"Penso che una vita spesa per la musica sia una vita spesa in bellezza ed è a ciò che io ho consacrato la mia vita." (Luciano Pavarotti, 1935-2007)
O dia de trabalho começou um pouco tarde. A manhã sumiu-se na burocracia associada ao cargo de Director do Curso de Mestrado de Estudos Históricos Europeus. Temos alunos para o novo curso. Ora aí está uma boa notícia.
Chegou há dias o último número da Histoire & Sociétés, Revue Européenne d'Histoire Sociale, revista científica fundada em 2002, pela associação Group d`Histoire Sociale, um grupo de jovens cientistas sociais franceses constituido em 1996-97, movidos por um interesse “résolument comparatiste” da História das Sociedades Europeias. A revista é dirigida por Philippe Frémeaux , director chefe de Alternatives Economiques, destina-se ao grande público e oferece números temáticos, focalizados nos séculos XIX e XX, orientados por uma abordagem europeia sistematicamente comparatista, global e pluridisciplinar (cf. Editorial, nº 1). O grafismo é magnífico. E os 22 números até agora publicados são genericamente fiéis ao compromisso editorial com uma agenda historiograficamente moderna e de uma grande diversidade temátiva. O número anterior centrou-se nas dinâmicas de integração técnica nas sociedades europeias do Século XIX. No mais recente, o que tenho em mãos (120 pp.), o dossier é dedicado aos Ferroviários , às representações e jogos de identidade deste grupo social e profissional. Além de fruir das gravuras sobre o millieu ferroviário insertas nas páginas centrais, o leitor pode desde logo ler dois artigos interessantes e bem ilustrados sobre o tema: “Images de cheminots, XIXe-XXe Siècle”, de Marie-Suzanne Vergeade, historiadora e responsável pelo Fundo ferroviário do “Comité central d´Entreprise de la SNCF” (Societé Nationale des Chemins de Fer) ; “Le cinema et les cheminots: approche croisée du cinéma documentaire des origines”, assinado por Michael Ionescu (doutorado em pesquisas cinematográficas e audiovisuais, Paris III) . A magnífica introdução ao dossier, um texto que toma como ponto de partida a formação da cooperativa “Populart” (1978) e a execução de “La Fresque de la Renaissance (1982, Oullins)” e está titulado de “La fresque, la ville, les cheminots”, é de autoria de Christian Chevandier , “Maitre de Conférences” em História Contemporânea na Paris I, investigador do CHS XXe Siécle, e autor de “Cheminots en grève, ou la construction d’une identité (1848-2001)”[ Paris, Maisonneuve et Larose, 2002]. Fora do dossier pode ler-se um artigo sobre os trabalho do "Facteur" [Factor, aquele que numa empresa de transportes é o encarregado pelo transporte e remessa de embrulhos, bagagens e mercadorias (GDLP)] nas cidades dos anos 1950-1970s (Marie Cartier). Também como enorme motivo de interesse são as 40 páginas (quase um segundo dossier ) centradas/ dedicadas ao recém-falecido Jean-Pierre Vernant (1914-Jan.2007), reputado historiador e antropólogo helenista (i.e., especialista na Grécia Antiga) mas também soldado, homem de paz, militante ( do PCF entre 1930s-1969) , patriota (herói da Resistência), filósofo da Cidade, e professor do Collége de France, merecedor das muitas distinções políticas e académicas que recebeu em vida. Da sua autoria, na minha biblioteca, como leitura do tempo de estudante dos primeiros anos do Curso de História em Coimbra (1975-80), conservo Les Origines de la Pensée Grecque (Paris, CNRS, 1962) e Mythe et Societé en Grèce Ancienne (1974), edição da Maspero. Lembro-me vagamente dos seus contributos (artigos?) para o estudo do esclavagismo naquela época histórica.
Cá fora o país submerge de novo no drama da família MacCann (um banquete de casamento latino para as imprensas), enquanto os MNE da UE passam com alguma discrição e os itatianos, os europeus e o Mundo despedem-se do “grande” e “bello” Luciano Pavarotti , o “tenor das multidões” (O Estado de S. Paulo ). “Arrivederci” Tonio.
Évora, B. Degebe, 7 de Setembro
HAF
Editorial
Um amigo muito estimado tem uma “FlorBela” , a poetisa, sentada à janela do mundo. A peça é de Pedro Fazenda e hoje permite à poetisa, a partir da Quinta de Santa Rita, um olhar eterno sobre o lado este da cidade de Évora. Todavia ela nem sempre esteve ali. Conheci-a na cidade, no Pátio de S. Miguel , quase debruçada sobre o velho Colégio Espírito Santo (actual “centro” da Universidade de Évora) e com um horizonte que dos “coutos “ orientais da cidade se prolongava, nos dias verdadeiramente transparentes , até Évora-Monte . Mas as coisas da vida são como se fazem. Depois de um par de anos vendo o mundo a partir da cidade , e de mais alguns por outras andanças e paragens, Florbela sentou-se definitivamente para observar a cidade. E lá a encontrará nos anos vindouros quem a souber procurar. À janela, de onde a poetisa gostava de apreciar se não o Mundo, pelo menos o Mar (“Da Minha Janela”, 1923).
À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.
DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.
Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.
A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.
Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.
Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)
À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.
DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.
Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.
A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.
Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.
Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)