08:00-10:00 Aula de História das Instituições e Grupos Sociais no Período Contemporâneo. Alunos interessados e cumpridores. Mas desta vez não leram tudo o que havia para ler. Todavia entregaram o relatório do Tema 1. Já não é mau. Hoje apareceu uma nova aluna (“repetente”) que frequenta o antigo curso de H. com o estatuto de estudante-trabalhadora. É o exemplo chocante da ausência efectiva de um tutor académico sénior que possa proporcionar um aconselhamento individual no planeamento da carreira escolar do estudante. Reduz-se aos factores sorte/acaso/facilistimo os resultados académicos. Como é que uma jovem mãe e grávida, trabalhadora numa empresa em funções não administrativas pode programar para um ano lectivo concretizar 10 ou 12 disciplinas? Esta aventura a estudante partilha-a com muitos outros. Mesmo que nisso eles coloquem um grande esforço, se tudo fizerem é porque em algum lado se facilitou, sem sombra para dúvidas. Todavia, o mais provável é não fazerem tudo e o que vierem a fazer fazê-lo coxamente (diga-se para simplificar com o dezito…). A conduta prejudica a instituição, pelo insucesso prolongado, e penalisa os alunos, pela baixa classificação obtida (que constitui uma notória desvalorização do seu diploma no mercado de trabalho, como é sabido). Será que na qualificação das instituições a questão exposta não tem relevância? A Universidade de Évora, afastada a retórica costumeira, continua de facto demasiado insensível à dimensão qualitativa dos ensinos que ministra ( instalações, turorias, apoio aos estudantes, bibliotecas, etc…) . “Ça va…”
10:00-12:30 : No HSPSM depois da codifição do HISCO, reve-se a classificação HISClass, isto é, a conversão do códigos profissionais em agregados ocupacionais de nível hierarquico similar.
13:00-14:00: Fez-se o almoço “semanal” com algumas “novidades” interessantes, umas boas (externas) outras preocupantes (internas). As preocupantes são as que indiciam a “pessoalização” da campanha eleitoral em curso: uma tentação desgraçada que parece esconder-se por detrás de um conflito entre os titulares de dois orgãos que têm em comum o facto de serem os principais responsáveis pelo “estado” actual da Universidade de Évora. Estava à espera que debatessem as melhores soluções para corrigir as enormes deficiências instituicionais detectadas pela Comissão de Avaliação da Associação Europeia das Universidades, cujo relatório final continuamos a desconhecer. Isso sim, tem interesse para a Academia discutir-se a sério, as responsabilidades (que tem conjuges) e fundamentalmente as soluções, para que esta seja a oportunidade para que de futuro os actuais defeitos venham a ser superados e tornados irrepetíveis. Espero que os programas das listas candidatas digam algo de concreto e objectivo sobre o que deve ser a verdadeira agenda destas eleições (à luz do novo Regime Jurídico para o Ensino Superior que modelo institucional e organizacional devemos adoptar para superar as deficiências institucionais sérias (e há muito conhecidas) que são apontadas pelos avaliadores internacionais?). Os candidatos devem ter uma resposta concreta para esta questão. Mudar, Renovar, Europeizar… muito bem. Como? Estou ansioso por conhecer as respostas dos candidatos a constituintes.
As notícias positivas, mesmo muito positivas, são as que nos chegam de colegas de outras instituições e abrem possibilidades muito interessantes para que sejam concretizados sólidos programas inter-institucionais de 3º Ciclo, fundados na mútua vantagem e sem sugamento de nenhuma das instituições parceiras [nestas matérias sou um optimista e acho sempre que, quando os objectivos estão bem definidos e os interesses são transparentes, é possível encontrar boas soluções]. Por iniciativa do actual director haverá, em breve mudanças na liderança do Actae- Centro de Estudos Políticos e Sociais.
14.10-15.30: Eleições da nova mesa do Conselho Científico da Área Departamental de Ciências Humanas e Sociais (História, Sociologia, Educação, Filosofia, Psicologia, Línguas e Literaturas, etc.) . Um acto que mostra bem o estado de degradação institucional a que se chegou. Não houve balanço nem relatório prévio da mesa que coordenou o orgão no último biénio. Uma eleição, como no passado, completamente burocratizada, sem qualquer compromisso com a assembleia. Alguém consegue lembrar-se de algum debate neste orgão sobre estratégia e desenvolvimento científico, oferta escolar, etc, etc.. ? Um deserto de propostas e de ideias. Há mais de uma década que dura este ciclo de gestão burocrática (informações, contratações, dispensas de serviço, equiparações a bolseiro, planos de estudo, admissão de doutorandos, júris, etc., etc.) .
Não é que com o “antigo estatuto” isto tivesse de funcionar mesmo assim: noutras instituições os CCs encontraram formas práticas e úteis de desempenhar integralmente a sua missão estatutária (em especial as definidas pelas alíneas a) e b) do artº 38 do E.UE). É fundamental que nos novos estatutos, a par da reorganização das áreas departamentais ( a solução das escolas, e uma redistribuição dos departamentos, são soluções válidas se bem desenhada, ou seja se não forem dsenhadas para servir clientelas), haja uma revisão profunda destes orgãos, nas responsabilidades, na composição, na escolha da liderança e formas de responsabilização pelo cumprimento da missão, etc.
Tudo somado, a mesa anterior foi reeleita por extensa maioria dos presentes: um descanso universal. Os procedimentos formais foram correctos. Pelo menos não se ensaiou a chapelada como noutros locais.
16.00-20.00: preparação das aulas de MEHE
21:00: Guerra Colonial (documentário RTP)
23:00: “ Guerra Civil de Espanha, Na Memória de Barrancos” (B.M. República e Resistência, 2001): “O Sr. (…) tinha três filhos, o mais novo dos quais (…), quando tinha cerca de vinte anos alistou-se na falange espanhola. Quando apanhava crianças atirava-as ao ar e furava-as com a espada; às mulheres violava-as, cortava-lhes os peitos e matava-as (…)” (Mariana Lopz Torrado, 63 anos); “Foi nessa praça de touros que os pobres juntaram os ricos «para lhes puxar fogo». No entretanto chegou de Salto a Guarda e soltaram os ricos e prenderam os pobres » (Maria das Dores Alcario Borralho, 79 anos). Memórias terríveis, de um tempo de escuridão, como cantou Adriano, e de desumanidade absoluta. Temos todos de regressar a esta experiência, uma das mais traumáticas do século XX europeu.
HAF
Editorial
Um amigo muito estimado tem uma “FlorBela” , a poetisa, sentada à janela do mundo. A peça é de Pedro Fazenda e hoje permite à poetisa, a partir da Quinta de Santa Rita, um olhar eterno sobre o lado este da cidade de Évora. Todavia ela nem sempre esteve ali. Conheci-a na cidade, no Pátio de S. Miguel , quase debruçada sobre o velho Colégio Espírito Santo (actual “centro” da Universidade de Évora) e com um horizonte que dos “coutos “ orientais da cidade se prolongava, nos dias verdadeiramente transparentes , até Évora-Monte . Mas as coisas da vida são como se fazem. Depois de um par de anos vendo o mundo a partir da cidade , e de mais alguns por outras andanças e paragens, Florbela sentou-se definitivamente para observar a cidade. E lá a encontrará nos anos vindouros quem a souber procurar. À janela, de onde a poetisa gostava de apreciar se não o Mundo, pelo menos o Mar (“Da Minha Janela”, 1923).
À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.
DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.
Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.
A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.
Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.
Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)
À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.
DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.
Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.
A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.
Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.
Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)