do governo […]
Numa oração inaugural notava o ilustre professor Sobral Cid que os espíritos de mais larga influência […]. A Universidade perdendo com a centralização do constitucionalismo a autonomia corporativa , não pôde realizar jamais a sua função directora e ficou vivendo de glórias passadas, com um prestigio ficticio , como um fidalgo arruinado[…]. E seria injusto supor que não há em Coimbra professores com vontade e com faculdades […] . Para este ano, como remédio provisório a velhas reclamações , o Sr. Ministro do Interior veio a Coimbra prometer-nos as seguintes concessões: abolição do foro académico e do juramento religioso, cursos livres, uso facultativo da capa e batina e proibição de matricula no primeiro ano da faculdade de Teologia.[…]
O Foro académico era uma instituição anacrónica […]. A obrigação do juramento […] era uma velharia que ninguém, tomava a sério
Os cursos livres que uns desejam e outros abominam, não sei porquê, virão este ano em que condições? A Faculdade de Direito não tem programa – é preciso que isto se saiba – de sorte que, não fazendo o professor imprimir as projecções, ninguém sabe o que é a matéria do acto […].
Venha o programa, provisório, seja como for, de outro modo teremos de voltar à nojentíssima sebenta e ficar presos ao velho magister dexit [sic] , tomando para Canon a palavra do professor.
Suprimindo o regime de faltas, como é lógico num curso livre e não estabelecendo exames de frequência, à moda alemã, as presenças diminuirão sucessivamente porque a maioria dos rapazes dispensarão prelecções e ares de Coimbra […]. Vira a hecatombe do fim do anno […].
Não se compreendem cursos livres com farda, é verdade. Mas há razões de comodidade e economia […] De restos os únicos interessados na supressão da capa e batina são os alfaiates…
A supressão da Faculdade de Teologia , que ela mesma já tinha pedido ao governo Franco era necessária desde que o episcopado a vinha inutilizando de há muito para a vida eclesiástica portuguesa . Em substituição dela deve vir a criar-se uma faculdade de filosofia e letras que possa d`algum modo tomar a direcção intelectual do país, preparando para po magistério secundário e que inclua no seu quadro muitas sciencias que em Portugal ninguém ensina e pouquíssimos estudam: sociologia, psicologia, história da civilização, psicofisiologia, o alto humanismo greco-romano que os povos germânicos cultivam com ardor e que naturalmente se impõe à civilização de um povo de tão funda tradição humanista.
Se em Portugal não há competências não é vergonha reconhece-lo , é honesto remediá-lo, lembrando-nos de que assim procederam Dom João III e o Marquez de Pombal para que a universidade fosse gloriosa e illustre entre as do seu tempo, em toda a Europa . Hippolyto Raposo."
E nos meios operários intensificavam-se as “Reclamações […] “ . Os Caixeiros de Lisboa, através da sua Associação de Classe, que achava representar em epírito os 40.000 individuos que “em Portugal mourejam no commercio”, tornaram claro que não aclamavam “a mudança de regime como simples remodelação política” mas como um facto de “uma reflectida e constante transformação social” e levam ao governo, uma representação sobre o “descanso semanal” , reivindicando o gozo de “24 horas seguidas” .
HAF

sábado, outubro 23

10949º Dia

Outubro, 23
I
08,00-14,00: CC.ECS.UÉ [Reconhecimento de Habilitações dos candidatos aos cursos de mestrado] e preparação de conteúdos para página do ACTAE-NICPRI.UE.

II
23 de Outubro de 1910. Domingo (DN). Na “Chronica Financeira” apreciou-se a situação nos principais “mercados monetários” estrangeire depois centrou-se na “Nova Nau [do Estado] ” que , no país, o governo provisório construía porá substituir “o velho e por vezes glorioso batel”. Mas “antes de construir a nova nau”, o governo provisório da República estava a preparar-lhe “ o estaleiro adequado” , a escolher “os materiais” e a “tripulação”. E comandavam-nos duas ideias base: “ a reforma da administração pública , […] a base de umas boas finanças” , que deveria proporcionar a “redução de todas as despezas inúteis e o augmento da produtividade do trabalho”. Com este propósito o governo apertara a exigência do “cumprimento do horário das repartições do estado e a diminuição do numero irrisório dos feriados”, o “inquérito a certos serviços”, as resoluções para superar a “penúria de numerário com que lutava a praça”, a nacionalização da “dívida flutuante externa” e a normalização do “mercado monetário”
Do conselho de ministros saiu o decreto “avisando as casas de venda, em que se apresentarem jornais pornographicos e outras publicações periódicas que se destinem a alteração da ordem pública, de que serão fechadas, procedendo-se judicialmente contra o abuso”. Com o Ministro da Marinha reuniu o presidente da C.M. de Luanda, Álvaro Pimenta, que abordou questões como a do álcool, a reorganização administrativa , reforma da pauta e a colonização do planalto de Benguela.
No dia que se tornou ”definitivamente assente” que o Curso Superior de Letras seria “transformado n`uma Faculdade [de Letras] e integrar a futura Universidade de Lisboa, ” os seus alunos, preocupados com as oportunidades profissionais, reivindicavam junto do Director Geral da Instrução Secundária a não contratação de professores para aquele nível de ensino que não tivessem “concluído o respectivo curso”. Entretanto alguns jornais tornam pública uma lista de funcionários do Estado que eram exemplos de “açambarcadores de Empregos” isto é , as acumulações. O Médico Agostinho Lúcio, em carta ao DN procura justificar o seu caso.
Do Ultramar vários assuntos a merecer a atenção da imprensa , destacando eu as noticias sobre a “construção”do Caminho de Ferro de Benguela, cuja exploração já se podia estender até ao quilómetro 320 km. Já agora vale a pena lembrar que a obra foi regulada em 1899, a construção foi iniciada em 1903 e ficou concluída em 1929.
HAF

sexta-feira, outubro 22

10948º Dia

Outubro,22
I
09,00-12,30: Apreciação de candidaturas de 2ª fase MEHE e D.HC, validação de candidaturas, e correspondência CC.ECS.UE
14.00-20,00: Vária , incluindo correspondência do Gen. J.A:
II
22 de Outubro de 1910. Sábado (DN). Na actualidade política nacional os temas da “separação da Igreja do Estado”, as atitudes de alguns dos antigos líderes monárquicos em relação o novo regime (o caso de Teixeira de Sousa), a suspensão do Bispo de Beja e o destino a dar aos edifícios das associações religiosas de Lisboa, e a questão da “sustentação dos presos indigentes” merecem uma particular atenção do jornal ao lado da actividade geral do governo provisório.
Nas colónias, além do velho problema da tributação do “Alcool em Angola” e das “culturas em África e na India” [obviamente as culturas comerciais, como a borracha, algodão, açúcar, etc.] a nota mais relevante é a que refere o envio da canhoeira Zambeze, estacionada na Guiné, para Cabo Verde “por se ter declarado “uma greve n`aquela província ultramarina”.
A Crónica do dia foi dedicada a “Portugal perante o Mundo” onde se escreve: “A revolução de 5 de Outubro causou por certo extranheza na política europeia, que não nos ssuppunha capazes de tamanha audácia e ainda capazes de tamanha serenidade depois do triumpho. O sucesso qualquer que seja o ponto de vista sob o qual se encare, surpreendeu por conseguinte as grandes potencias, que parece estarem ainda duvidosas da realidade dos factos. […]”.
O tema da revolução continuava bem presente e a rubrica “Para a História da Revolução” prosseguia, Todavia o povo, ou melhor uma parte do “público”, tinha bons motivos para se interessar por outras coisas mais agradáveis. Por exemplo , pelas “excursões ao paiz”, iniciativa da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses e as da Beira Alta e Ramal de Vizeu, num “serviço especial a preços reduzidos” , destinado a “promover o Turismo em Portugal”. Publicava-se inclusivé um “mappa onde se acham indicadas a traço duplo as linhas que constituem o circuito das Beiras e a traço simples as restantes linhas onde também podem ser empregados bilhetes especiais”:

HAF

10947º Dia

Outubro, 21
I
06,00-.......Lisboa
09,30- ANTT/AOS
10,30-13,00: Júri Concurso Professor Associado (ISCTE)
14,00-19,00: ANTT/ AOS
II
21 de Outubro de 1910. Sexta Feira (DN). A “Carta de Itália” de E.T., do “correspondente particular” do DN , abre com a ideia de que “A revolução em Portugal “ era algo também esperado nos meios políticos e opinião publicada entre os romanos: “Havia já alguns mezes que nos principais jornaes italianos liamos com frequência «interviews» celebradas pelos seus correspondentes de Paris , com o Sr. Magalhães Lima ou o Sr. João Chagas, bem como cartas dos correspondentes de Lisboa , dos mais importantes diários de Londres, todos pintando com as mais sombrias cores a situação politica portuguesa e anunciando-nos como imminente a Revolução e a consequente proclamação da República em Portugal. Contudo [….] a noticia do movimento recolucionário portuguez resultou, para a immensa maioria dos italiannos, quasi inteiramente inesperada.[…] “. E o correspondente prossegue desdecrevendo a “ Sensação enorme – Os suplementos dos jornais – Sympathias por D. Maria Pia – A commiseração por D. Manuel – o que se pensa em Itália do ex-soberano – Os italianos apreciam o patriotismo dos revolucionários portuguezes – esperando os jornais de Lisboa – admiração pelos chefes da Revolução – o entusiasmo dos republicanos italianos - As suas illusões – O Deputado Chiesa em Lisboa – A Itália reconhecerá dentre em pouco a República Portugueza - Declaração de um auctorizado diplomata – Os juízos da Imprensa.”
Entretanto, da reunião de “Os Credores das Casas Reais”, tornam-se público o rol provisório das dívidas com os gastos diários do Paço da Ajuda , do Paço das Necessidades e, numa diminuta parte, das “Contas especiais de D. Manuel “. Tudo somado atingia um montante superior a 82 contos de reis, um valor expressivo que se distribuía pelas categoriais de fornecimentos (bens e serviços de consumo geral) da forma seguinte:

O Conselho de Ministros, em reunião, suspendeu “das temporalidades, como de sede vacante” o Bispo de Beja por se ter ausentado para Espanha sem autorização do governo; revogou várias leis entre as quais as “ leis excepcionais “ que prolongavam a deportação por tempo indeterminado ( Leis de 13 Fev. de 1886, 21 de Abril de 1892 e de 3 de Abril de 1896 )., a lei “repressiva da imprensa” (11 de Abril de 1907).
Enquanto os líderes das igrejas protestantes de Porto e Gaia eram recebidos e apresentavam cumprimentos ao Presidente da República, em Beja tomava posse a “nova vereação municipal republicana” presidida pelo advogado e “abastado proprietário” Laranja Gomes Palma, acto a que se seguiram festejos com banda, teatro e corrida de touros com vista a angariação de fundos de apoio às vitimas da revolução, campanha que igualmente mobilizou a empresa do Campo Pequeno .
Em Assembleia Geral a “Academia das Sciências de Lisboa” deliberou apresentar cumprimentos ao “poder constituído”, reformar os estatutos, aceitar o pedido de demissão de Ramalho Ortigão (1º oficial de secretaria”) ,, um empregado “excepcional” da biblioteca e “ilustre escritor “ que foi de imediato proposto (por iniciativa de Teixeira de Queiroz) como sócio efectivo (aprovado por aclamação de “ambas das classes” da Academia)
E se o povo de Lisboa fosse “hoje” ao “Chiado Terrasse no Theatro República” em “Soirée elegante” podia disfrutar de três estreias: “Viviam dois gallos em paz…..; Os Chapéus; Maior o susto que o mal…. e ainda a “exhibição da fita representativa dos últimos acontecimentos”.
Um povo mais votado às questões de interesse nacional poderá ter assistido à conferência sobre “O Desenvolvimento das Forças Produtivas do paiz” proferida por Augusto Edmond Santos um dos vice-presidentes da “Sociedade de Sciências Económicas e Sociais”, na sede da agremiação. O conferencista tratou de “assuntos de interesse palpitante [Tratados Comerciais, Pautas, etc.] , entre os quais figurou, no primeiro plano, o desenvolvimento a dar ao commercio externo portuguez, de modo a chamar a atenção do governo para inscrever no seu programma como o mais importante dos interesses políticos.
Tendo a Sociedade de Sciências Económicas e Sociais sido constituida com o fim de contribuir para o bem da Pátria, a sua secção commercialista tem trabalhado denodadamente na imprensa periódica e nos congressos para tornar evidente a necessidade do paiz entrar no campo da politica comercial orientada”. Do que isso se trata é desenvolvido ao longo da coluna e que em termos de mecanismos político deve incluir a criação, junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros, de uma secção verdadeiramente comercial , composta por comerciantes , industriais e “caixeiros” .
HAF

quarta-feira, outubro 20

10946º Dia

Outubro, 20
I
07.00-09,00: Ginásio
09,00-11,00: Despacho do CC ECS UE
11,00-13,00: Despacho e Reunião da direcção do ACTAE-NICPRI.UÉ
14,00-18,00: Documentação “Concurso Professor Associado: História” (ISCTE): 5 candidatos
18,30-20.00: Correspondência
II
20 de Outubro de 1910. Quinta Feira (DN). As “Residências Reais“ merecem o editorial: “A exaucturação da dinastia de Bragança deixou devolutos uns poucos de palácios, àcerca dos quais o novo governo não deixará de adoptar immediatamente providências, já sobre a sua conservação e destino, já sobre o arralomento e guarda dos móveis, que n`elles se conteem.
Se não estamos em erro , são estas as residências que ficam ao dispor do Estado e que eram já todas, exceptuando umas três ou quatro, propriedade da nação: Mafra, Cintra, Pena, Ajuda, Belém, Necessidades, Alfeite, Porto, Vila Viçosa, Os três últimos, e ainda mais algum, como a Quinta da Bacalhoa e o chalet do Estoril, cremos que são propriedade particular, sobretudo o de Vila Viçosa que é o solar dos Duques de Bragança.” E seguem sugestões para o uso republicano dos edifícios da nação, como instalações do chefe do estado, museus artísticos , etc.. “
O amortecimento da agitação Coimbrã [ tomada de posse do novo reitor, recepção do Ministro do interior, etc] foi alvo de apreciação do Conselho de Ministros, e prosseguiram os rituais de homenagem a figuras republicanas.
Nos meus operários destaca-se a realização do Congresso da Indústria Textil – “é preciso não só salvaguardar os interesses dos industriais, mas dos operários e do público, dizem as associações operárias”-, e a diligência efectuada pela Confederação Metalúrgica de Lourenço Marques junto da Associação de Operários Metalúrgicos com vista ao recrutamento “ de operários metalúrgicos com competência profissional” para aquela colónia , solicitação a associações lisboeta acabou por não acolher porque “as condições indicadas no telegrama são de tal natureza inaceitáveis que se resolveu responder que a associação não convidada qualquer sócio a ir trabalhar para aquela colónia”
“Um operário” dirigiu ao director do jornal uma carta sobre “ O dia normal de 8 horas de trabalho” que rezou assim: “Sr Director. Permiti que um operário , há anos ansioso de reivindicar direitos por ter sempre cumprido deveres , exponha as suas impressões angustiosas pelo que está presenceando com o horário do dia normal de oito horas de trabalho. É do conhecimento de todas as pessoas mais ou menos lidas nos mais rudimentares estudos das questões sociais baseadas na moderna sociologia, que com o advento da República em Portugal, o governo provisório, sem necessidade de estudo, por já ter sido objecto de resoluções de congressos e nomeadamente no último em Setúbal, devia decretar para os estabelecimentos do Estado o dia de oito horas, e escusado será dizer que esse horário é para os operários, porque a burocracia tem sola quando entra para as repartições às dez, o que tem sido até ao presente letra morta.
É certo que em alguns municípios, nos arsenais , cordoaria e obras públicas, por terem `à sua frente indivíduos antigos e verdadeiros republicanos, estabeleceram o horário; mas estabelecimentos do estado existem em cuja direcção continuam antigos monarchicos, que proclamada a República a ela aderiram sem fogo nem paixão, nem a mais leve preocupação de quanto tem que evolucionar no campo sociológico para demonstrarem que não são simples christãos novos. O espírito em antítese com a democracia ficou imperando, perdendo-se tempo e dinheiro em exterioridades mais ou menos theatrais para darem nas vistas, , e o que diz respeito a melhorar situações de classes desprotegidas, continua a prevalecer o systema de reacção de maldita memória.
Se numa habitação onde a vida periga pelas péssimas condições de higiene, depois da visita da sanidade e de convenientemente desinfectada, não se mantiver a aragem …que vivifica, o ambiente tornar-se-a a breve trecho infecto e todo o trabalho de sanidade que se pôs em practica na melhor das intensões ficou nullo[…].
Assim se o governo provisório […] não se preocupar com a conducta politica dos antigos monarchicos, espécie de “pau para todas as obras”, ou, para melhor classificação, “christãos novos”, deixados por diversas causas ou razões à frente de estabelecimentos , elles esmagarão as aspirações dos subordinados , que à causa deram anos de sacrifícios e o descontentamento justificado será a ruína da mesma causa.
Não se compreende que se continuem a manter regulamentos diferentes em estabelecimentos do mesmo Estado. As injustiças eram grandes, se continuarem é caso para os operários reunirem-se nas suas associações e falarem alto.
O estabelecimento do dia de 8 horas não necessita de estudos nem de derivações de verbas especiais ou extraordinárias; necessita apenas de um bafejo de justiça acalentada pelo lampejo da equidade. Pela publicação desta se confessa grato.
Um Operário”
HAF

terça-feira, outubro 19

10945º Dia

Outubro, 19
I
08,30-09,30: Despacho do CC ECS UÉ
09,30.11,00: Apreciação preliminar dos documentos dos Candidatos ao Mestrado EHE e ao programa de doutoramento HC
11,00-19,30: Documentação “Concurso Professor Associado: História” (ISCTE): 5 candidatos
II
19 de Outubro de 1910. Quarta Feira (DN). A primeira página do jornal foi em grande parte ocupado por questões universitárias. Além da extensa nota sobre “Ocorrências graves na Universidade” de Coimbra (e os prejuízos materiais), protagonizadas do dia anterior por um “grupo de estudantes revoltosos” que fez distribuir um manifesto ao “pais e ao governo provisório da Republica” reclamando reformas profundas , e a nomeação governamental do Dr. Manuel Arriaga como Reitor daquela Universidade , onde mereceu uma “ enthusiastica recepção”, o editorial foi dedicado “A Universidade de Lisboa”, cabeçalho da carta ao director assinada por Affonso Vargas [provavelmente António Maria Affonso Vargas, antigo tipógrafo e depois fundador e director de “A Imprensa”, uma revista científica, literária e artística que se publicou nos anos 1880 (1985-1891) [cf. Helena Bruto da Costa: “A IMPRENSA – Revista científica, literária e artística”, Hemeroteca Digital – CML, Estudos Internos]. Grafou aquele “escritor e Jornalista”:
Se me dá licença continuarei abusando […] do Diário de Notícias, para , por intermédio d`elle, pedir ao governo provisório da República Portuguesa que aproveitando os dictatoriais poderes […]crie finalmente a Universidade de Lisboa, tantas vezes esboçada e até já mais ou menos prometida e acerca da qual na hoje adormecida Liga da Educação Nacional [org. cívica fundada em Lisboa em 1908, voltada para a promoção da educação popular ; juntas regionais e locais, colónias ver arqbiblioteca haf] alguma coisa se tentou embora sem resultados práticos
Agora mesmo que Berlim celebra o centenário da fundação da sua , seria uma ocasião própria para lançar os fundamentos dessa instituição sagrada, pois ella constituía o elemento basilar do Portugal moderno. [um símbolo equivalente como o da criação da Universidade de Berlim para a “germnania moderna”]. Ora não será demasiado solicitar para a capital da pátria nova que se levanta, a consagração de um instituto novo também no seu ensino, que disciplinando as unidades dispersas, chamadas escolas médicas, Polytecnica, Curso Superior de Lettras, Institutos Agricola e Commercial e Industrial, e agrupando-as n`um todo harmónico e ligado por um nexo philosophico, ministrasse a essa pátria , a razão de ser social da sua existência e o ideal do seu destino,, preparando ao mesmo tempo para as batalhas da vida , e para os conflitos de interesses, as novas gerações que desapontam e em cujas frontes agora bate em cheio o fulgurante sol da democracia e da liberdade. […].
Ora se queremos fazer um Portugal maior que o Portugal pequeno que recebemos, quer-me parecer que o órgão destinado a tal função terá de ser a Universidade, e pois que vale a pena por au lado Da que existre em Coimbra, e onde a tradição se abrigou sendo difícil e moroso modificá-la a valer, - não ostante açlguma coisa poder fazer-se e decerto se fará – uma outra vasada em outros moldes, lance o Governo Provisório da República Portuguesa as bases da Universidade de Lisboa […] que será [a iniciativa] mais bella, a mais promettedora e a mais radicalmente revolucionária , no sentido generoso e levantado d`este vocábulo […]”
Ainda na área da educação , ficou anotada a solução encontrada pelo governo provisório para o prosseguimento de estudos doa “alumnos dos extinctos colégios da Companhia de Jesus: fazer ainda no mês que corria exames de admissão aos liceus. Notícia foi também o encerramento do “Congresso do Livre Pensamento depois de prestar homenagem a Gomes Freire de Andrade”. No contexto desta última, Boto Machado disse: “ A revolução de 48 foi obra da maçonaria, o mesmo se deu com as revoluções de 71 em França e 1910 em Portugal”.
No plano internacional destacou-se , por informação prestada pelo “Correspondente” em Madrid, uma polémica no Congresso espanhol sobre “ a causa da revolução portuguesa”: o parlamento espanhol dividiu-se entre os que naquela revolução viram obra dos “anti-clericais”- “ o principal motivo da revolução fora o ódio das massas populares contra a religião” (Conde de San Luiz) e os que consideravam que “a mudança de regime fora produzida pela corrupção quasi podridão dos vários governos monarchicos” (Ascarato) , “controvérsia” que foi neutralizada pela maioria dos parlamentares por consideraram que naquele espaço “só deveria tratar-se de assumptos parlamentares”. Já em Berlim a Gazeta dos Vogos criticou a “opinião da imprensa clerical” segundo a qual o novo regime português não deveria ser reconhecido : “é aos cidadãos desse paiz que compete decidir se querem uma monarchia ou uma república [….] não devendo o ódio clerical impedir esse reconhecimento pelos homens d`estado e dirigentes das potencias e sobretudo os da Alemanha, que são obrigados a fazer politica de interesses e não de sentimento […]. E os interesses eram de facto grandes.
Segundo o jornal o “Dia” « “ as colónias portuguesas continuam a atrair as atenções da imprensa alemã. Os “Drosdner” e “Nachricten” pensam também que a Allemanha e a Inglaterra tem o dever de se entender sobre a partilha d`essas colónias, para evitar que as perturbações, que n´essas regiões fatalmente se darão, não venham a reflectir-se nas suas próprias possessões ultramarinas. De resto acrescenta o jornal saxão: A combinação relativa ao Congo, acaba de demonstrar que é possível um acordo semelhante, respectivamente às colónias portuguesas entre a Inglaterra e a Alemanha.
A “Gazette de Magdebourg” é menos expressiva e categórica, mas também tem esperança que as dificuldades financeiras de Portugal o forçarão, mais tarde ou masi cedo, a desfazer-se das suas colónias
O Jornal inglês “Daily Chronicle” (?) diz que a questão das colónias portuguesas estimula não só o interesse , mas desperta, também, uma certa “anciedade” [sic] porque pode provocar uma conflagração europeia.
A questão interessa mais directamente a Inglaterra e a Alemanha , possuidoras de colónias vizinhas das de Portugal, em África.
O tratado de 1898, assinado por Lord Salisbury e pelo conde Hatyfeld, com assentimento de Portugal, proviu essas dificuldades eventuais. Não foi publicado esse tratado mas o seu conteúdo é bem conhecido e muito desejamos não ter que invocá-lo.
O novo governo português tenciona conceder a «autonomia» às suas colónias; estarão, ellas, porém, no estado de poderem governar-se e de desempenhar as importantes obrigações internacionais, cujas responsabilidade pertencem inteiramente a Portugal ? Permitam-nos que duvidemos absolutamente, conclui o Daily Chronicle
Os recentes embaraços por causa dos plantadores de S. Thomé e dos traficantes de escravos em Angola não são de molde a produzir-nos um grande entusiasmo pela emancipação d`essas colónias
Parecem um bando de aves de rapina, voavam à volta de um cadáver putrefacto. Mas afigura-se-nos que se enganam
” [Cf. “Opiniões estrangeiras – As nossas colónias ameaçadas “, em Dia, 18 de Outubro de 1910]
Mas no dia a dia do pais, anunciava-se um novo jornal - “A Victoria- Diário Republicano da noite” , tendo como director A. Machado Santos-, corria a subscrição nacional das “víctimas sobreviventes da mudança de regime” , mantinha-se a “ Crise [de trabalho] typographica” , mobilizavam-se os membros da Associação dos Corticeiros de Poço do Bispo - reunidos em grande número para ouvir dos delegados de Silves e Portimão “sobre o movimento corticeiro no sul do paiz” , em particular José Negrão Buriel, “professor do ensino livre em Portimão, delegado dos corticeiros d`aquella cidade, que, declarou ele, “não sendo corticeiro em toda a sua vida se tem preocupado com as questões operárias, visto as suas ideias serem as mais generosas indo até ao humanismo”. José Barbosa prestava o seu depoimento “Para a História da Revolução” ao jornal “ A Capital” e os mutualistas preparavam o seu congresso (Congresso Nacional da Mutualidade) e os escrivães da fazenda reuniam nos com concelhos a fim de proceder à constituição dos “grémios (industriais) que devem proceder à repartição do contingente respectivo a cada industria” , aqui entendida no sentido lato.
O período era favorável à publicidade do receituário comercial para as doenças de época. A Bayer destacava-se.
HAF

segunda-feira, outubro 18

10944º Dia

Outubro, 18
I
07,00-09.00: Regresso ao Ginásio
09,30-12,00: Regresso as actividades na UÉ. CC ECS UE. Um clima geral pessimista e “deprimido”.
14,00-18,00: Correspondência G J A (1928-31)
19,00-22,00: Documentação de Concurso para Professor Associado
II
18 de Outubro de 1910. Terça Feira (DN). Alguém de Madrid (“Calel”) , em nome dos “portugueses que vivem no estrangeiro”, no passado recente perturbados com a má reputação externa da monarquia portuguesa (corrupção dos poderes públicos), abre a 1ª página com “A revolução de Portugal e os «Lusíadas»” , para mostrar como “de repente , em poucas horas, tudo muda. Inesperadamente, os portugueses que vivemos cá fora vemo-nos rodeados de homenagens de respeito, de applausos entusiásticos, de sympathia e cordialidades sem limites”
Já estava indigitado o novo “Governador Geral de Angola, o major Coelho”,isto é, Manuel Maria Coelho (1857-1943) , colónia onde esteve deportado (1891-1896) e que governará durante um ano (Jan. a 1911-Jan. 12). O major era transmontano, republicano, maçon, homem de imprensa (fundou a “Provincia” em Luanda, 1893), colaborou na Seara Nova e foi também presidente do conselho de ministros (1921).
´Mais do que “as Religiosas que se retiram de Portugal” (o caso da Madeira) , a notícia do dia foram as“Ocorrências graves na Univerdade (de Coimbra)” no dia anterior:
Hoje, cerca das 11 horas, quando estavam para principiar os actos de Direito, na sala dos Capellos, entou ali um grupo de alunos revolucionários e, puxando de machados, destruíram a cathedra, cadeiras, bancos e grade que dividia o recinto destinado ao público.
Os retratos de D. Carlos e D. Manuel foram…destruídos.
O grupo revolucionário composto por uns 15 ou 18 académicos , entrou de pois em algumas aulas, onde desfizeram as cathedras à machadada. Em seguida dirigiram-se à sala de espera dos lentes, onde se achavam alguns deles, obrigando-os a sair dali e rasgando os capelos que ali encontraram.
Tudo isto foi feito com grande gritaria dando morras aos lentes franquistas e reclamando a reforma dos estudos da Universidade.
Foram à secretaria , d`onde também puseram em debandada os respectivos empregados. Todo o serviço universitário, tanto escolar como de secretaria, foi dado por terminado….. O sr. Dr. Eduardo Vieira, substituindo o senhor Governador Civil [Sr. Dr. Fernandes Costa], que tem estado em Lisboa, foi à Universidade e ahi aconselhou muita prudência, para se não crearem dificuldades ao governo da República.
Por ordem de s. ex foi fechada a Universidade, ignorando-se quando poderá começar o serviço dos actos ….
Um negociante d´esta cidade foi pedir ao sr governador civil que nas providências a adoptar não se compreenda o encerramento da universidade , visto este facto prejudicar a vida comercial de Coimbra.
Não se efectuou nenhuma prisão [ausente em Lisboa]
(…)
Um ManifestoOs estudantes revolucionários publicaram um manifesto , afirmando terem sido violentados , mas ser indispensável reformar a Universidade. Querem ser livres.
Novos esclarecimentosPessoa que hontem à noite chegou a Lisboa, vinda de Coimbra, teve a amabilidade de dizer que os acontecimentos ali ocorridos revestiram bastante importância, tendo sido disparados tiros de revolver sobre os retratos de D. Carlos e D. Manuel, ficando muito danificados, especialmente o primeiro.
Rebentaram duas bombas, uma nas retretes, e outra nos Gerais, mas sem consequências »

Mudanças ocorriam também na Escola do Exército, o “mais importante” estabelecimento de instrucção do exército, agora com um novo comandante o General de Divisão José Estevam de Morais Sarmento, um “ilustre escriptor militar” que no discurso aos “lentes , instructores e mais oficiais” não prometeu reformas mas prosseguir a “acção inteligente aqui desenvolvida pelos meus antecessores”, incluindo uma “acção educativa…eficaz” (uniforme e harmónica), que se pautará pelo “pensamento, em parte comum à cultura primária e média, de desenvolver e consolidar o valor energético da mocidade pelo processo integral, executor da aspiração moderna, que consiste em formar homens phisicamente robustos, intellectualmente cultos e moralmente saios e profissionalmente aptos para as lutas da vida”.
O “Diário Mundano”, dá nota do movimento diplomático, da gente em “viagens e villegiaturas” e dos “consórcios” recentes de gente mais ou menos ilustre, pelo menos na terra, dando referências sobre os nubentes, os progenitores, o “copo de água” e a casa que o forneceu, e mesmo sobre as prendas depositadas na “corbeille” pelos convidados.
Mas assunto de interesse social era a tensão entre a “Associação de Lojistas” e a Companhia de Panificação Lisbonense, devido ao problema do “pão” , isto porque a Associação “representou” ao governo “contra a lei do limite das padarias em nome do benefícios dos consumidores” ou seja, “contra o monopólio do pão”. A Companhia de Panificação Lisbonense procurou refutar, em texto extenso, a solicitação "menos ponderada" da associação.
HAF

10943ºDia

Outubro, 17
I
Dia Branco….
II
17 de Outubro de 1910. Segunda Feira (DN). As duas primeiras páginas centradas em “Uma grande apotheose. Os funerais do Dr. Bombarda e Vice-Almirante [Carlos] Cândido dos Reis”: a organização do cortejo, a saída dos funerais, Do Terreiro do Paço ao Largo Camões – O cortejo na Avenida da Liberdade, com milhares de associações representadas e com “os carros fúnebres cercados por um trogo de 300 carbonários”, na Rotunda da Avenida , o “desfil por diante dos catafalcos”, os discursos no pavilhão da Rotunda [ Presidente da Câmara, Governador Civil de Lisboa e Ministro do Interior e o da Marinha, etc.] , as primeiras homenagens fúnebres, a caminho do cemitério, no Alto de S. João, discursos à beira da sepultura, e as últimas salvas . Um funeral de estado e uma “manifestação…uma grande consagração que o povo [“tamanha aglomeração de pessoas de todas as classes sociais”], o exército e a marinha efectuaram não somente à memória de dois homens que morreram cheios de prestígio, mas, também, do regímen acabado de implantar”. As duas personalidades, assim como a de Hellidoro Salgado , mereceram “sessão solene de homenagem” no 2ª Congresso do Livre Pensamento. Tudo isto ocorrera a 16 de Novembro. No dia 17 de Outubro tudo podia ser revisto no “Salão Central”, numa Fita da Casa Lusa Film.
O jornal noticia ainda a morte do Conde de Valenças de que apresenta uma interessante nota biográfica sobre este Lente da Universidade de Coimbra “aos 23 anos” que acabou por abraçar a carreira política (governo municipal, civil, deputado e par do reino) deixando o perfil de um homem “espírito liberal, feito na escola de A. Joaquim de Aguiar “ , que foi “ministro plenipotenciário em Viena de Austria, membro da Academia Real das Sciencias, grande proprietário, lavrador, escriptor, orador, parlamentar, … philantropo (albergues nocturnos lisboetas) e patrono de artistas. Deixou vários escritos, incluindo o ““livro azul” de memórias da sua vida” e foi um dos proprietários do Diário Popular. Foi ainda um dos fundadores da Sociedade Literária “Almeida Garrett” e primeiro presidente.
Um cidadão francês (Coel) decidiu enviar para o jornal “La Portugaise. Hymne national portugais” :
“De forts marins, noble race
Pays vaillant et san égal,
Reléve encore, par son audace
L`explendour du Portugal
Etc…
Enquanto no Porto, por iniciativa da Associação de Classe dos Empregados do Comércio , a que se juntaram muitas outras associações voluntárias, e milhares de pessoas, se realizou uma “romagem ao monumento dos vencidos de 31 de Janeiro”, mais a norte, em Valença, “um jesuíta” estava metido “maus lençois” e andava “em bolandas” por o “governo de Hespanha não receber jesuítas estrangeiros” e em Oliveira do Douro (Gaia) “centenares de parochianos” corriam com o pároco “por desintelligencias antigas motivadas pelo imposto do alquweire, como tributo dos direitos parochiais”. Segundo a nota “durante o caminho deram vivas à República e gritos abaixo à reacção”
HAF

domingo, outubro 17

10942º Dia

I
Regresso a casa….depois de atravessar a imprevisível fronteira do “4 de Fevereiro”.
II
16 de Outubro de 1910. Domingo (DN). Na “Chronica Financeira” analisou-se o impacto da “Revolução Portugueza” e acontecimentos sequentes nos” mercados” , em particular no mercado internacional, considerando-se que não casaram “sensível abalo” , pois como referiram alguns jornais internacionais da especialidade (“Moniteur d`Intéréts Matériels” e o “Economiste Européen”) havia “a provisão do acontecimento em todos os centros financeiros bem infomados”
O Governo Provisório, numa acção “pelo trabalho”, “publicou este semana uma carta de lei, reduzindo a 5 o número dos feriados civis e religiosos que enfestavam o paiz…Nada menos que 26 dias, além dos 52 domingos de repouso normal eram consagrados pelo antigo regímen em honra e louvor da D. Mandria!!” e o Ministro do Interior nomeou uma comissão “gratuita” para apresentar ao governo o projecto de bandeira nacional.
Prosseguia naturalmente a campanha de subscrição “a favor das vítimas sobreviventes da mudança de regímen” , enquanto prossegue o encerramento de seminários e casas religiosas.
Foi tornada pública a carta que a 9 de Outubro, o Reitor Dr. Alexandre Cabral, depois de apresentar o pedido de demissão, dirigiu ao seu substituto (Dr. Costa Allemão) « Tendo pedido a exoneração do cargo do cargo de Reitor da Universidade de que tomei posse a 16 de Março de 1908, venho apresentar a v. exª – rogando-lhe a fineza de transmitil-os a todos os ilustres lentes da faculdade de medicina que v. exª tão distintamente dirige – os meus cumprimentos de despedida e protestos de elevada consideração, significando também o meu reconhecimento pelas attenções pessoais que todos me dispensaram.
No exercício d`esse cargo de tantas responsabilidades tão superior aos meus modestos recursos encontrei sempre da parte de V. Exª e dos seus colegas a mais carinhosa deferência e a cooperação mais dedicada e valiosa. Por isso me separo com Saudade da Universidade , á qual me ligavam recordações queridas da juventude e agora me ficam prendendo sentimentos de alto respeito pela capacidade scientífica e pedagógica do seu ilutre corpo docente.
Faço e farei sempre os mais sinceros votos pelas prosperidades d`essa distincta corporação e pelos progressos do nosso primeiro instituto de ensino.
Deus Guarde V. Exª. Ancede, 9 de Outubro de 1010.
Illmo e Exmo Sr lente de prima-decano da Faculdade de Medicina.
Alexandre Ferreira Cabral Paes de Amaral” »
Mas o facto do dia eram os “autos dos funerais” do Dr. Miguel Bombarda e Vice-Almirante Cândido dos Reis, que ocuparão a página do DN no dia seguinte.
HAF

sexta-feira, outubro 15

10941º Dia

Outubro,15
I
08,00-12,00: Jornadas Científicas e Pedagógicas do ISCED
17,00-21,00: Aula / Historiografia Africana e Angolana II. Discussão em torno das teses de Fernando Pimenta e Marisa Moorman
II
15 de Outubro de 1910. Sábado. (DN) O editorial do dia - Chronica Militar – , assinado por P.de A., foi dedicado a “O Movimento Militar e a proclamação da República” : “[…] As madrugadas de 3 e 5 de Outubro , marcando em cada anno o aniversário do movimento militar secundado poderosamente pelo elemento civil de maior consideração e valor no paiz, , e que determinou a mudança das instituições pela proclamação da República portugueza, são vasto manancial onde o historiador austero e imparcial há de colher os elementos indispensáveis e suficientes para perpetuar a memória dos heroicos esforços d`um povo…. […] “ e , mais adiante, passou às causas do Movimento: “ Os erros sucessivamente acumulados d`uma péssima administração pública produziram necessariamente os seus fructos. Contractos ruinosos, complicações internacionais; a prodigalidade na distribuição de benesses aos privilegiados do throno e do altar; o menosprezo pela educação e a instrucção popular; a indiferença pelo desenvolvimento de todas as forças vivas do paiz; e, sobre tudo isto, a opressão exercida por vezes descarcavelmente sobre uma população por sua índole ordeira, pacífica e sofredora, pelos agentes encarregados de manterem a ordem e a polícia das ruas, todas estas circunstâncias, além de atacarem a dignidade nacional e serem a negação absoluta dos princípios liberais do paiz[..]. crearam-nos o descrédito geral perante o mundo […]. É no aspecto geral do paiz e na inquietação do espírito individual sinceramente patriótico que vamos encontrar a origem do movimento militar […]. A narração da luta travada durante dezanove horas […] está feita. A sua verdadeira analyse , a sua história pormenorizada , virá a seu tempo; pois ainda é demasiado cedo para com toda a tranquilidade emmitir opinões decisivas […]. Por esse mesmo motivo, comprehende-se também a nossa abstenção na analyse profissional d`este movimento.“ [Ao ler estas linhas ocorreu-me o que ouvi nos últimos dias na TV pública a propósito das comemorações do centenário]
No plano político informações do governo revelam a intenção de organizar uma conferência para discutir as mudanças na administração colonial , enquanto o Presidente da Câmara de Luanda (Marques Ribeiro) é recebido pelo Ministro da Marinha trazendo na agenda o nome do substituto para o lugar de “chefe de estado maior de Luanda”, que foi aceite, e a “questão dos serviçaes, pedindo insistentemente que sejam eliminados os lugares de agentes contratadores, pois teem sido estes os causadores da campanha sobre a escravatura, campanha que o seu proceder justificava” ; “fazer uma reforma profunda da Universidade de Coimbra e os “systemas de ensino em outras escolas superiores”.
A Revolução continua na agenda do jornal e , desta vez, a nota mais interessante está na transcrição parcial [numa cortesia do “Imparcial”] da “entrevista com o capitão Sá Cardoso” , “comandante da coluna da Avenida”
.HAF

10940º Dia

Outubro, 14
I
08,00-12,00: Jornadas Científicas e Pedagógicas do ISCED
14,30-16,00: Vencendo a burocracia local….
17,00-21,00: Aula / Historiografia Africana e Angolana I- Colonização e do Colonialismo como objecto historiográfico.
II
14 de Outubro de 1910. Sexta- Feira. (DN) Abre com um editorial dedicado “À Invasão Franceza e a dinastia de Bragança”, uma dinastia com 270 anos no trono português, iniciada com uma “conjuração de fidalgos” e destituída por uma “revolução popular”.
Do Conselho de Ministros resulta a preparação de um decreto relativo à organização do país “ e assentou-se em prover enérgica e urgentemente às necessidades da educação nacional”. Entretanto exoneram-se os inspectores escolares das “três zonas escolares de Lisboa” e alguns governadores do Ultramar (S. Tomé e Príncipe e Timor) . A folha oficial publica ainda decreto que recoloca em vigor o Código Administrativo de 1878, que vigorará enquanto não se elaborar um novo código republicano.
Noticiam-se de novo os “Derradeiros momentos da monarquia” e a celebração entre os republicanos e socialistas espanhóis. Nos meios operários, diversas assembleias analisam a crise de trabalho e indicam os representantes participação nos actos fúnebres de Miguel Bombarda e Cândido dos Reis
No 2º Congresso do Livre Pensamento, a correr na Caixa Económica Operária, a sessão do dia anterior foi presidida pelo Presidente do Governo Provisório , cuja intervenção se centrou “largamente [na] queda do antigo regímen “, D. Rodrigo Soriano discursou em nome dos republicanos espanhóis, e o “Sr. Botto Machado reclama o indulto para a prisioneira Emília da Piedade e o sr Agostinho Fortes define a sua atitude”.
Noticia-se a reunião dos “Bacharéis Republicanos” ou dos Bacharéis que assinaram o manifesto republicano académico em Coimbra em 1906, quando estudantes em Coimbra assinaram o manifesto de protesto contra a expulsão do Parlamento dos Deputados Republicanos (Afonso Costa e Alexandre Braga) e que em 1907 mantiveram-se firmes na greve académica de solidariedade com os estudantes expulsos pelo foro universitário.
A reunião que decorreu num escritório de advogados em Lisboa sob a presidência de Antonio Cantola - advogado em Vila Nova de Fozcôa, “ e que era o presidente da assembleia geral académica permanente” quando da greve de 1907 -, e foi secretariada por Trindade Coelho e Maurício Costa, e nela “foi resolvido”:
1º - Reclamar do Ministério do Interior a imediata reintegração do lente de Filosofia Dr. Bernardino Machado e abolição do foro académico “como principio das reformas do Ensino Universitário, segundo as bases da sua representação ao Parlamento , apresentada em 1907”
2ª – “Lembrar ao mesmo Ministro, para o cargo de Director da Universidade de Coimbra, o nome ilustre do Sr. Dr. Sidónio Paes”
3ª – “Nomear para o estudo e organização e uma nova e progressiva associação os advogados, uma comissão dos bachareis assistentes que fica composta pelos Srs Drs Carlos Olavo, Maurício Costa, Trindade Coelho, campos Lima e Alberto Xavier. “
HAF

10939º Dia

Outubro,13
I
05,00… o atribulado regresso de MFN
08,00-11,00: ISCED. O acesso ao Pass_Ang.
11,00-17,00. Preparação da conferência
17,00-21,00: Conferência na UEA: 30 anos de carreira (Trajecto profissional como Historiador Académico) II
13 de Outubro de 1910. Quinta-Feira.(DN). Dia de “Chronica Agrícola” , assinada por D. Luiz de Castro , que abriu com um “Trabalhemos!” e prosseguiu com uma nota sobre a “Exposição Universal de Bruxelas” e os seus 72 congressos para destacar os que “interessam a população agrícola”, a saber: o da educação familiar , o das associações agrícolas e o da demografia rural.
No plano politico refere-se a agenda do Conselho de Ministros, a presença em Londres de emissários do Partido Republicano a questão da bandeira nacional (debate em torno da proposta de Santos Ferreira) , “o que diz a imprensa estrangeira” , o “êxodo dos religiosos” e a questão eclesiástica , com títulos como “procurando os Jesuítas”, o destino londrino da família Real , as homenagem em Évora à bandeira republicana, a agenda da reunião das associações [ Alunos do Liceu Passos Manuel, Academia das Ciências, Congresso Livre Pensamento, Estudantes Militares, União dos Pintores, Oficiais de Barbeiros, Bacharéis que assinaram o manifesto republicano académico em Coimbra em 1906, Comissão do Monumento José Fontana, Maleiros e Caixoteiros, Operários das Obras Públicas, Compositores Typográficos e A Alegria dos Operários] . Na “Vida Operária” , começou de novo a agitar-se a “questão corticeira”, os compositores typográficos estavam preocupados com o encerramento de vários jornais e entre os operários carruageiros existia a expectativa que o novo governo também se preocupasse com os “pequeninos”, pois também eles “expuseram o seu peito à metralha”.
Mas merece aqui particular destaque uma nota breve sobre a entrevista do chefe do governo, Dr. Teófilo Braga , ao jornal “O Imparcial”: “Perguntei-lhe qual seria a forma de eleição dessa Assembleia [popular] respondendo-me elle que seria por sufrágio universal , acrescentando que não via razão para serem excluídas do voto as mulheres , quando forem proprietárias e interessadas na colectividade nacional. A essa Assembleia competirá approvar ou censurar os actos do presente governo. Depois elogiou alguns grandes industriais e banqueiros , por terem oferecido importantes quantias para despezas do Estado e obras de Caridade, e á imprensa republicana, pela brilhante propagando dos últimos tempos”.
HAF

10938º Dia

Outubro,12
I
08,00-12,00: Leituras várias
14,00-17,00: Preparação de aulas
17,00-19,00: ISCED
19,00-21.00: Reunião com PC
II
12 de Outubro de 1910. Quarta-Feira.(DN). De “A República Portuguesa” o destaque é a “Normalidade” , a campanha (subscrição nacional) a favor das vítimas sobreviventes da mudança de regímen” e publica-se a proposta de bandeira nacional segundo o projecto do major Santos Ferreira.
O “Salão da Trindade” prosseguiu com “A Revolução Cinematographada” no que foi acompanhado pelo Salão Central onde se fazia a segunda apresentação da fita “Proclamação da República em Lisboa” . Tratava-se em ambos os casos de uma fita “animatographica “, apresentada pela “Empreza Cinematográphica Ideal”, na qual “assiste o público a muitas phases da revolução e vê aspectos vários da Rotunda, quartel dos Marinheiros e de artilharia 1, effeitos dos bombardeamentos nas Necessidades e outros pontos, etc, etc…” , sendo a “única fita animatographica obtida durante o combate o que demonstra a coragem do operador”. No Campo Pequeno , a empresa da praça colocou em cartaz uma “Tourada em homenagem à República .
A questão clerical continua na agenda, com noticias de padres e freiras a serem enviados para as suas terras e com o caso do Colégio de Campolide, onde , no dia anterior, tinham ocorrido “tiros misteriosos” com militares e populares feridos , e um assalto. A notícia está ilustrada com uma gravura do colégio , outra dos revoltosos e outra ainda do “corpo docente”.
Já agora, prossegue o DN a publicação em Folhetim de “O Príncipe e o Pobre” de Mark Twain. Já no nº 40
HAF

10937º Dia

Outubro, 11
I
10,00-12.00: Reunião ISCED
17,00-21.00: Seminário EH
II
11 de Outubro de 1910. Terça Feira. (DN) “A Bandeira Nacional”, um dos inevitáveis símbolos do novo regime, não podia deixar de ser de emergir no espaço de comunicação nacional. O DN convidou o Major Santos Ferreira, “autoridade na matéria” a abrir o debate: “como deve ser a bandeira da República? Deve continuar a ser azul e branca ou passar ás cores verde e encarnada da revolução gloriosa de 5 de Outubro? […] Voto pela conservação do azul e branco e vou dar as razões do meu voto. Em primeiro lugar, a bandeira azul e branca não é, de maneira alguma, a bandeira da monarchia, como muita boa gente suppõe;” antes era a bandeira que representava a “reivindicação democrática” desde 1820 e o “trabalho patriótico de três gerações de trabalhadores infatigáveis” cujo resultado foi o 5 de Outubro representado no verde e vermelho.
A primeira página inclui duas notas da imprensa internacional . Numa , para realçar uma entrevista da “Mademoiselle [Gaby] Deslys” , uma jovem actriz francesa, supostamente “favorita” do rei deposto que declarou ser o monarca “um bom rapaz” e não ser ela motivo de gastos excessivos por parte do seu jovem admirador: “Não é verdade! DEiz-se que o rei teve, por minha causa, dificuldades de dinheiro! É falso, Os presentes que me deu não pesariam mesmo no orçamento d`um simples particular.!... Tenha a minha profissão”[ Journal “La Dépéche”, Toulouse] . A segunda nota refere um extenso telegrama do jornal “Matin”, assinado por Jules Hedeman , que abordou o problema anti-clericalismo “que se manifesta de uma forma tão intensa em Portugal “ para acentuar que “não é um producto directo da revolução existente” pois “ manifestou-se muito nitidamente várias vezes e durante muito tempo antes da revolução”, um tópico que desenvolve. O jornalista refere ainda ter “conversado novamente com vários membros do governo provisório. Os republicanos não teem nenhuma ilusão Se a reacção não dá hoje signal de vida, sabem muito bem que não morre, não se desarmará nunca. Procurará primeiro semear discórdias entre os próprios republicanos … indivíduos e depois entre grupos. Assim , pois, é perfeitamente lógico que o governo affaste de Portugal os jesuítas e outras ordens que considera como os seus adversários dos mais influentes e dos mais perigosos”.
Nos meios sociais , dá-se por encerrada a “época balnear” (na F.Foz), atenta-se na moda parisiense para o inverno, e algumas classes movimentam-se a favor da melhor regulação do “descanso semanal” e surgem os primeiros sinais de mobilização dos estudantes do ensino superior. Obviamente a revolução ainda tem um grande espaço de informação (“mais informações relativas ao novo regímen”) e o testemunho de alguns dos intervenientes ( “O que conta um revolucionário” , Manuel Ambrozio de Sousa) . O entretenimento comercial adere à revolução e o “Salão da Trindade” abre-se a um “grandiozo espectáculo dedicado á Marinha, Exército e Povo com a apresentação da sensacional fita d`actualidade «Proclamação da República em Lisboa»”
Das Colónias, em particular do “Sul de Angola” chega a noticia da captura de um grupo de sargentos que desertara meses antes para os Cuanhamas.
HAF

terça-feira, outubro 12

10936º Dia

Outubro,10
I
Dia (quase) branco.
Visita pedestre à cidade de Luanda (Forum, Salvador Correia, Largo Amilcar Cabral, Mutamba, Av. 4 de Fevereiro ( vedada a vista para a Baía de Luanda) , Largo Lainha Ginga e Largo Lumege com visita a uma exposição sobre actividades de preservação do património (U.Lusíada) . Depois, já na companhia de amigos de longa data e que há muito não via, seguimos para os lados da Corimba….
II
A “vaga” religiosa que mobiliza a sociedade luandense (angolana?) é impressionante. Exemplo disso é a dimensão do templo e a enorme mobilização de crentes por parte da igreja do Reino de Deus, aqui em Alvalade. Mesmo para o passeante…é visível o trabalho social destas organizações.
II
10 de Outubro de 1910. Segunda Feira. O “Dia de Hontem”, “pôde-se dizer-se ter sido um verdadeiro festivo domingo de enthusiasmo e de ordem e de expansão popular.” Descrevem-se as homenagens populares e políticas aos “heroes” da Rotunda e o Ministro dos Negócios Estrangeiros aproveitou a oportunidade para salientar em caloroso discurso que “A República não é só para os republicanos mas para todos os portugueses”.
Corria já uma “subscrição nacional […] a favor das vítimas sobreviventes da mudança de regímen” e destacava-se a generosa contribuição de Francisco de Almeida Grandella (dos Armazéns Grandella), personalidade que ao arrojo empresarial, à filantropia (dedicação à causa da “instrucção popular”) e ao republicanismo juntava uma forte “generosidade”: oferta ao governo da República das escolas que fundou em diversas localidades do país; “a garantia de toda a sua fortuna particular e commercial…prestada a algum empréstimo que o governo precise de levantar no estrangeiro; a verba de um conto de reis oferecida…a favor das famílias das vítimas da revolução.”
No dia sai na folha oficial o decreto da expulsão das congregações religiosas “e da Companhia de Jesus”, e enquanto da Família Real chegavam notícias do seu acolhimento na possessão britânica de Gibraltar e é anunciada a fuga do antigo governante monárquico João Franco - “que fugiu em automóvel, com uma bandeira republicana. Devido a este estratagema conseguiu atravessar Portugal e entrar em Hespanha” – que, chegado a Salamanca deu uma entrevista onde declarou que “ o movimento revolucionário se deve à fraqueza do último ministério monarchico”. Simultaneamente na imprensa internacional insinua-se a excessiva passividade do último ministério monárquico, liderado por Teixeira de Sousa, perante as conhecidas (pelo chefe do governo) manobras revolucionárias republicanas e refere-se mesmo uma eventual aproximação política por parte do chefe do governo deposto ( “Germania”, Berlim).
A Revolução Republicana recolhe cada vez mais análises na imprensa internacional. Em França, o “La Lanterne”, republicano que “mantem as tradições da revolução francesa”, desejou “uma longa vida à República Portuguesa” e nisso foi seguido pelo “Le Radical”, “La Petite Republique” , “ L`Aurore”e outros. Para o “L´Humanité” “todos os poderes da Europa, monarchias em todos os graus e republicas mais ou menos burguezas, farão bem meditando nos acontecimentos que se multiplicam. O espaço de tempo que tem diante d`elles é talvez mais curto do que se imagina”. Os vaticionios não eram optimistas. Para a ” New Free Press” (Austria) a republica portuguesa provavelmente evoluiria no sentido das repúblicas da América do Sul, “com guerras civis e lutas pela presidência”, enquanto o “Times” (Londres) sugeria que os republicanos tinham uma base de apoio reduzida a uma parte da população urbana e que se o Rei “pudesse reunir em volta d`elle o seu povo fiel dos campos e os regimentos que se lhe conservam fieis poder-se-ia ver que Lisboa não é Portugal e que o reino, em summa, ainda é fiel ao seu Rei….”.
No país, e de “Fora de Lisboa”, são mais extensas as “informações relativas (ao acolhimento) do novo regime: Arrentela, Portalegre, Vila Real, Caldas da Rainha, Pinhel, Soure , etc… Mais uma vez uma extensa notícia sobre Évora onde o 5 de Outubro em Évora, que reuniu uma massa popular de “mais de 4 mil pessoas”.
A mudança de regime foi uma razão adicional para se manter a organização do Congresso Nacional do Livre Pensamento, agendado para 13 a 16 de Outubro de 1910 e que , nos termos do programa-regulamento, “é constituído pelos representantes de todas as associações e outras colectividades, sejam …grémios excursionistas civis, instituições maçónicas, associações de classe, cooperativas, corporações de estudo e ensino escolar, centros políticos, instituições de propaganda, imprensa , etc….”. Nele, além de algumas homenagens a individualidades (Francisco Ferrer y Guardia; Heliodoro Salgado ) , o debate centrar-se-á em três teses: “Separação das egrejas e do Estado” , as “Instituições familiares”, “Capitalismo e Livre Pensamento” [ “ o homem moderno orientado pela educação racional deve preparar a sociedade nova baseada na libertação do espírito, na justiça social e na emancipação económica”].
Da sociedade colonial portuguesa destacava-se a regulação do pagamento “imposto da cubata” em Angola, onde o Governador Geral determinou que o pagamento do referido imposto em gado só será aceite onde não puder ser pago em Borracha, Algodão, Café, Cera, Coconote, gomma copal e moeda portuguesa. […] Os administradores dos concelhos e de circunscripções e seus delegados, capitães-mores ou comandantes militares e os comandantes de postos envidarão todos os seus esforços no sentido de induzirem o gentio soa a sua jurisdição a porfilharem a cultura do algodão ou das plantas da borracha, fornecendo-lhes gratuitamente as sementes , procurando ensinar a substituição de alguns instrumentos agrícolas gentílicos por outros aperfeiçoados, iniciando-o nos processos práticos da cultura d`aquellas duas espécies de culturas (…)” [“Assumptos Coloniais”]
HAF
[posted 12/10/2010]

10935º Dia

Outubro, 09
I
05.00-11,00: Para os lados da Corimba, a Praia D. Maria (mercado do Peixe) , Praça 1ª de Maio (Praça ou mercado). Uma parte do caminho na companhia de um lado angolano dos Rosados de Carvalho.
17,00-24,00: Um jantar de “homenagem” por parte de uma sobrinha “adoptiva” que reuniu vários amigos, entre os quais o CRC, em volta de uma grelhado de umas belas garopas, fiejão com óleo de palma e outros petiscos locais.
11,00-13,00: Correspondência
II
9 de Outubro de 1910. Domingo. A “Chronica Financeira” centrou-se “Na primeira semana da República”, o editor faz o balanço dos “dezassete annos… de chronistas financeiros do Diário de Noticias” período no qual “alguns elementos coligimos e registámos para a história da política financeira e económica do período do final da Monarchia Portugueza”. Afirmando a preocupação de “narrar os factos com imparcialidade ”, e não pesar “na consciência ter sido optimistas…muitas vezes, frisamos os erros , os vícios e as velharias do regime e apontamos alguns remédios para elles”: “falta de economia na administração”, da “assiduidade no trabalho”, e de “disciplina nos serviços públicos”, causa principal do mal estar desde 1891. E o tema é desenvolvido….
Enquanto se tornava bem visível a dança das “Exonerações e Nomeações” , o Major (ou Capitão?) Paiva Couceiro, um dos heróis africanistas, que esteve do outro lado da barricada entre 3 e 5 de Outubro, apresentara-se no dia anterior ao Ministro da Guerra, declarou reconhecer o governo da República mas pediu de imediato a sua demissão de oficial do exército português. E começou aqui um trajecto anti-sistémico, tornando-se um dos líderes da “reacção” monárquica. Outros seguiram-lhe pelo menos o primeiro passo.
O Convento de Quelhas, e os acontecimentos ( combates ) em que esteve envolvido nos dias anteriores, é objecto de uma análise mais detalhada: “pela busca de hontem não foram encontrados padres- uma descripção do convento – o regulamento interno do convento “. O assunto envolve ainda os conventos de Trinas, dos Marianos, Francesinhas, Paulistas e Estrela e ainda a Igreja de Santo António da Sé.
Entretanto no plano externo, o “reconhecimento oficial” do novo regime era limitado. Seja como for o Ministro do Brasil em Lisboa recebeu instruções , no dia 8, para “manter relações com o governo provisório de Portugal e a informál-o de que o reconhecimento do novo governo, pelo Brasil, será feito quando possamos saber que a nova forma do governo tem o appoio da maioria do povo portuguez”.
O Decreto da amnistia permitia “dar liberdade… e autorizar o regresso ao país” de vários portugueses condenados a cumprir penas de degredo nas colónias, enquanto se preparava o “Decreto do formulário” que alterou as formas de tratamento à principais figuras do Estado.
Ao jornal chegavam “mais informações relativas (ao acolhimento do) novo regimen nas províncias” , sendo particular extensas as que chegaram do Porto e de Évora” e da imprensa internacional (britânica) colhiam-se “opiniões…sobre a República Portuguesa. Por exemplo, para o Daily Mail, “a questão essencial no futuro é a sorte do império colonial de Portugal”
HAF
[posted 12/10/2010]

10934º Dia

Outubro, 08
I
09,00-12,20: Biografias
12,30-13,30: ISCED-Forum ( a pé e sem calor: 15 minutos)
14,00-15,00: finalmente acesso ao e-mail……
17,30-21,00: Seminário MESHAA
II
8 de Outubro de 1910. Sábado. Numa cidade onde se podia presenciar “ a tranquilidade da população , a confiança do comércio que desassombradamente reabriu as suas portas [a sete de Outubro, conduta merecedora de um forte aplauso da Associação de Lojistas] e a normalidade do trabalho …nos diversos ramos da actividade humana. Lisboa mostrava-se-nos alegre e despreocupada…, mas durante a tarde e noite os padres dos Conventos de Quelhas e da Estrela, depois d alguns incidentes, fizeram “nutrido fogo e arremess(o de) bombas sobre a tropa” que se defendeu “energicamente”. “Fora de Lisboa” as primeiras informações sobre a Revolução em Évora onde “desde a noite do dia 3 que, depois do último combóio ali chegar, começaram a circular os mais desencontrados boatos sobre o que sucederia na capital ficando os espíritos das pessoas mais sobressaltados quando foi interrompida a transmissão de telegramas particulares e a população soube estar paralysado o serviço de comboios para além de Pinhal Novo[….], tendo voltado para traz passageiros e malas de correio. . Os boatos mais correntes foram desde logo que se tratava de um movimento revolucionário. A ordem pública não foi alterada”.
Noticia-se finalmente a morte do Vice-Almirante Cândido dos Reis, “encontrado morto em Arroyos no dia da revolta”. Tratou-se, como se sabe, de suicídio. na madrugada de 4 para 5 de outubro, convencido da derrota das forças republicanas.
No plano da “politics” aguarda-se que que “serão brevemente decretados” o Registo Civil obrigatório e a liberdade de Culto. Em entrevista ao NY Times, o Ministro da Justiça e Negócios Eclesiásticos , Dr. Afonso Costa, anunciou a orientação do governo : “ A politica do governo provisório será tanto quanto possível a realizaçáo, com tendências progressivas, do partido republicano portuguez. Instrução pública largamente difundida; defeza nacional marítima e terrestre assegurada; administração colonial descentralziada; autonomia do poder judicial; garantia completada de todas as liberdades essenciais; extinção do Juízo de Instrução Criminal, expulsão dos frades e irmãos de caridade e encerramento das escolas congreganistas; instrução obrigatória; registo civil para nascimentos, casamentos e óbitos; separação da Egreja do Estado”.
Corriam notícias sobre o eminente reconhecimento do novo regime por parte da Inglaterra. A Revolução atraíra uma série de jornalistas dos mais importantes jornais : Daily Mail, Matin, A.B.C., Le Petit Journal, Le Journal, Echo de Paris, Figaro, Daily News. Na imprensa inglesa a revolução portuguesa era vista como uma escolha dos portugueses. Apesar das eventuais simpatias inglesas pela monarqui “cada nação tem o direito d`arranjar os seus negócios domésticos como entende” (Times e ainda Daily Telegraph)
No plano cultural o destaque foi para a edição de “O Movimento Operário em Portugal”, da autoria de Campos Lima, em edição da Guimarães e Cª , e para a edição da “oração se Sapiência” de Lourenço Cayolla na Escola Colonial.
No plano social , além da “crise de trabalho em Serpa” (trabalhadores rurais) foram motivo de notícia alargada os festejos “planeados pelo Senhor António José Sebastião , comerciante….”, nas minas de S. Domingos e no dia 2 de Outubro em celebração do centenário da vitória no Buçaco , uma celebração em que participou também a comunidade britânica ali residente. As praias e termas continuam a atrair gente e detsa vez o ênfase é dado à Praia da Torreira: “a animação que dia a dia mais se vai desenvolvendo n`esta formosa praia é prova bem frizante de que ella é preferida a outras praias de luxo do norte do Paiz.”. Nela a afluência dos banhistas “continua a ser extraordinária” e nos finais de Setembro foi nela “aberta… A “Assembleia Theatro” um dos melhores salões que temos visto em casas d`este género. “
E na “Carta da Inglaterra” o foco é o debate político “concentrado na questão da gratuidade das funções legislativas , em virtude d`uma decisão declarando ilegal a contribuição que os syndicatos operários cobrem dos seus adherentes para pagar aos seus representantes na Câmara dos Communs, pois as funções legislativas na Inglaterra são gratuitas. “
HAF
[posted 12/10/2010]

10933º Dia

Outubro, 07
I
10,00-12,00: Reunião com DG.ISCED
14,30-15.30: Visita de PC - GH
17,30-21,00: Seminário MESHAA
II
Chegam através da RTP Internacional notícias da U. Évora. Mais uma vez pelas piores razões: as praxes académicas. E este ano uma novidade expressiva : docentes pelos corredores a fazerem visitas guiadas aos alunos. As visões pequenas da universidade fazem a Universidade pequena. São sempre comoventes as políticas de acolhimento “familiar”. Assim seremos, mas só se quisermos.
III
Mudança no Governo de Angola. Tomam posse novos ministros e altos funcionários, na sequência de um processo político que envolveu uma operação de rapto de um cidadão (angolano e português) , empresário, que se encontrava de passagem (?) por S. Tomé. Mas o mais importante nas mudanças ocorridas na liderança da sociedade angolana foi a tomada de posse de Geraldo Sachipengo Nunda como Chefe de Estado Maior das Forças Armadas . Um facto da maior relevância simbólica.
IV
7 de Outubro de 1910. Sexta Feira. “A República Portuguesas” , os restantes ministros ( Fazenda , Guerra e Marinha) e de novo o “Dr. Eusebio Leão”, agora com direito a retrato e uma nota biográfica, que realça o “acerto da escolha” deste “homem de sciência” (médico) e “democrata sincero” para Governador Civil de Lisboa. Acrescentaram-se mais detalhes sobre a “Partida da família real – O embarque na Ericeira “ (5 de outubro) e a saida do Tejo do “Presidente eleito do Brasil” (6 de Outubro) com um acto oficial que permitiu ao Presidente indagar sobre o “paradeiro” do Monarca.
Na rua a “Associação de Classe dos Condutores e Guarda-Freio… enviou à direcção da Companhia dos Eléctricos um memorial pedindo oito horas de trabalho” que aceitou a proposta, facto que suscitou “uma grande manifestação do pessoal dos eléctricos”. Enquanto isso os “Padres da Escola Colonial Agrícola de Cintra pedem auxílio às autoridades” porque “julgavam que iam ser atacados”. Das “Mais informações relativas à mudança de regime” destacam-se as de “Fóra de Lisboa”: Setúbal , com uma longa descrição das “grandes massas” que aclamaram a Republica desde a manhã do dia 5 de Outubro; e “manifestações de regozijo e enthusiasmo “ de muitos outros pontos do país (Cintra, Loures, Alcácer do Sal, Porto, Alcobaça, Almada, Ponta Delgada, Angra ) . O editorial do jornal reafirmava ser a hora de regressar à “Ordem e Trabalho” enquanto a Ribeiro da Costa & Cº (com Depósito Geral na rua do Arsenal , 152, Lisboa) anunciava o fornecimento de “CARNE LÍQUIDA, do Dr. Valdéz Garcia, de Montevideo. Tónico-Nutritivo Iincomparável…[recomendado ] nas convalescenças e na anemia, inappetecnia, debilidade geral, neurasthenia, rachitismo, etc…”
HAF
[posted 12/10/2010]

10932º Dia

Outubro, 06
I
08,00-10.30: Forum-1ºMaio-Sagrada Família- Forum: uma caminhada pela cidade.
10,00-12,00: Reunião com DG ISCED
17,30-21,00: Seminário MESHAA
II
6 de Outubro de 1910, 5ª Feira. O DN deu a primeira página – A República Portuguesa – à narrativa dos “Acontecimentos” do "dia anterior" e à divulgação do elenco do governo provisório recém-empossado, destacando em particular, além do “Dr. Joaquim Theofilo Braga, “Presidente do Ministério sem pasta”, as figuras dos ministros dos negócios estrangeiros (Machado Guimarães), da justiça (Afonso Costa) , do Interior (António José d`Almeida) e Obras Públicas (António Luis Gomes) mereceram retrato. Destacou ainda o “edital” do Dr. Eusébio Leão, o primeiro Governador Civil de Lisboa da era republicana, apelando à “ordem e trabalho” como divisa da “Pátria libertada pela República” e o “respeito pelas pessoas e propriedades dos estrangeiros, respeito pelas pessoas e propriedades dos portuguezes sejam quaes forem as suas classes, profissões e opiniões políticas ou religiosas”. E realçou o Povo, “A cordura do Povo”: “acabadas as scenas sangretas” , “as classes populares….se portaram na sua quase totalidade com urbanidade e cordura. Finalmente, o DN, em editorial n.a. , “Saudação” , afirmou o seu compromisso perante o momento: “ O Diário de Notícias segue invariavelmente o programa posto em acção no seu primeiro número (artigo da escritura social de 1864): “«Não discute política nem sustenta polémica», “«presta culto à liberdade na sua mais elevada expressão»”, « é um jornal de todos para todos; para pobres e ricos de ambos os séculos e de todas as condições e classes». Quer dizer é liberal no sentido mais lato do termo. Acata as instituições e autoridades constituídas» . Procurará seguir como ideal – o bem e a justiça; e ter como meio a honra, a verdade e a honestidade.” . Por isso, “está proclamada a República em Portugal. Acatamos o facto consumado… e saudamos com enthusiasmo o novo regime, pois o Diário de Noticias sempre foi liberal e sempre se conservou ao lado da causa popular. »
De Setúbal, Oeiras, Almada, Torres Vedras e Cascais, chegavam notícias de “as adhesões à República» .
HAF
[posted 12/10/2010]

10931º Dia

Outubro, 05
I
17,30-21,00: Seminário MESHAA
Mais um dia sem acesso à net, no Hotel e no ISCED, e sem electricidade no ISCED. Uma lástima. Na verdade, nunca como desta vez, ficou tão clara a debilidade do trabalho aqui. As sessões lá se fizeram , como tem sido hábito, em salas emprestadas por um instituto médio vizinho, instalado em obra nova chinesa. Desta vez tivemos uma “recepção” invulgar. Alunos e professores do referido instituto estavam a celebrar de forma peculiar o “Dia Mundial do Professor” com “som” e um grande comes e bebes, onde o “bebes” foi mais notório.
II
Com mais tempo no hotel, foi possível deitar olho à RTP Internacional que acompanhou integralmente os festejos do 5 de Outubro em Lisboa. O que vi…..uns pivots mal preparados (um deles não acertou uma vez sequer com a designação da Comissão encarregue das Comemorações…. , o mesmo que viu por ali “História Viva”) , uns historiadores de e ao serviço , um cromo (o “Sr.” Valdemar: “Doutores há muitos….Senhores há pouco”) e Lisboa. Quem viu a coisa a esta distância pode ficar com a ideia de que o centenário foi só Lisboa…[e lembro-me de que há quem tenha escrito que a revolução também] Quando à noite regressei à TV já só apanhei os minutos finais do filme encomendado. Seguiu-se o Trio de Ataque para tratar de escutas telefónicas e eu fui arejar.
III
5 de Outubro de 1910. Quarta –Feira. O DN faz 4 edições centradas nos “Acontecimentos de Hontem” . Tudo parece ter acontecido em Lisboa, pese embora uma “breve” informar que no Barreiro, pela madrugada “depois de os sinos terem tocado a rebate, e o povo viera para a rua soltando vivas subversivos”; e em Almada, desde o meio dia que “foi eleita nos paços do conselho a junta revolucionária” Quem não ficou para ver até fim foi o presidente eleito do Brasil: o Marechal Hermes suspendeu o programa da visita a meio da tarde do dia 4 e embarcou no couraçado S.Paulo , aguardando as condições de segurança para seguir para Cabo Verde. Quem não quis perder pitada da revolução foram os “«reporters»” do DN que tentaram estar em todas, noticiando o andamento dos confrontos, por vezes com “fogo nutrido”, nos diversos pontos da cidade. Os números e listas nominativas de mortos e feridos militares e civis e o movimento de hospitais dão uma ideia da violência dos combates.
Na 4ª edição do jornal, já tarde dentro, anuncia-se “A Proclamação da República”: “Ás 8 horas e meia da manha de hoje, foi proclamada a Republica, sendo içada nos differentes estabelecimentos públicos a bandeira verde e encarnada. O povo dirigiu-se à Câmara dando vivas à República, acompanhado pelas praças da marinha, artilharia e mais regimentos. Às 8,20 as forças que estavam no Rocio, entregaram-se sendo muito victoriadas. Os membros do Directório foram em seguida para a Câmara Municipal onde fizeram a proclamação”. Foi nomeado o governo provisório presidido por Teófilo Braga e o novo governador civil de Lisboa (Dr Euzebio Leão) e o “em toda a cidade há enthusiasmo e algumas bandas regimentais percorrem as ruas tocando a “Portuguesa”. Em suma “os vencedores foram muito victoriados pelo povo e procederam com a máxima urbanidade procurando evitar mais derramamento de sangue”.
Anuncia-se o novo livro do Lente do Instituto de Agricultura de Lisboa (futuro ISA) , D. Luiz de Castro – “Semente Lançada à Terra “- e, com informação do Director do Povoamento do Solo” ( Rio de Janeiro), publica-se ainda a estatística da emigração brasileira para o 1º semestre do ano – 41252 2migrantes e 7365 passageiros – dos quais 13926 portugueses, a quota maior, seguida de perto pelos “hespanhoes”.
HAF
[posted 12/10/2010]

10930º Dia

Outubro, 04
I
08,00-10,00: Preparação Power Point 1º sessão
11,00-13,00: Biografia do Gen J.A.
14,30-17,00: ISCED
18,00-2o,00: Seminário EH.
II

III
4 de Outubro de 1910. Terça –Feira
Com as festas nacionais do Centenário da Batalha do Buçaco (Guerra Peninsular) a terminar era tempo de balanço: “ a importância especial da comemoração […] reside a nosso ver no avigoramento do amor pátrio, , n`uma apreciação sincera e entusiástica do valor da profissão militar e me despertar o espírito cívico das nossas massas populares nos exemplos de dedicação patriótica, preparando-as para a inevitável transformação que está exigindo a organização defensiva do paíz , que não pode dispensar um só braço válido para poder constituir a futura e definitiva organização militar que conduz à nação armada , para a qual devemos convergir voluntariamente todos os cidadãos, animados d`uma verdadeira devoção cívica e d`uma fé inquebrantável pela prosperidade da pátria” [R d`A.]. No “ultramar” preparava-se entretanto a “Comissão do Centenário da Reconquista de Goa” , mas também de enfatizada a construção do caminho de ferro de Malange (Angola) e as dificuldades no “abastecimento de carne verdes em Lourenço Marques” , um problema político (regime proibitivo de importação de carnes)
No plano político, “ O caso das bombas da travessa da Palha” ainda corria – “ não foram só 171 mas 200 e tantas” ; prosseguia a visita do Marechal Hermes da Fonseca e apesar dos esforços que se mobilizavam, o monarca acabava de anunciar o adiamento da visita ao norte do país. A razão eram naturalmente “os acontecimentos de hontem” ou melhor “d`esta madrugada”, o “movimento militar” que por volta da uma da madrugada começou com “tiros nas proximidades de Campolide”. O DN
Mas outro facto mereceu um grande relevo na imprensa e chocou o país: o assassinato , no dia anterior e, do Dr. Miguel Bombarda, professor e médico . O assassino foi “um louco, um official habilitado com um curso superior, tenente de cavalaria com curso do Estado Maior, Aparício Rebelo dos Santos (1878). O acto, “a tiro de pistola Browning” , foi cometido ao final da manhã, à porta do gabinete de M.Bombarda no Hospital de Rilhafolles. A morte chegou às “6 horas e cinco minutos da tarde”. A noticia gerou vários distúrbios e prisões em Lisboa, com agressões a polícias e padres e um “grupo de indivíduos”b tentou ocupar a redacção do jornal “Portugal” . No Porto mobilizou uma “manifestação liberal”, no na Praça de D. Pedro, que foi dispersada pela polícia que cuidou ainda de proteger as instalações e redacção da “ Palavra” e do diário católico “Correio do Norte”, temendo manifestações hostis. “Manifestações de sentimento” e “protesto” foram expressas pela Directório do Partido Republicano, Associação do Registo Civil , Atheneu Comercial, Junta Federal do Livre Pensamento, Grande Ordem Lusitano Unido, “Resp. Loja Irradiação”, “Resp. Loja Liberdade”, “Resp. Loja O Futuro”, “Resp. Loja Liberdade”, e outras chegaram de Santarém e Setúbal. Os jornais fornecem informação biográfica sobre o Miguel Bombarda, nascido do Rio de Janeiro (1861) filho de pais portugueses ai recentemente instalados (1858), enfatizando a sua carreira escolar e profissional , o seu prestigio social como “cidadão e sábio”, e o facto de ter abraçado “abertamente há algum tempo as ideias democráticas [Republicanas] .

A vida social permanecia ainda atenta ao movimento de pessoas e bens nas praias ( Praia da Rocha, Armação de Pera, Sines, Santo Amaro de Oeiras, Caxias, Paços de Arco, Trafaria , Estoril e Cascais, Nazareth, Figueira da Foz e Vila do Conde) e termas (Pedras Salgadas, Caldas da Rainha ) mas já estava galvanizada pelo novos consumos e a imprensa tem descrições detalhadas das “exposições” nos Armazéns Grandella e Grandes Armazéns do Chiado . Alguém, na Rua do Príncipe, estava a organizar uma “Excursão a Madrid a 9 de Outubro” e punha os últimos bilhetes à venda.
O Rocio Palace abriu a época de inverno, apresentando na “primeira soiré de moda” a “Greve dos Operários Metalúrgicos” , um “drama sensacional , cujos episódios tem um desenlace moralizador tanto para os operários como para os patrões [e por isso] não deve pasar despercebido, em nosso entender”. Util também ficar a saber quais os museus abertos em Lisboa (variedade nos dias de visita mas com um horário-norma das 11 às 16 da tarde ): Museu Aduaneiro; Museu Antropológico e Galeria de Geologia (ARC) , Museu de Artilharia, Exposição da Guerra Peninsular ; Museu dos Coches Reais; Museu do Tesouro da Capela de S. João Baptista e o Museu Etnológico Português (Mosteiro dos Jerónimos)
A tensão social reduziu-se com o fim de mais algumas das greves que na semana anterior tinham perturbado o sul do país e a capital mas vários sectores operários estavam mobilizados em reuniões das respectivas associações de classe ( tanoeiros, obras públicas, garrafeiros, manipuladores de tabaco, operários electricistas) enquanto os feirantes reuniam para formar uma associação com vista a “solidariedade e mutualidade de auxílio” a exemplo dos “feirantes hespanhoes e franceses”
De Évora , uma noticia relevante sobre a adopção do horário de 8 horas na Câmara Municipal: “Como os leitores sabem, por nós já lh`o havermos dito, desde o mez de Maio do corrente anno que a câmara municipal d`este concelho estabeleceu o regime das 8 horas de trabalho, não dando tal regime maus resultados antes servido de estímulo para operários e trabalhadores produzirem trabalho correspondente a essas horas e aos salários sem quase necessidade de serem vigiados, visto que comprehendem ser um dever trabalhar desde que tenham compensação no descanso concedido. Amanha começa o novo horário , que vae de Outubro a 30 de Março, ou seja, começa o trabalho de manhã, das 7 às 11 horas, para recomeçar ao meio-dia e largar às 4 horas. O horário tem, como não podia deixar de ser, as suas respectivas instrucções, divididas por 9 artigos, fazendo concessões em, determinados casos e applicando o necessário correctivo aos que não cumpram com os seus deveres”
HAF
[posted 12/10/2010]

10929º Dia

Outubro, 03
I
07,30: Chegada a Luanda com F.Nunes para mais duas semanas de trabalho no Mestrado ESHAA. À nossa espera um Aeroporto com um acolhimento mais amigável e eficiente.
08,30: Hotel Forum.
09,00-10,00: À volta do Bairro de Alvalade… urbanismo colonial, a arquitectura e a construção chinesa, a mobilização das religiões, etc
16,00-18,30: Da travessa de Ho Chi Minh à Avenida Lenine, atravessando o Maculusso ou, para os que apenas conhecem outra referência, do Hotel Alvalade ao Liceu Salvador Correia de Sá, passando pela Igreja da Sagrada Família.
II
Não sei o que leva um ministro a dormir melhor ou pior. Mas já percebi que alguns dormem melhor com o pior para os outros. E isto vêm a propósito do plano “anti-crise” que se pretende seja resolvido com o contributo especial dos funcionários, da classe média e dos pensionistas. A todos eles serão pedidos sacrifícios mais vigorosos em benefício da “pátria". Isto só se percebe se considerarmos que a elite política dominante acha serem estes os segmentos da sociedade portuguesa mais patriotas, além dos pobres claro que são o topo do patriotismo. Noto também que esta visão gradualista penaliza generalizadamente os ricos, obviamente os menos patriotas, aqueles a quem não se pede (ou não convêm mesmo pedir) quase nada. Ora eu estou-me nas tintas para o “patriotismo instrumental” destes políticos. Por isso já recorrente retórica da “hora difícil” e ao “apelo d[estes] políticos”, imprudentes e competentemente mentirosos – o tal vinho de má colheita, está-se a ver -, devemos responder com a desobediência: social, política, civil e fiscal. Se o fizermos, dormiremos todos muito melhor que estes ministros e com a possibilidade de puder mudar, a bem de todos, o “dia seguinte” .
III
3 de Outubro de 1910. Segunda Feira. Para uma parte da cidade de Lisboa a noticia do dia é sem dúvida a “inauguração “ da “Exposição das Novidades para Inverno “ nos Armazéns Grandella , com os seus variados brindes, e a “Abertura de Inverno “ dos Grandes Armazéns do Chiado” (Lisboa, Coimbra e Porto) com a sua esplendorosa nova colecção de chapéus, onde se destacava o Grenville , os ateliers de vestidos, de confecções, de alfaiate e , para os clientes do dia, um” brinde especial”.
Enquanto alguns membros de governo tornavam público a vantagem de D. Manuel II casar com “uma princesa inglesa” para “consolidar a aliança” e se faziam referências às negociações em curso para esse efeito, a aristocracia do norte do país mobiliza-se para a recepção real. Em Murça , no “chalet” do Marquez de Villa Flôr, “estão, de dia e de noute, trabalhando quarenta operários por conta da “«Construtora» do Porto” para a recepção s sua majestade, que parece pernoitará ali na noite de 9 para 10 do corrente mez. [….] O serviço de cozinha virá todo da acreditada confeitaria Oliveira do Porto, assim como o respectivo pessoal”.
Em Lisboa, o Presidente eleito do Brasil (com posse marcada para 16 de Novembro) tinha sido alvo, no dia anterior, de uma “imponente manifestação de sympatia do povo de Lisboa” – “milhares de pessoas de todas as classes sociais” . Antes disso almoçara no Palácio da Pena (Cintra), com a família real , os cortesãos e chefe do Governo. O menu proporcionou aos comensais “Oeufs à Sévigné, Poisson à la Bièrre, Lange de Cerf chasseur, mousse de jambon à la gulée, dindon routé au crosson, asperges glacies, Royal Pouding, Café, Glacé”, com a Banda de Infantaria 2 a executar 8 peças musicais , algumas das quais voltariam a ser ouvidas mais tarde. Seguiu-se no Paço , a visita e comprimentos à Rainha D. Maria Pia, e uma passeata pelo Estoril e Cascais. No regresso a Lisboa , por volta das cinco da tarde, encontrou a “majestosa Praça D. Fernando” a abarrotar de povo mobilizado e liderado (na frente do cortejo) claramente por instituições republicanas ou republicanizadas como “ a Associação Comercial dos Lojistas, representada pelos Senhores José Pinheiro de Melo, João José da Costa, , José Romão de Matos, Silvério Carvalho Tramolla e Manuel Joaquim Boticas. Depois a Escola Liberal de Carnide, Associação dos Caixeiros, Atheneu Commercial, União dos Empregados do Comércio do Porto, Centro Escolar Andrade Neves, , Escola Oficina nº 1, com as suas professoras acompanhadas pelo Sr. Luis Fillipe de Matos; Grémio Luzitano, representado pelo Sr. José Maria Pereira, , Constâncio de Oliveira e Amor de Melo; Liga Republicana das Mulheres Portuguesas , Grémio Humanidade, Associação de Classe dos Alfaiates, e muitas outras colectividades “ e vários “membros do Directório do Partido Republicano” (Dr. João Menezes e outros) que eram acompanhadas por grande número de pessoas [“massa de povo”] que soltavam estridentes vivas ao Brazil e a Hermes da Fonseca”, Leram-se várias mensagens de associações presentes. Seguiu-e o “banquete de honra” na Sala do Risco , no Arsenal da Marinha, com uma ementa constituída por “sopa”, “creme nacional”, “Pastola de Perdiz”, Lombo de vaca guarnecido” , “Língua com galantina de gelêa”, “poncho Oriental, “Perú assado” , “Salada” e “Ervilhas à Portuguesa”, e, para sobremesa, “Pudim à Brasileira”, “Gelado de Café”, “doce em peças montadas” , “Patelaria- Fructa- Queijos”, tudo regado com “Madeira-Bucelllas-Collares, Alto Douro espomoso – Porto – Café-Cognac-Licores”, ao som da banda da Guarda nacional e da “banda do corpo dos marinheiros”, disposta na “Corveta Paciência”:a primeira executou “Guariny” (C. Gomes), “Lohengria” (Wagner) , “Tosca” (Pucini) , “Miragon” (Valsa de concerto de A. Taborda) , a zarzuela “Corte do Faraó” (de Léo) e «Rapsódias Portruguezas» , alternando com a banda dos marinheiros de que se ouviu “Guilherme Tell” (Rossini) , “Ophelia” (Verdi), “Rézeda” (valsas de P. Ribeiro), “Pot-Pourci da Ópera Giocanda” ( Ponchiolli), “Por-Pourci da Ópera Cavallaria Rusticana (Masnagol) , “Marzuca de Balon” (Nascimento), “Taunhauser “ (selecção, de Wagner) , e mais umas tantas… tudo isto fechado por uma série de brindes em que se destacaram o presidente da comissão organizadora ( o Sr. Fernando Anjos) e, Presidente do Conselho , o Conselheiro Teixeira de Sousa e o do Sr. Fernando de Sousa em nome da Sociedade de Propaganda de Portugal.
Na Real Associação da Agricultura Portuguesa a reunião para debater as revindicações do tanoeiros foi animada, longa , com fortes protestos como as exigências dos tanoreiros, uma visita ao final da tarde “a casa do Presidente do Conselho” e a convocatória de uma sessão de continuação para dia 4.
No meio operário , a agenda foi dominada pelo regresso geral dos corticeiros ao trabalho, com manifestações de “victoria” pelo teor da portaria governamental, os despedimentos em curso de “operários das obras públicas” , e pelas sessões e festejos comemorativos de outras associações como as dos “manufactores de tecidos”, “Estucadores e Decoradores” e “compositores tipográficos” (18 anos) e a União dos Empregados no Comércio (3º aniversário) . No Alentejo vivia-se mais uma “crise de trabalho na Mina de S. Domingos” e os trabalhadores (“povo da Mina de S. Domingos, Côrte de Pinto e Sant`Anna de Cambas” reivindicavam obras públicas (construção de uma estrada entre Serpa e as Minas
Entretanto os fotógrafos mobilizavam para discutir a interpretação dada pelo Governador Civil quanto à lei do “Descanso Semanal”.
No desporto o destaque foi para o “foot-ball” com a victória do Sporting Clube de Portugal sobre Sport Clube Império e a recém constituído “grupo de Foot-ball de Borba”e ainda para a “grande semana de outomno” de ”tiro aos pombos”
Com as escolas abertas para matriculas, a “Academia dos Estudos Livres” e o Instituto de Lisboa” publicitavam a sua oferta de cursos, enquanto a Sociedade Promotora de Educação Popular comemorava o seu 6º aniversário , com várias actividades entre as quais concertos, conferências e atribuição de prémios. Mas, em matéria de educação, a expectativa estava centrada na “nova Lei do ensino primário”
Com o verão em refluxo, a praia da Trafaria acolheu 626 crianças, “a terceira viagem do segundo turno de crianças protegidas pela comissão executiva dos vogaes das juntas de parochia”, a “Ramiro e Leão & Cia” punha os “fatos de banho” para senhora e de fabrico francês a saldos (generosos) e animava-se o mercado das “praias e termas” com a venda de estabelecimentos comerciais e barracas . Entretanto a moda parisiense para o inverno chegava pela mão do Sr. M.A. Vincent, representante dos “Armazéns Au Printemps” , com o catálogo a ser exposto num escritório de Lisboa.
HAF
[posted 12/10/2010]