I
Uma manhã em que se resolveram problemas “burocráticos” (é apreciável o esforço que se está a fazer nos SAC para responder com alguma eficiência à “flood-tide” de estudantes de 1º e 2º Ciclos). Mas continuam emperradas pequenas coisas como, por exemplo, fazer a pequena manutenção das salas de aulas para que tenham um nível de decência aceitável. E nunca perceberei como isso não constitui um requisito básico, mínimo, num país moderno. O desconforto provocado pela sujidade, do mobiliário depropriado, do equipamento desadequado ou escasso têm impacto directo nos ritmos de trabalho, na concentração, e no aproveitamento escolar. Pelo menos isso (que é o básico), deveria ser assegurado a estudantes que pagam uma propina num montante muito próximo do tecto máximo legal. E não me digam que isto é demagogia. É apenas reclamar padrões de qualidade mínima, a fixação de um patamar abaixo do qual não podemos permitir-nos estar. E no respeito desses limites começa a qualidade institucional. Apesar da retórica em contrário, esta é de facto uma matéria a que os dirigentes da UE tem sido, e pelos vistos permanecem , muito pouco sensíveis. Este estado de coisas felizmente já é raro no ensino superior português. Tal desfasamento face à qualidade média das infraestruturas nacionais, deveria ser motivo de reflexão na nossa instituição.
II
A criação de 3ºs Ciclos (doutoramento) concentra uma parte da actividade académica actual. Instituições e departamentos alinham e exploram estra-tégias. A tarde foi usada em reuniões que, em Lisboa, reuniu seniores de Departamentos de História de várias instituições universitárias públicas para analisar a possibilidade de programas inter-institucionais de doutoramento. Foi tempo ganho e produtivo. E algo ficou claro. Nenhuma instituição com este domínio científico consolidado (staff qualificado, investigação instalada e avaliada) abrirá mão de ter um programa “autónomo” de doutoramento em História. Ponto final. Mas também tem que ter algo mais. E pode tê-lo se talento houver.
HAF
Editorial
Um amigo muito estimado tem uma “FlorBela” , a poetisa, sentada à janela do mundo. A peça é de Pedro Fazenda e hoje permite à poetisa, a partir da Quinta de Santa Rita, um olhar eterno sobre o lado este da cidade de Évora. Todavia ela nem sempre esteve ali. Conheci-a na cidade, no Pátio de S. Miguel , quase debruçada sobre o velho Colégio Espírito Santo (actual “centro” da Universidade de Évora) e com um horizonte que dos “coutos “ orientais da cidade se prolongava, nos dias verdadeiramente transparentes , até Évora-Monte . Mas as coisas da vida são como se fazem. Depois de um par de anos vendo o mundo a partir da cidade , e de mais alguns por outras andanças e paragens, Florbela sentou-se definitivamente para observar a cidade. E lá a encontrará nos anos vindouros quem a souber procurar. À janela, de onde a poetisa gostava de apreciar se não o Mundo, pelo menos o Mar (“Da Minha Janela”, 1923).
À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.
DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.
Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.
A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.
Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.
Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)
À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.
DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.
Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.
A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.
Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.
Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)
quarta-feira, outubro 31
terça-feira, outubro 30
9861º Dia
8:00-10:00: Aula de Instituições e Grupos Sociais no Período Contemporâneo
10:00-13:00: Orientação de trabalho de Seminário
13.00-14:00: almoço “semanal” no Col. Espírito Santo .
14.30-17.30: preparação do dossier das equivalências dos alunos matriculados em EHE e do dossier para a Reunião do próximo dia 7 Nov.
17.30-19:00: Alinhamento de alguns dados sobre “Portugal Contemporâneo (…) Seminário de Investigação” do Grupo de História Contemporânea, do GESP.UE (NICPRI.UE/UM) e do CEHFC.UE em Cooperação com o ICH para a primavera de 2008
19:00: vista de olhos sobre os três manifestos eleitorais das listas candidatas à Assembleia “Constituinte” para elaboração dos novas estatutos da UE : a lista “Renovar UE”, a lista “Pela Mudança” e finalmente o “Manifesto Eleitoral da Reitoria”, com a lista promovida pelo Reitor e encabeçada pelos Vice-reitores em exercício. Acha surpreendente? Não deve. Acha bizarro? Há instituições que ainda tem que passar por isto. Os comentários à substância ficam para depois.
Sobrou tempo para ponderar estratégias face às propostas existentes de programas inter-institucionais de doutoramento em História. Um assunto que deve ser conduzido com o maior cuidado para que os interesses da instituição não sejam secundarizados face aos interesses e ambições individuais. Uma coisa é certa, as alianças inter-institucionais não são apenas do interesse das instituições mais pequenas. Amanha terei duas reuniões que simbolicamente marcam o início deste caminho…. No que à História diz respeito.
HAF
10:00-13:00: Orientação de trabalho de Seminário
13.00-14:00: almoço “semanal” no Col. Espírito Santo .
14.30-17.30: preparação do dossier das equivalências dos alunos matriculados em EHE e do dossier para a Reunião do próximo dia 7 Nov.
17.30-19:00: Alinhamento de alguns dados sobre “Portugal Contemporâneo (…) Seminário de Investigação” do Grupo de História Contemporânea, do GESP.UE (NICPRI.UE/UM) e do CEHFC.UE em Cooperação com o ICH para a primavera de 2008
19:00: vista de olhos sobre os três manifestos eleitorais das listas candidatas à Assembleia “Constituinte” para elaboração dos novas estatutos da UE : a lista “Renovar UE”, a lista “Pela Mudança” e finalmente o “Manifesto Eleitoral da Reitoria”, com a lista promovida pelo Reitor e encabeçada pelos Vice-reitores em exercício. Acha surpreendente? Não deve. Acha bizarro? Há instituições que ainda tem que passar por isto. Os comentários à substância ficam para depois.
Sobrou tempo para ponderar estratégias face às propostas existentes de programas inter-institucionais de doutoramento em História. Um assunto que deve ser conduzido com o maior cuidado para que os interesses da instituição não sejam secundarizados face aos interesses e ambições individuais. Uma coisa é certa, as alianças inter-institucionais não são apenas do interesse das instituições mais pequenas. Amanha terei duas reuniões que simbolicamente marcam o início deste caminho…. No que à História diz respeito.
HAF
segunda-feira, outubro 29
9860º Dia
8.00: Arejar o gabinete e espreitar o pátio do edificio , finalmente limpo.
9.00-12.45: Reunião da Comissão de Curso de EHE- foram analisados todos os pedidos de equivalência, ajustado o serviço docente e programado o início das aulas com um acerto no calendário do 1º semestre..
15.00: Participação na primeira reunião de um júri das provas de agregação de um colega (FV). Ficou o serviço distribuido e as provas agendadas para o início de 2008.
16.00: A oportunidade permitiu trocar impressões com alguns colegas sobre alguns cenários em estudo para um curso de doutoramento em História Contemporânea.
17.00-20,15: Sessão do seminário “História da Europa dos Séculos XIX-XX. Das Sociedades Nacionais à Sociedade Europeia. “ Os estudantes começam a ganhar confiança e intensificam-se as oportunidades de cruzamento de informações e possibilidades interpretativas. Estimulante.
E fecha-se o dia assim….”exausted”.
HAF
9.00-12.45: Reunião da Comissão de Curso de EHE- foram analisados todos os pedidos de equivalência, ajustado o serviço docente e programado o início das aulas com um acerto no calendário do 1º semestre..
15.00: Participação na primeira reunião de um júri das provas de agregação de um colega (FV). Ficou o serviço distribuido e as provas agendadas para o início de 2008.
16.00: A oportunidade permitiu trocar impressões com alguns colegas sobre alguns cenários em estudo para um curso de doutoramento em História Contemporânea.
17.00-20,15: Sessão do seminário “História da Europa dos Séculos XIX-XX. Das Sociedades Nacionais à Sociedade Europeia. “ Os estudantes começam a ganhar confiança e intensificam-se as oportunidades de cruzamento de informações e possibilidades interpretativas. Estimulante.
E fecha-se o dia assim….”exausted”.
HAF
domingo, outubro 28
sábado, outubro 27
sexta-feira, outubro 26
9857º Dia
I.
Só no final do dia ficamos com a certeza de que estavam definitivamente superados os problemas com a codificação geográfica dos naturalidades e residência dos noivos, progenitores e testemunhos intervenientes em 15.200 casamentos. As perdas foram apesar de tudo reduzidas a uma escala bastante inferior do que inicialmente se admitiu.
Iniciei o dossier para as equivalências solicitadas pelos alunos matriculados no Mestrado EHE (Secs 19-20) e a Comissão de Curso ficou convocada de urgência para a próxima segunda feira (9.00). Será pois um dia cheio.
À actual agenda da Universidade regressou a discussão sobre os programas de 3º Ciclo para os quais reunimos capacidade instalada. O assunto saiu do marasmo na reunião do CC.UE, realizado na passada 4ª feira, com o balanço apresentado por uma comissão nomeada para o efeito em junho ou julho p.p.. Há agora alguns documentos e dados sistematizados que servem de base de trabalho. Eles são importantes mas já consta que não cobrem os doutorados de todos os Departamentos. Vou ter que verificar para acreditar que assim é.
Por enquanto a discussão circunscreve-se ao CC.UE mas, como é óbvio, ela tem de ter uma maior amplitude académica. E todos os catedráticos deveriam (ser solicitados a) pronunciar-se sobre o assunto, o que também me parece estar diante dos olhos(lembro que na sua maioria eles estão fora do CC.UE). Seja como for eu não deixarei de o fazer porque entendo ser meu dever estatutário. Aguardo pelo resultado do debate agendado para o início da próxima semana no dito CC. E é também claro que ele ficaria enriquecido se todos conhecessem (e fosse pública) a recomendação que sobre o assunto foi subscrita pela Comissão de Avaliação da European University Association.
II.
Afinal “Barrancos na Encruzilhada da Guerra Civil de Espanha. Memórias e Testemunhos , 1936”( Ed. CM Barrancos, 2007) , livro autorado por Maria Dulce Antunes Simões, ainda não está nos escaparates como anunciei em anterior registo. Receber a obra com alguma antecipação foi uma delicadeza que alguém me proporcionou e que eu agradeço muito. Nas bancas só lá mais para diante. Entretanto chegou-me um outro, de Maria Alice Samara (“Operárias e Burguesas. As Mulheres no Tempo da República”, ed. de A Esfera dos Livros, setembro 2007): ma colecção de estudos biográficos que não deixarei em breve de comentar aqui. É claro que Ppassei os olhos pela colecção de fotografias que ilustram o livro.
III.
Estou com demasiado trabalho para olhar pelo mundo. Mas ouvi as notícias da Cimeira UE-Rússia. E tive a oportunidade de ouvir na rádio o comentário de Mário Soares sobre o cinismo de alguma opinião públicada em Portugal quanto à severidade do criticismo face às violações dos Direitos Humanos no antigo Império dos Czares e o silêncio tolerante com que encaram as mesmas violações noutros países do Ocidente.
HAF
Só no final do dia ficamos com a certeza de que estavam definitivamente superados os problemas com a codificação geográfica dos naturalidades e residência dos noivos, progenitores e testemunhos intervenientes em 15.200 casamentos. As perdas foram apesar de tudo reduzidas a uma escala bastante inferior do que inicialmente se admitiu.
Iniciei o dossier para as equivalências solicitadas pelos alunos matriculados no Mestrado EHE (Secs 19-20) e a Comissão de Curso ficou convocada de urgência para a próxima segunda feira (9.00). Será pois um dia cheio.
À actual agenda da Universidade regressou a discussão sobre os programas de 3º Ciclo para os quais reunimos capacidade instalada. O assunto saiu do marasmo na reunião do CC.UE, realizado na passada 4ª feira, com o balanço apresentado por uma comissão nomeada para o efeito em junho ou julho p.p.. Há agora alguns documentos e dados sistematizados que servem de base de trabalho. Eles são importantes mas já consta que não cobrem os doutorados de todos os Departamentos. Vou ter que verificar para acreditar que assim é.
Por enquanto a discussão circunscreve-se ao CC.UE mas, como é óbvio, ela tem de ter uma maior amplitude académica. E todos os catedráticos deveriam (ser solicitados a) pronunciar-se sobre o assunto, o que também me parece estar diante dos olhos(lembro que na sua maioria eles estão fora do CC.UE). Seja como for eu não deixarei de o fazer porque entendo ser meu dever estatutário. Aguardo pelo resultado do debate agendado para o início da próxima semana no dito CC. E é também claro que ele ficaria enriquecido se todos conhecessem (e fosse pública) a recomendação que sobre o assunto foi subscrita pela Comissão de Avaliação da European University Association.
II.
Afinal “Barrancos na Encruzilhada da Guerra Civil de Espanha. Memórias e Testemunhos , 1936”( Ed. CM Barrancos, 2007) , livro autorado por Maria Dulce Antunes Simões, ainda não está nos escaparates como anunciei em anterior registo. Receber a obra com alguma antecipação foi uma delicadeza que alguém me proporcionou e que eu agradeço muito. Nas bancas só lá mais para diante. Entretanto chegou-me um outro, de Maria Alice Samara (“Operárias e Burguesas. As Mulheres no Tempo da República”, ed. de A Esfera dos Livros, setembro 2007): ma colecção de estudos biográficos que não deixarei em breve de comentar aqui. É claro que Ppassei os olhos pela colecção de fotografias que ilustram o livro.
III.
Estou com demasiado trabalho para olhar pelo mundo. Mas ouvi as notícias da Cimeira UE-Rússia. E tive a oportunidade de ouvir na rádio o comentário de Mário Soares sobre o cinismo de alguma opinião públicada em Portugal quanto à severidade do criticismo face às violações dos Direitos Humanos no antigo Império dos Czares e o silêncio tolerante com que encaram as mesmas violações noutros países do Ocidente.
HAF
quinta-feira, outubro 25
9856º Dia
5ª Feira, 25 de Outubro de 2007
Diário de Cátedra: 9856º Dia
I
Um “evil day” para o projecto da Mobilidade Social. Na preparação dos dados da HSPSM tivemos que gastar c. 10 horas para recuperar danos graves na base de dados da codificação das naturalidades e residências. Uma lição para o futuro. Um erro clássico: perda de dados nos vários transportes de informação entre folhas Excel e Access. Há quem pense que esta plataforma não é a melhor para este tipo de operações e é capaz de ter razão.
II
Comemora-se hoje o 1º mês da apresentação oral das conclusões de avaliação institucional da Universidade de Évora da Fundação promovida pela Associação Europeia das Universidades (EUA). Lamentavelmente continuamos sem conhecer o relatório escrito final. Num período em que a Academia é chamada a votos para eleger a Assembleia Constituinte que a dotará de novos estatutos é lamentavel aquele documento não ser divulgado com oportunidade. Sem ele não me parece verdadeiramente fecundo qualquer debate, nem vejo como possa ser válido qualquer compromisso eleitoral.
Especula-se muito nos corredores da U. Évora sobre o clima de desânimo que se respira e a enorme debilidade financeira. Há informações provenientes de diversas fontes que pelo menos coincidem num ponto: não há dinheiro para os salários dos dois últimos meses do ano. O silêncio profundo em que mergulhou a Reitoria nos últimos tempos aumenta as preocupações. Consta que tal silêncio é proporcional ao volume das dificuldades. Entretanto parece que prosseguem as contratações de docentes. Ao contrário do secretismo de “fortaleza” impõe-se uma atitude mais aberta e mobilizante da Academia. E é muito surpreendente, o mutismo, o ruidoso mutismo , dos estudantes e professores nas vésperas de uma escolha fundamental para a instituição (se estive atento, apenas uma declaração de um grupo de docentes de variados trajectos e diferentes responsabilidades pelo status quo). As pessoas precisam acreditar que há soluções, formas e boas práticas institucionais para mobilizar recursos e superar a aspiral de declínio que ameaça o esforço individual de muita gente dedicada e competente. Que isso só pode ser feito com uma nova geração de dirigentes parece-me já quase óbvio. A estratégia da “corcunda” ministerial não tem terreno para resultar a prazo, sustentadamente.
III
A partir de hoje o jornal Público passa a distribuir (todas as quinta-feiras e durante 15 semanas) a “História Genealógica da Casa Real Portuguesa” (em 14 vols + 1 de inéditos da Academia Portuguesa História) , obra monumental de D. António Caetano de Sousa (1764-1759), clérigo Teatino ou Caetano. A obra original, em 13 volumesw, foi editada entre 1735 e 1749. Constitui um obra de referência da historiografia portuguesa do Século XVIII, cobre com exaltação as Casas Reais Portuguesas até D. João V, excluindo os Filipes. Hoje é uma obra útil, que constitui uma marca da Academia Portuguesa de História numa era muito inventiva. Não precisamos de nos enganar com os exageros publicitários. Obviamente já comecei a adquiri-la. Farei assim a “substituição” das fotocópias (algumas, poucas) que dela ainda preservo do tempo da Faculdade.
IV
Li esta madrugada que as pessoas acreditam que volta a haver oposição dentro do campo político em que o governo se movimenta. É sempre uma boa notícia, num país cheio de tiques (e sinais) de autoritarismo, soberba e intolerância.
HAF
Diário de Cátedra: 9856º Dia
I
Um “evil day” para o projecto da Mobilidade Social. Na preparação dos dados da HSPSM tivemos que gastar c. 10 horas para recuperar danos graves na base de dados da codificação das naturalidades e residências. Uma lição para o futuro. Um erro clássico: perda de dados nos vários transportes de informação entre folhas Excel e Access. Há quem pense que esta plataforma não é a melhor para este tipo de operações e é capaz de ter razão.
II
Comemora-se hoje o 1º mês da apresentação oral das conclusões de avaliação institucional da Universidade de Évora da Fundação promovida pela Associação Europeia das Universidades (EUA). Lamentavelmente continuamos sem conhecer o relatório escrito final. Num período em que a Academia é chamada a votos para eleger a Assembleia Constituinte que a dotará de novos estatutos é lamentavel aquele documento não ser divulgado com oportunidade. Sem ele não me parece verdadeiramente fecundo qualquer debate, nem vejo como possa ser válido qualquer compromisso eleitoral.
Especula-se muito nos corredores da U. Évora sobre o clima de desânimo que se respira e a enorme debilidade financeira. Há informações provenientes de diversas fontes que pelo menos coincidem num ponto: não há dinheiro para os salários dos dois últimos meses do ano. O silêncio profundo em que mergulhou a Reitoria nos últimos tempos aumenta as preocupações. Consta que tal silêncio é proporcional ao volume das dificuldades. Entretanto parece que prosseguem as contratações de docentes. Ao contrário do secretismo de “fortaleza” impõe-se uma atitude mais aberta e mobilizante da Academia. E é muito surpreendente, o mutismo, o ruidoso mutismo , dos estudantes e professores nas vésperas de uma escolha fundamental para a instituição (se estive atento, apenas uma declaração de um grupo de docentes de variados trajectos e diferentes responsabilidades pelo status quo). As pessoas precisam acreditar que há soluções, formas e boas práticas institucionais para mobilizar recursos e superar a aspiral de declínio que ameaça o esforço individual de muita gente dedicada e competente. Que isso só pode ser feito com uma nova geração de dirigentes parece-me já quase óbvio. A estratégia da “corcunda” ministerial não tem terreno para resultar a prazo, sustentadamente.
III
A partir de hoje o jornal Público passa a distribuir (todas as quinta-feiras e durante 15 semanas) a “História Genealógica da Casa Real Portuguesa” (em 14 vols + 1 de inéditos da Academia Portuguesa História) , obra monumental de D. António Caetano de Sousa (1764-1759), clérigo Teatino ou Caetano. A obra original, em 13 volumesw, foi editada entre 1735 e 1749. Constitui um obra de referência da historiografia portuguesa do Século XVIII, cobre com exaltação as Casas Reais Portuguesas até D. João V, excluindo os Filipes. Hoje é uma obra útil, que constitui uma marca da Academia Portuguesa de História numa era muito inventiva. Não precisamos de nos enganar com os exageros publicitários. Obviamente já comecei a adquiri-la. Farei assim a “substituição” das fotocópias (algumas, poucas) que dela ainda preservo do tempo da Faculdade.
IV
Li esta madrugada que as pessoas acreditam que volta a haver oposição dentro do campo político em que o governo se movimenta. É sempre uma boa notícia, num país cheio de tiques (e sinais) de autoritarismo, soberba e intolerância.
HAF
quarta-feira, outubro 24
9855º Dia
I.
A manhã dedicada à conferência de dados da HSPSM foi apenas interrompida pela reunião do CC de História, que tratou assuntos correntes (júris, admissões a doutoramento) e acordou explorar algumas possibilidades de cooperação inter-institucional em matéria de Cursos de 3º Ciclo (Doutoramento9). Será sempre uma limitação excessiva ficar por aí. Parece-me prudente estudar várias soluções, incluindo soluções transversais, centradas na instituição. A criação de um número restrito de escolas de doutoramento transdisciplinares deveria ser objecto de um estudo sério, com base em dados capazes.
A tarde foi totalmente ocupada com uma reunião da equipe do projecto Mobilidade Social. Os problemas com a codificação geográfica são inesperados e preocupantes. Amanhã ensairemos novas soluções para superar as dificuldades.
II.
Acaba de chegar aos escaparates um trabalho da antropóloga Maria Dulce Antunes Simões, “Barrancos na Encruzilhada da Guerra Civil de Espanha. Memórias e Testemunhos, 1936”( Ed. CM Barrancos, 2007). A obra conta com a colaboração do historiador Francisco Espinosa Maestre [Dept. História Económica, Universidade de Sevilla] e de Gentil de Valadares (1916-2006), filho de um tenente da Guarda Fiscal, António Augusto Seixas, do comando operacional na zona de Barrancos (Zafara) no início da guerra (acabou por ser afastado depois de um inquérito, suspensão de actividade e sequente processo) que em Espanha opôs os “Republicanos” aos “Nacionalistas” de Franco. O “centro” da obra são as “Memórias da Guerra Civil de Espanha”, cuja escrita Gentil de Valadares concluíu em 1983.
Delas retiro um trecho, um episódio singular. “Em fins de Julho, desse ano de 1936, já os dois grandes exércitos de Franco – o de Marrocos e o da itália – tomavam a iniciativa das operações no sul de Espanha. A partir de Sevilha, um dos exércitos avançaria para nascente com vista a submeter as cidades da costa do Mediterrâneo. E, a partir de Huelva, avançaria o outro, de sul para norte, tendo como objectivo a conquista de Mérida e de Badajoz [o que veio a acontecer em meados de Agosto, n.m.]. No norte de Espanha, um terceiro exército desceria de Navarra. (…) Era esta a situação nos princípios de Agosto [o avanço da coluna nacionalista do sul para ocupar a Extremadura]. E foi por essa altura que o jornal “O Século” se saiu com uma notícia mirabolante, mentindo ao país com o maior descaro, só para efeitos de sensação e propaganda calculada. Fê-lo a toda a largura da 1ª página, em manchetes negras de caixa alta, usando os maiores caracteres de imprensa. Dizia a noticia que os “comunistas” da cidade de Rosal de la Frontera haviam aprisionado os “nacionalistas” mais notórios da região; e que os tinham àquela hora encurralados na catedral; e que, envolta a mesma de carros de palha e feno, ameaçavam chegar-lhes fogo quando os libertadores se aproximassem… E estes já vinham perto… Nada mais falso! Ao ler a notícia, o meu pai ficou varado… Como é que se podia mentir tanto!... E resolveu fazer um telefonema para a redação do referido jornal, a fim de pôr tudo em pratos limpos, e pedir, por último, um desmentido. Não tardou que ao telefone para lá barafustasse as suas razões… Fez saber que tal notícia o punha a ele em cheque perante os seus superiores, pois lhe competia trazê-los ao corrente de tudo o que se passava na sua área. Por fim permitiu-se, eufórico, gracejar com a notícia, ridicularizando a ignorância do infeliz redactor… Que soubessem, os senhores do jornal, que o Rosal não é nenhuma cidade. Antes uma aldeia. E pequena. E, quanto à catedral, que a mesma não passava de uma igrejinha vulgar, como a de qualquer lugarejo. E podia afiançar que nada se passou ou estava a passar-se no Rosal, onde reinava a calma. Afirmava-o de concreto, categórico, por ser a pura verdade. Mesmo há pouco falara com naturais dali, além de que tinha o povoado debaixo do alcance dos seus binóculos. Ele lhes telefonava do Sobral da Adiça, da parte de cá do Rosal… Só se metia a raia de permeio… E exigia um desmentido. Ouviram-no os homens do jornal sem o interromperem. Lá quando viram que o homem tinha desabafado, assim lhe responderam: “ Amigo, aqui não há lugar para desmentidos. Aqui não exige nada. E cale-se bem caladinho, se assim o entender, para seu bem. Esta a ouvir-me?...(sic). O meu pai de enojado, desligou» (op.cit. pp. 57-8 e 62-63)
As ditas “Memórias…” (cap.II) e os capítulos sequentes, nos quais o historiador (“Barrancos, 1936: el caso del teniente Seixas y la aventura del “Niassa”) e a antropóloga (“Relações Sociais, Poderes e Resistências”) as exploram e contextualizam , são de um enorme interesse para ilumiar a dimensão dos dramáticos episódios ocorridos na raia durante o primeiro semestre da Guerra Civil de Espanha, e do, ainda não completamente conhecido em toda a sua extensão, profundo comprometimento operacional do Estado Novo, então a viver a sua fase mais radical.
HAF
A manhã dedicada à conferência de dados da HSPSM foi apenas interrompida pela reunião do CC de História, que tratou assuntos correntes (júris, admissões a doutoramento) e acordou explorar algumas possibilidades de cooperação inter-institucional em matéria de Cursos de 3º Ciclo (Doutoramento9). Será sempre uma limitação excessiva ficar por aí. Parece-me prudente estudar várias soluções, incluindo soluções transversais, centradas na instituição. A criação de um número restrito de escolas de doutoramento transdisciplinares deveria ser objecto de um estudo sério, com base em dados capazes.
A tarde foi totalmente ocupada com uma reunião da equipe do projecto Mobilidade Social. Os problemas com a codificação geográfica são inesperados e preocupantes. Amanhã ensairemos novas soluções para superar as dificuldades.
II.
Acaba de chegar aos escaparates um trabalho da antropóloga Maria Dulce Antunes Simões, “Barrancos na Encruzilhada da Guerra Civil de Espanha. Memórias e Testemunhos, 1936”( Ed. CM Barrancos, 2007). A obra conta com a colaboração do historiador Francisco Espinosa Maestre [Dept. História Económica, Universidade de Sevilla] e de Gentil de Valadares (1916-2006), filho de um tenente da Guarda Fiscal, António Augusto Seixas, do comando operacional na zona de Barrancos (Zafara) no início da guerra (acabou por ser afastado depois de um inquérito, suspensão de actividade e sequente processo) que em Espanha opôs os “Republicanos” aos “Nacionalistas” de Franco. O “centro” da obra são as “Memórias da Guerra Civil de Espanha”, cuja escrita Gentil de Valadares concluíu em 1983.
Delas retiro um trecho, um episódio singular. “Em fins de Julho, desse ano de 1936, já os dois grandes exércitos de Franco – o de Marrocos e o da itália – tomavam a iniciativa das operações no sul de Espanha. A partir de Sevilha, um dos exércitos avançaria para nascente com vista a submeter as cidades da costa do Mediterrâneo. E, a partir de Huelva, avançaria o outro, de sul para norte, tendo como objectivo a conquista de Mérida e de Badajoz [o que veio a acontecer em meados de Agosto, n.m.]. No norte de Espanha, um terceiro exército desceria de Navarra. (…) Era esta a situação nos princípios de Agosto [o avanço da coluna nacionalista do sul para ocupar a Extremadura]. E foi por essa altura que o jornal “O Século” se saiu com uma notícia mirabolante, mentindo ao país com o maior descaro, só para efeitos de sensação e propaganda calculada. Fê-lo a toda a largura da 1ª página, em manchetes negras de caixa alta, usando os maiores caracteres de imprensa. Dizia a noticia que os “comunistas” da cidade de Rosal de la Frontera haviam aprisionado os “nacionalistas” mais notórios da região; e que os tinham àquela hora encurralados na catedral; e que, envolta a mesma de carros de palha e feno, ameaçavam chegar-lhes fogo quando os libertadores se aproximassem… E estes já vinham perto… Nada mais falso! Ao ler a notícia, o meu pai ficou varado… Como é que se podia mentir tanto!... E resolveu fazer um telefonema para a redação do referido jornal, a fim de pôr tudo em pratos limpos, e pedir, por último, um desmentido. Não tardou que ao telefone para lá barafustasse as suas razões… Fez saber que tal notícia o punha a ele em cheque perante os seus superiores, pois lhe competia trazê-los ao corrente de tudo o que se passava na sua área. Por fim permitiu-se, eufórico, gracejar com a notícia, ridicularizando a ignorância do infeliz redactor… Que soubessem, os senhores do jornal, que o Rosal não é nenhuma cidade. Antes uma aldeia. E pequena. E, quanto à catedral, que a mesma não passava de uma igrejinha vulgar, como a de qualquer lugarejo. E podia afiançar que nada se passou ou estava a passar-se no Rosal, onde reinava a calma. Afirmava-o de concreto, categórico, por ser a pura verdade. Mesmo há pouco falara com naturais dali, além de que tinha o povoado debaixo do alcance dos seus binóculos. Ele lhes telefonava do Sobral da Adiça, da parte de cá do Rosal… Só se metia a raia de permeio… E exigia um desmentido. Ouviram-no os homens do jornal sem o interromperem. Lá quando viram que o homem tinha desabafado, assim lhe responderam: “ Amigo, aqui não há lugar para desmentidos. Aqui não exige nada. E cale-se bem caladinho, se assim o entender, para seu bem. Esta a ouvir-me?...(sic). O meu pai de enojado, desligou» (op.cit. pp. 57-8 e 62-63)
As ditas “Memórias…” (cap.II) e os capítulos sequentes, nos quais o historiador (“Barrancos, 1936: el caso del teniente Seixas y la aventura del “Niassa”) e a antropóloga (“Relações Sociais, Poderes e Resistências”) as exploram e contextualizam , são de um enorme interesse para ilumiar a dimensão dos dramáticos episódios ocorridos na raia durante o primeiro semestre da Guerra Civil de Espanha, e do, ainda não completamente conhecido em toda a sua extensão, profundo comprometimento operacional do Estado Novo, então a viver a sua fase mais radical.
HAF
terça-feira, outubro 23
9854º Dia
I
Depois da aula madrugadora (8.00-10.00h) – o acesso à cidade começa a tornar-se um problema para quem estava habituado a dispender 10 minutos até ao gabinete do Palácio Vimioso para fazer 5 km deixando, em caminho, uma parte da família na escola – o resto do dia permitiu concluir a codificação das c. de 3442 ocupações, status e relações dos nubentes, progenitores, padrinhos e testemunhas de Évora, S. Domingos, Setúbal, Barreiro e Figueira da Foz, em diversos cortes temporais entre 1850 e 1967. Está assim praticamente superada uma das fases mais lentas da organização dos dados. Ficam pendurados alguns casos cuja codificação necessita de uma discussão no seio do grupo de investigação.
II
A “Guerra”, em 2º episódio, ficou vista. Dedicado ainda ao contexto dos primeiros levantamentos em Angola (com elementos muito interessantes) e às primeiras reações dos “Brancos”/”Colonos” e do Governo na Metrópole. Além do 4 de Fevereiro outros episódios coevos foram evocados e muito bem (na sua relação directa com o que se pretendia que acontecesse em Angola): o assalto ao Santa Maria,liderado por Henrique Galvão e dois galegos (Fernández Vásques e Velo Mosquera). Contudo tem que se dar mais atenção ao que se passou na algodoeira Baixa de Cassange, especialmente a partir de finais de 1960 e até janeiro de 1961.
Esta série documental passou um ou dois dias depois de se ter tornado pública o falecimento (a 8 de Outubro p.p.) de Maria Julieta Guimarães Granda (1917-2007), Prisioneira de Consciência do Ano (1964) por escolha da Amnistia Internacional. Ouvi falar dela pela primeira vez tinha eu 18 anos. Decorria o ano lectivo 1972-73. Pendurado numa disciplina do 7º ano (Alemão) procurei uma colocação como professor. Encontrei-a no ensino primário (3ª classe), no extremo leste de Angola, na vila “citiada” de Teixeira de Sousa, nome da fase do aportuguesamento, agora denomindada de Luau (com a re-africanização). Zona de guerra. Funcionários, ferroviários, madeireiros, pides e militares (esencialmente metropolitanos e bastantes).
Podem ter-me falado no nome de Julieta Gandra numa das noites de paragem obrigatória do tráfego ferroviário do Caminho de Ferro de Benguela (por razões de segurança militar) na vila do Munhango (os horários dos comboios eram sincronizados para não circular a noite a partir desta vila), ainda a centenas de quilómetros de Teixeira de Sousa. Noites longas, de variada gente e de encontros improváveis.
Todavia quase posso assegurar que foi pela voz de um velho topógrafo (da TECNIL?), que todos os dias terminava as tardes no balcão corrido de um dos dois hoteis da vila fronteiriça até encarreirar uma série apreciável de garrafas de cerveja. O homem que um dia desenhou e mobilizou os meios técnicos para fazer a pista de motocross que, com o apoio de outros jovens, ficou feita em Teixeira de Sousa. Foi seguramente ele, o homem que me falou pela primeira vez na história da médica branca de Luanda, ligada ao MPLA; e, já agora, foi também ele que me ofereceu o meu primeiro algum do Zeca Afonso (Contos Velhos, Rumos Novos…) no fundo de um longo balcão de um hotel-bar-restaurante (Terminus?). Num tempo fundamental, em que enriqueci o meu conhecimento sobre outra gente como ela.
HAF
Depois da aula madrugadora (8.00-10.00h) – o acesso à cidade começa a tornar-se um problema para quem estava habituado a dispender 10 minutos até ao gabinete do Palácio Vimioso para fazer 5 km deixando, em caminho, uma parte da família na escola – o resto do dia permitiu concluir a codificação das c. de 3442 ocupações, status e relações dos nubentes, progenitores, padrinhos e testemunhas de Évora, S. Domingos, Setúbal, Barreiro e Figueira da Foz, em diversos cortes temporais entre 1850 e 1967. Está assim praticamente superada uma das fases mais lentas da organização dos dados. Ficam pendurados alguns casos cuja codificação necessita de uma discussão no seio do grupo de investigação.
II
A “Guerra”, em 2º episódio, ficou vista. Dedicado ainda ao contexto dos primeiros levantamentos em Angola (com elementos muito interessantes) e às primeiras reações dos “Brancos”/”Colonos” e do Governo na Metrópole. Além do 4 de Fevereiro outros episódios coevos foram evocados e muito bem (na sua relação directa com o que se pretendia que acontecesse em Angola): o assalto ao Santa Maria,liderado por Henrique Galvão e dois galegos (Fernández Vásques e Velo Mosquera). Contudo tem que se dar mais atenção ao que se passou na algodoeira Baixa de Cassange, especialmente a partir de finais de 1960 e até janeiro de 1961.
Esta série documental passou um ou dois dias depois de se ter tornado pública o falecimento (a 8 de Outubro p.p.) de Maria Julieta Guimarães Granda (1917-2007), Prisioneira de Consciência do Ano (1964) por escolha da Amnistia Internacional. Ouvi falar dela pela primeira vez tinha eu 18 anos. Decorria o ano lectivo 1972-73. Pendurado numa disciplina do 7º ano (Alemão) procurei uma colocação como professor. Encontrei-a no ensino primário (3ª classe), no extremo leste de Angola, na vila “citiada” de Teixeira de Sousa, nome da fase do aportuguesamento, agora denomindada de Luau (com a re-africanização). Zona de guerra. Funcionários, ferroviários, madeireiros, pides e militares (esencialmente metropolitanos e bastantes).
Podem ter-me falado no nome de Julieta Gandra numa das noites de paragem obrigatória do tráfego ferroviário do Caminho de Ferro de Benguela (por razões de segurança militar) na vila do Munhango (os horários dos comboios eram sincronizados para não circular a noite a partir desta vila), ainda a centenas de quilómetros de Teixeira de Sousa. Noites longas, de variada gente e de encontros improváveis.
Todavia quase posso assegurar que foi pela voz de um velho topógrafo (da TECNIL?), que todos os dias terminava as tardes no balcão corrido de um dos dois hoteis da vila fronteiriça até encarreirar uma série apreciável de garrafas de cerveja. O homem que um dia desenhou e mobilizou os meios técnicos para fazer a pista de motocross que, com o apoio de outros jovens, ficou feita em Teixeira de Sousa. Foi seguramente ele, o homem que me falou pela primeira vez na história da médica branca de Luanda, ligada ao MPLA; e, já agora, foi também ele que me ofereceu o meu primeiro algum do Zeca Afonso (Contos Velhos, Rumos Novos…) no fundo de um longo balcão de um hotel-bar-restaurante (Terminus?). Num tempo fundamental, em que enriqueci o meu conhecimento sobre outra gente como ela.
HAF
segunda-feira, outubro 22
9853º Dia
I
Tempo de aulas é tempo de um grande empenho, quase imperialista: na preparação prévia, nunca completa, na definição da estratégia (o fio condutor) e do cacho de questões que servirão de guião , no ajustamento da base de conhecimentos complementares, na escolha de instrumentos e sua operacionalização , tudo sessão a sessão de seminário , tendo em conta a individualidade da turma e dos estudantes que a compôem. São horas de trabalho de quantificação difícil. Por norma qualquer coisa como 2-3 horas por cada hora de sessão (a não ser que sejam programas novos, pois aí o tempo de preparação sobe muito). O que se pode fazer com um grande prazer.
II
É com crescente preocupação que encaro as notícias que me chegam de alunos da Universidade de Évora que desistiram da matrícula nos 2ºs Ciclos devido ao montante de propinas que lhes foi solicitado à cabeça. E outros (quantos?) não desistiram já porque aguardam as equivalências na esperança de que elas sejam generosas. Há algo nisto tudo de perigoso e perverso. Tenho curiosidade em conhecer os números finais dos matriculados entre os cerca de 1100-1200 admitidos. É necessário dar uma explicação da razão por ter sido escolhido um calendário de pagamentos que obriga os estudantes a liquidar 80% das propinas no prazo de 1 ano, com 40% à cabeça (juntamente com a taxa de inscrição e outras despesas). Independentemente da taxa de matrículados no presente ano (que pode ser excepcional) esta política a manter-se terá a prazo efeitos nefastos e é injusta.
III
Um relatório auditor do Tribunal de Contas sobre o acesso aos cuidados de saúde em Portugal , tornado público no passado dia 19, é desvastador na avaliação que faz das políticas de combate às listas de espera no país. Os jornais de fim de semana noticiaram amplamente o assunto, acentuando , por exemplo, que “listas de espera em Portugal são 10 vezes maiores que em Espanha”. Claro que o Ministério contesta a avaliação considerando por um lado, inadequados os termos de comparação, e desactualizados os dados de base (de Dezembro de 2006) , pois “a situação melhorou bastante durante este ano”.
O mesmo argumento usou, há um mês atrás, o Ministério da Educação em relação às dramáticas taxas de abandono escolar no país(c. 40% em 2005), que nos colocam em posição de ficarmos muito longe das metas europeias estabelecidas para 2010( 10 a 20%). Confrontada com os maus resultados que apresentamos para o referido ano, a responsável pela pasta ministerial considerou que os mesmos não repercutiam a realidade e que esta só estaria bem retratada nos dados do primeiro semestre de 2006.
Os dois casos constituem exemplo de uma queda sem tiro.
HAF
Tempo de aulas é tempo de um grande empenho, quase imperialista: na preparação prévia, nunca completa, na definição da estratégia (o fio condutor) e do cacho de questões que servirão de guião , no ajustamento da base de conhecimentos complementares, na escolha de instrumentos e sua operacionalização , tudo sessão a sessão de seminário , tendo em conta a individualidade da turma e dos estudantes que a compôem. São horas de trabalho de quantificação difícil. Por norma qualquer coisa como 2-3 horas por cada hora de sessão (a não ser que sejam programas novos, pois aí o tempo de preparação sobe muito). O que se pode fazer com um grande prazer.
II
É com crescente preocupação que encaro as notícias que me chegam de alunos da Universidade de Évora que desistiram da matrícula nos 2ºs Ciclos devido ao montante de propinas que lhes foi solicitado à cabeça. E outros (quantos?) não desistiram já porque aguardam as equivalências na esperança de que elas sejam generosas. Há algo nisto tudo de perigoso e perverso. Tenho curiosidade em conhecer os números finais dos matriculados entre os cerca de 1100-1200 admitidos. É necessário dar uma explicação da razão por ter sido escolhido um calendário de pagamentos que obriga os estudantes a liquidar 80% das propinas no prazo de 1 ano, com 40% à cabeça (juntamente com a taxa de inscrição e outras despesas). Independentemente da taxa de matrículados no presente ano (que pode ser excepcional) esta política a manter-se terá a prazo efeitos nefastos e é injusta.
III
Um relatório auditor do Tribunal de Contas sobre o acesso aos cuidados de saúde em Portugal , tornado público no passado dia 19, é desvastador na avaliação que faz das políticas de combate às listas de espera no país. Os jornais de fim de semana noticiaram amplamente o assunto, acentuando , por exemplo, que “listas de espera em Portugal são 10 vezes maiores que em Espanha”. Claro que o Ministério contesta a avaliação considerando por um lado, inadequados os termos de comparação, e desactualizados os dados de base (de Dezembro de 2006) , pois “a situação melhorou bastante durante este ano”.
O mesmo argumento usou, há um mês atrás, o Ministério da Educação em relação às dramáticas taxas de abandono escolar no país(c. 40% em 2005), que nos colocam em posição de ficarmos muito longe das metas europeias estabelecidas para 2010( 10 a 20%). Confrontada com os maus resultados que apresentamos para o referido ano, a responsável pela pasta ministerial considerou que os mesmos não repercutiam a realidade e que esta só estaria bem retratada nos dados do primeiro semestre de 2006.
Os dois casos constituem exemplo de uma queda sem tiro.
HAF
domingo, outubro 21
sábado, outubro 20
9851º Dia
Um dia reservado à família alargada, o que é sempre muito agradável. Hoje com gente que por aqui não passava há muito. Assim vamos cultivando “the call of kinship”, e as memórias e hábitos culturais, incluindo os gastronómicos. Uma importante “transferência” que enriqueceu e enriquece a sociedade portuguesa com a diversidade das experiências e modos de vida.
A propósito dos processos históricos de mobilidade geográfica e transferência intra e transcontinental de pessoas ( e das coisas que com elas se movimentam), em registo de Diário anterior, chamei a atenção para o recém inaugurado Museu da Imigração (CNHI, Paris). Hoje aproveito para lembrar que temos em Portugal um museu similar também de grande interesse. Refiro-me ao Museu da Emigração e das Comunidades (Fafe) liderado por um historiador especialista nesta matéria (Doutor Miguel Monteiro). Fica o endereço (http://www.museu-emigrantes.org/museu.htm). A cho que o leitor, além da visita física, deve atrever-se a explorar os elementos disponibilizados na web por uma das unidades fundadoras da “Migration Museums Networks”. A visita virtual organiza-se por salas temáticas (Memória, Diáspora, Família, Comunidades, Lusofonia, Conhecimento). Na do “Conhecimento” o leitor encontra, sobre a emigração portuguesa vários instrumentos de trabalho e pesquisa: um levantamento de bibliografia científica (já com cerca de 350 títulos), uma biblioteca (com cerca de 4 dezenas de textos on line e disponíveis para “download”); uma sinopse da Legislação Portuguesa desde as Ordenações Filipinas até ao início do Séc. XX (Primeira República) e de Legislação Brasileira sobre imigração no Séc. XIX. Tem ainda à disposição uma série de ligações a museus e centros de estudo dedicados ao fenémeno das migrações. Verá que não dá o seu tempo por perdido.
HAF
A propósito dos processos históricos de mobilidade geográfica e transferência intra e transcontinental de pessoas ( e das coisas que com elas se movimentam), em registo de Diário anterior, chamei a atenção para o recém inaugurado Museu da Imigração (CNHI, Paris). Hoje aproveito para lembrar que temos em Portugal um museu similar também de grande interesse. Refiro-me ao Museu da Emigração e das Comunidades (Fafe) liderado por um historiador especialista nesta matéria (Doutor Miguel Monteiro). Fica o endereço (http://www.museu-emigrantes.org/museu.htm). A cho que o leitor, além da visita física, deve atrever-se a explorar os elementos disponibilizados na web por uma das unidades fundadoras da “Migration Museums Networks”. A visita virtual organiza-se por salas temáticas (Memória, Diáspora, Família, Comunidades, Lusofonia, Conhecimento). Na do “Conhecimento” o leitor encontra, sobre a emigração portuguesa vários instrumentos de trabalho e pesquisa: um levantamento de bibliografia científica (já com cerca de 350 títulos), uma biblioteca (com cerca de 4 dezenas de textos on line e disponíveis para “download”); uma sinopse da Legislação Portuguesa desde as Ordenações Filipinas até ao início do Séc. XX (Primeira República) e de Legislação Brasileira sobre imigração no Séc. XIX. Tem ainda à disposição uma série de ligações a museus e centros de estudo dedicados ao fenémeno das migrações. Verá que não dá o seu tempo por perdido.
HAF
sexta-feira, outubro 19
9850º Dia
I
Se há dias cansativos este foi um deles. Centrado na reunião no IHC. Correu bem, muito bem mesmo. Começamos a desenhar duas novas experiências. Uma delas é a realização de um seminário inter-institucional para troca de experiências e resultados de investigação, no qual participação os séniores e os doutorandos , que será concretizado em 8-10 semanas de 2º semestre do ano lectivo. A segunda não é menos interessante. Tem a ver com a prática de todos os anos nos instalarmos com os nossos alunos por 3 ou 4 dias numa cidade e região do país, explorando o melhor dos seus recursos históricos, culturais e arqueológicos, com ênfase nas transformações dos últimos 200 anos, vistos pelo prisma doajustamento à modarnidade, e nas modalidades do uso conferido àqueles recursos. A ideia é que a visita de 2007-08 , a realizar n início do 2º semestre, seja uma organização conjunta dos Grupos de História Contemporânea do DH.UE e da FCSH.UNL, e envolva os alunos de ambas as instituições. É um plano realmente entusiasmante. A região já está escolhida e as condições locais são muito favoráveis.
II
A Europa avançou durante a noite. Uma Pequena Nação deu um grande contributo. Não podemos deixar de estar orgulhosos.
No regresso a Évora, a visita dos filhos que estudam fora (um deles agora com a licenciatura “antiga” no bolso) passou a ocupar o resto do dia. Eles merecem, tal como toda a família.
HAF
Se há dias cansativos este foi um deles. Centrado na reunião no IHC. Correu bem, muito bem mesmo. Começamos a desenhar duas novas experiências. Uma delas é a realização de um seminário inter-institucional para troca de experiências e resultados de investigação, no qual participação os séniores e os doutorandos , que será concretizado em 8-10 semanas de 2º semestre do ano lectivo. A segunda não é menos interessante. Tem a ver com a prática de todos os anos nos instalarmos com os nossos alunos por 3 ou 4 dias numa cidade e região do país, explorando o melhor dos seus recursos históricos, culturais e arqueológicos, com ênfase nas transformações dos últimos 200 anos, vistos pelo prisma doajustamento à modarnidade, e nas modalidades do uso conferido àqueles recursos. A ideia é que a visita de 2007-08 , a realizar n início do 2º semestre, seja uma organização conjunta dos Grupos de História Contemporânea do DH.UE e da FCSH.UNL, e envolva os alunos de ambas as instituições. É um plano realmente entusiasmante. A região já está escolhida e as condições locais são muito favoráveis.
II
A Europa avançou durante a noite. Uma Pequena Nação deu um grande contributo. Não podemos deixar de estar orgulhosos.
No regresso a Évora, a visita dos filhos que estudam fora (um deles agora com a licenciatura “antiga” no bolso) passou a ocupar o resto do dia. Eles merecem, tal como toda a família.
HAF
quinta-feira, outubro 18
9849º Dia
I.
O arranque das aulas do Mestrado de EHE está apenas a aguardar a conclusão do processo das matrículas e o acerto imediato das equivalências que todos os estudantes solicitaram. Num momento em que podemos provocar a inversão do andamento que duradouramente marcou este programa de formação postgraduada no seu desenho antecedente - programa que poderia ter sido no passado recente uma forma de fixarmos uma posicão sólida e original na formação historiográfica portuguesa -, é fundamental que as coisas comecem e corram muito bem este ano. E para que isso aconteça é fundamental assegurar, desde logo, que os estudantes integrem de forma estável o grupo de disciplinas do semestre inicial. Mas é ainda necessário assegurar a insfraestrutura de trabalho e de acolhimento. O programa tem uma agenda de formação historiográfica muito bem definida e nela teremos de estar focalizados de forma a cumprir o objectivo que é formar um historiador tecnicamente preparado para a pensar, escrever e ensinar a História da Europa numa perspectiva transnacional, nos objectos, e comparatista, no método. É aqui que teremos de ser muito bons. Precisamos de reforçar os nossos recursos bibliográficos nestes domínios – o fraquíssimo invstimento em bibliografia internacional tem que ser invertido –, aprofundar a cooperação institucional interna e internacional, com mobilidade de docentes e estudantes , e introduzir um ensino bilingue.
II
O plano de trabalho para este dia teve de ser parcialmente alterado. Chegou a “Encyclopedia of European Social History from 1350 to 2000” (6 vols, NY, 2001) dirigida por Peter N. Stearns, “provost” da “George Mason University, e Professor no seu Departamento de História, autor de mais de cerca de 90 livros, onde se incluem obras essenciais como “Gender in World History”, “Comsumerism in World History “(2001), Western Civilization in World History” (2003) e “World Civilizations: The Global Experience (2005). O historiador social do "cultural turn" que um dia escre-veu: «History should be studied because it is essential to individuals and to society, and because it harbors beauty »(“Why Study History?”(1998). Stearns já foi vice-presidente da American Historical Association , instituição onde actualmente preside a uma das comissões cientificas (World History) e é o “editor-in-chief” do Journal of Social History. Passei uma parte da tarde a explorar a dita Encyclopedia. Como eu suspeitava é um instrumento de trabalho fundamental para o historiador social. Por vezes é reconfortante perder a cabeça para ter à mão o essencial.
No final do dia foi necessário regressar aos compromissos académicos e preparar a reunião de amanhã, no IHC- FCSH.UNL, onde faremos o balanço do “estado actual” das entradas do “Dicionário de História da 1ª República e do Republicanismo” e planearemos um ciclo de conferências reciprocas dos nossos centros de investigação , destinanda-as essencialmente aos nossos alunos.
O resto do mundo passou-me ao lado..... apesar da importante conferência que teve início em Lisboa e na qual os europeístas , onde me incluo, depositam expectativas optimistas. Talvez agora se consiga dar um passo substantivo no sentido na “Comunidade Política Europeia”, um objectivo que está presente desde que se desenhou a primeira Comunidade, no início dos anos 1950, mas que cedo conheceu dificuldades sérias e insuperáveis pela recusa do Parlamento francês (1954). Ainda pude ouvir hoje a chanceler alemã dizer ao final do dia que se estava a milímetros de um acordo. Amanhã verei se assim estivemos...
HAF
O arranque das aulas do Mestrado de EHE está apenas a aguardar a conclusão do processo das matrículas e o acerto imediato das equivalências que todos os estudantes solicitaram. Num momento em que podemos provocar a inversão do andamento que duradouramente marcou este programa de formação postgraduada no seu desenho antecedente - programa que poderia ter sido no passado recente uma forma de fixarmos uma posicão sólida e original na formação historiográfica portuguesa -, é fundamental que as coisas comecem e corram muito bem este ano. E para que isso aconteça é fundamental assegurar, desde logo, que os estudantes integrem de forma estável o grupo de disciplinas do semestre inicial. Mas é ainda necessário assegurar a insfraestrutura de trabalho e de acolhimento. O programa tem uma agenda de formação historiográfica muito bem definida e nela teremos de estar focalizados de forma a cumprir o objectivo que é formar um historiador tecnicamente preparado para a pensar, escrever e ensinar a História da Europa numa perspectiva transnacional, nos objectos, e comparatista, no método. É aqui que teremos de ser muito bons. Precisamos de reforçar os nossos recursos bibliográficos nestes domínios – o fraquíssimo invstimento em bibliografia internacional tem que ser invertido –, aprofundar a cooperação institucional interna e internacional, com mobilidade de docentes e estudantes , e introduzir um ensino bilingue.
II
O plano de trabalho para este dia teve de ser parcialmente alterado. Chegou a “Encyclopedia of European Social History from 1350 to 2000” (6 vols, NY, 2001) dirigida por Peter N. Stearns, “provost” da “George Mason University, e Professor no seu Departamento de História, autor de mais de cerca de 90 livros, onde se incluem obras essenciais como “Gender in World History”, “Comsumerism in World History “(2001), Western Civilization in World History” (2003) e “World Civilizations: The Global Experience (2005). O historiador social do "cultural turn" que um dia escre-veu: «History should be studied because it is essential to individuals and to society, and because it harbors beauty »(“Why Study History?”(1998). Stearns já foi vice-presidente da American Historical Association , instituição onde actualmente preside a uma das comissões cientificas (World History) e é o “editor-in-chief” do Journal of Social History. Passei uma parte da tarde a explorar a dita Encyclopedia. Como eu suspeitava é um instrumento de trabalho fundamental para o historiador social. Por vezes é reconfortante perder a cabeça para ter à mão o essencial.
No final do dia foi necessário regressar aos compromissos académicos e preparar a reunião de amanhã, no IHC- FCSH.UNL, onde faremos o balanço do “estado actual” das entradas do “Dicionário de História da 1ª República e do Republicanismo” e planearemos um ciclo de conferências reciprocas dos nossos centros de investigação , destinanda-as essencialmente aos nossos alunos.
O resto do mundo passou-me ao lado..... apesar da importante conferência que teve início em Lisboa e na qual os europeístas , onde me incluo, depositam expectativas optimistas. Talvez agora se consiga dar um passo substantivo no sentido na “Comunidade Política Europeia”, um objectivo que está presente desde que se desenhou a primeira Comunidade, no início dos anos 1950, mas que cedo conheceu dificuldades sérias e insuperáveis pela recusa do Parlamento francês (1954). Ainda pude ouvir hoje a chanceler alemã dizer ao final do dia que se estava a milímetros de um acordo. Amanhã verei se assim estivemos...
HAF
quarta-feira, outubro 17
9848º Dia
I
8.00-10.00: Historical Sample Portuguese Social Mobility (HSPSM)
10.00-11.00: Recebi estudantes interessados na mobilidade Erasmus. Nada se pode fazre para este ano.
11.00-20.00 : HSPSM, excepto das…
13.00-14.30: almoço com colegas , no Espírito Santo: conversamos sobre a avaliação dos centros de investigação, os paineis de avaliação exclusivamente constituido por estrangeiros (atitude típica da pequenez nacional; também é verdade que quando se incluiram portugueses, as escolhas com critérios extra-académicos transformaram-nos numa treta…como parece que ainda são onde subsistem) , e de experiências sobre a forma como os panelistas estrangeiros tem actuado, não visitando por exemplo, algumas das unidades não lisboetas, antes chamando os elementos do centro a Lisboa (ainda se fosse a Bruxelas e pagassem a viagem…..) ..
II.
A cavaqueira do almoço não terminou sem comentarários ao primeiro episódio da série documental A Guerra , de Joaquim Furtado. Dois dos comensais , ainda que de modos diferentes, viveram a experiência em Angola, outro tem na ascendência sociólogos que viveram em Moçambique e o último elemento da mesa retangular teve um parente que pelas Áfricas andou quando da Guerra da Ocupação /Pacificação ou Guerra das Resistências Êtnicas.
A Guerra promete de facto um grande documentário sobre o processo que marcou o declínio do Estado Novo. O primeiro documentário centrou-se no “início do fim”: Angola, 1961. A escolha dos fragmentos documentais é muito boa. Já conhecia alguns e tenho uma parte deles, como os depoimentos dos guerrilheiros da UPA. Parece-me que a análise do “anno horribilis” para Salazar e o Estado Novo se prolonga pelo 2º episódio : falta o 4 de Fevereiro, depois da greve e massacres da Baixa de Cassange (Dez/60 a Jan/61), e do Stª Maria (que não chegou a Luanda) e a reação portuguesa que se prolonga até 1962. Não sei se será analisado o impacto do levantamento do norte no centro e sul da Colónia/Província Ultramarina.
Deste período tenho memórias, as pessoais (tinha 7-8 anos) e as familiares: do recolhimento noturno de mulheres e crianças (que depois de prolongou durante semanas) num grande celeiro público (ICA); da organização e patrulhamento peados e motorizados de milícias populares constituidas por homens e (algumas) mulheres (defesa civil) , armados de pistolas , caçadeiras, outras armas de caça (bala), catanas, etc. ; do papel do meu pai (branco de primeira) e da minha mãe (branca de segunda) ; dos medos de todos; da “fortaleza” que se criou à volta da vila (Bela Vista, Huambo); dos incidentes, todos fruto da tensão e precipitação, com alguns danos, que sobretudo ficaram no anedotário local. Estavamos então na vila que o meu avô materno ajudara a fundar (no início do Século XX, com mais três ou quatro “pioneiros”; depois, fundaria ainda outra povoação) e para onde tinhamos acabado de mudar (viveramos até então no Alto Chiumbo, no “mato”, como se dizia) para os dois filhos do casal começarem o estudar. Mas sabemos que não foi assim tão “fácil” em todo o lado. Nada voltaria a ser como dantes. Disse alguém. E é verdade. Nos países onde tem relevância a criação de bases da investigação, as memórias civis, em particular das gerações então no activo, já teriam merecido uma recolha sistemática e não exclusivamente centrada em algumas personagens aparentemente chave (cuja importância não se discute). Resta-nos que algumas destas pessoas se aventurem pela escrita das memórias; algumas têm-no feito, é verdade. Não chega. Angola era (e é) longa, demasiado longa para um olhar circunscrito e pequeno. Fundamental, nessa recolha, é que se recuperem memórias cruzadas.
Falta também historiografia. Deveria haver uma linha de apoio específica para estudos modernos sobre a nossa experiência colonial nos últimos 200 anos. E faz muita falta. Nada a substituirá, nem as memórias nem os documentários, mesmo aqueles que revelam a qualidade de "A Guerra".
HAF
8.00-10.00: Historical Sample Portuguese Social Mobility (HSPSM)
10.00-11.00: Recebi estudantes interessados na mobilidade Erasmus. Nada se pode fazre para este ano.
11.00-20.00 : HSPSM, excepto das…
13.00-14.30: almoço com colegas , no Espírito Santo: conversamos sobre a avaliação dos centros de investigação, os paineis de avaliação exclusivamente constituido por estrangeiros (atitude típica da pequenez nacional; também é verdade que quando se incluiram portugueses, as escolhas com critérios extra-académicos transformaram-nos numa treta…como parece que ainda são onde subsistem) , e de experiências sobre a forma como os panelistas estrangeiros tem actuado, não visitando por exemplo, algumas das unidades não lisboetas, antes chamando os elementos do centro a Lisboa (ainda se fosse a Bruxelas e pagassem a viagem…..) ..
II.
A cavaqueira do almoço não terminou sem comentarários ao primeiro episódio da série documental A Guerra , de Joaquim Furtado. Dois dos comensais , ainda que de modos diferentes, viveram a experiência em Angola, outro tem na ascendência sociólogos que viveram em Moçambique e o último elemento da mesa retangular teve um parente que pelas Áfricas andou quando da Guerra da Ocupação /Pacificação ou Guerra das Resistências Êtnicas.
A Guerra promete de facto um grande documentário sobre o processo que marcou o declínio do Estado Novo. O primeiro documentário centrou-se no “início do fim”: Angola, 1961. A escolha dos fragmentos documentais é muito boa. Já conhecia alguns e tenho uma parte deles, como os depoimentos dos guerrilheiros da UPA. Parece-me que a análise do “anno horribilis” para Salazar e o Estado Novo se prolonga pelo 2º episódio : falta o 4 de Fevereiro, depois da greve e massacres da Baixa de Cassange (Dez/60 a Jan/61), e do Stª Maria (que não chegou a Luanda) e a reação portuguesa que se prolonga até 1962. Não sei se será analisado o impacto do levantamento do norte no centro e sul da Colónia/Província Ultramarina.
Deste período tenho memórias, as pessoais (tinha 7-8 anos) e as familiares: do recolhimento noturno de mulheres e crianças (que depois de prolongou durante semanas) num grande celeiro público (ICA); da organização e patrulhamento peados e motorizados de milícias populares constituidas por homens e (algumas) mulheres (defesa civil) , armados de pistolas , caçadeiras, outras armas de caça (bala), catanas, etc. ; do papel do meu pai (branco de primeira) e da minha mãe (branca de segunda) ; dos medos de todos; da “fortaleza” que se criou à volta da vila (Bela Vista, Huambo); dos incidentes, todos fruto da tensão e precipitação, com alguns danos, que sobretudo ficaram no anedotário local. Estavamos então na vila que o meu avô materno ajudara a fundar (no início do Século XX, com mais três ou quatro “pioneiros”; depois, fundaria ainda outra povoação) e para onde tinhamos acabado de mudar (viveramos até então no Alto Chiumbo, no “mato”, como se dizia) para os dois filhos do casal começarem o estudar. Mas sabemos que não foi assim tão “fácil” em todo o lado. Nada voltaria a ser como dantes. Disse alguém. E é verdade. Nos países onde tem relevância a criação de bases da investigação, as memórias civis, em particular das gerações então no activo, já teriam merecido uma recolha sistemática e não exclusivamente centrada em algumas personagens aparentemente chave (cuja importância não se discute). Resta-nos que algumas destas pessoas se aventurem pela escrita das memórias; algumas têm-no feito, é verdade. Não chega. Angola era (e é) longa, demasiado longa para um olhar circunscrito e pequeno. Fundamental, nessa recolha, é que se recuperem memórias cruzadas.
Falta também historiografia. Deveria haver uma linha de apoio específica para estudos modernos sobre a nossa experiência colonial nos últimos 200 anos. E faz muita falta. Nada a substituirá, nem as memórias nem os documentários, mesmo aqueles que revelam a qualidade de "A Guerra".
HAF
terça-feira, outubro 16
9847º Dia
8.00-10.00: Sessão de turoria de História das Instituições e dos Grupos Sociais no Período Contemporâneo
10.00-10.30: Alunos Erasmus/Vagas disponíveis. Uma confusão, nesta Universidade. Salta a vista a organização deficiente que gere o programa.
10.30- 11.30: Dossier Mestrado EHE: análise de processos.
11.30-13.30 : Discussão de trabalhos de Seminário de História. Dois elementos comuns: um grande empenho dos estudantes; a “barreira” literária. Um problema muitíssimo sério que a Universidade não se empenha em resolver. Não serve o argumento de que vem mal preparados dos ciclos de estudo antecedentes. Por vezes ocorre-me pensar que saiem daqui piores do que quando entraram . Temos também muitas responsabilidades, sem dúvida. Os primeiros anos da licenciatura são fundamentais. E aí está localizada a nossa grande fraqueza. A Bolonhização, pelas solução adoptada, não vai permitir vencer esse grande enpecilho (pode mesmo agravá-lo.) O tempo o dirá. Entretanto prejudicamos a formação a três ou quatro gerações de jovens universitários.
15.00. Correspondência electrónica: reunião de júris, no IHC-UNL ; papers para sessão da APHES, etc.
16.00-20.00 : Regresso à Base de dados HSPSM
21.oo-22.00: “A Guerra” (a Guerra do Ultramar/de África/ Colonial/ da Independência, vista e comentada em família)
II.
Na edição de hoje a primeira página do Diário Económico dá uma enfâse especial ao caso do(s) empréstimo(s) do BCP perdoados a empresas ligadas a um dos rebentos e a outras pessoas próximas do Presidente da mais poderosa instituição bancária do país. Um caso a seguir…..que provavelmente tem, como não podia deixar de ser, batota pelo meio. E da grossa.
Embora possamos relacioná-las, esta não me parece ser a notícia mais importante daquela página. Verdadeiramente relevante é que “Há dois milhões de pobres em Portugal”. Neste artigo Sofia Lobato Dias noticia dados estatísticos ontem publicados, e inclui comentários do João Luís César das Neves, reputado economista liberal e Professor de Universidade Católica e (ainda?) do Instituto de Altos Estudos Militares, e por Fernando Nobre, presidente da Assistência Médica Internacional. Escreve a jornalista: «Os números são alarmantes. Um terço da população activa (entre os 16 e os 64 anos) seria pobre se dependesse apenas dos rendimentos do trabalho, de capital e de transferências privadas. De acordo com as estatísticas ontem publicadas pelo INE, sem as pensões de reforma e as transferências sociais do Estado, mais de quatro milhões de portugueses estariam em risco de pobreza.» Mesmo com as transferências sociais do Estado havia na em Portugal, em 2005, 2 milhões de portugueses no “limiar da pobreza” (cerca de 1/5 da população residente), gente que então vivia com cerca de 260 euros/ mês. O nível da quota dos pobres no conjunto da sociedade portuguesa parece estável desde 1995-96 embora se detecte um desigual andamento do pobreza consoante a dimensão das famílias. Segundo o Público, que comenta os mesmos dados do INE ( Inquérito às Condições de Vida e Rendimento), de 2004 para 2005, a quota dos pobres agravou-se em particular entre as famílias numerosas (isto é, “as famílias com três ou mais crianças” ) (de 38 para 42%). O leitor interessado em dados mais detalhados pode consultar a “Informação à Comunicação Social”, INE, de 15 de Outubro de 2007.
Para João César das Neves a responsabilidade é dos pobres e em particular da cidadania social que há muito distingue as sociedades democráticas europeias: « “É a própria concepção do Estado social que fomenta esta dependência das pessoas face ao Estado. (…) As pessoas pagam ao Estado para terem acesso a pensões de reforma e depois esperam, obviamente, receber. (…) Antes [da Revolução do 25 de Abril] , Portugal tinha das mais altas taxas de poupança do mundo porque as pessoas não contavam com o dinheiro do Estado”.
Uma interpretação respeitável mas puramente ideológica. Em primeiro lugar, os pobres não poupam o que não têm. Em segundo lugar, o Estado e a Sociedade Civil (incluíndo os empresários, etc…) continuam a fazer muito pouco pela superação da pobreza, tanto em matéria de transferências sociais como de politicas activas que a combatam (emprego, mais oportunidades educativas, etc..). Qualquer conhecedor dos sistemas de protecção social europeus, os mais evoluidos do mundo, sabe o que caracteriza o chamado “modelo mediterrânico” (fraca institucionalização, fraqueza ética, ineficácia, etc…). Em terceiro lugar, não está provado que em Portugal sejam os pobres os principais beneficiários de todas as transferências (que não apenas as sociais)que o Estado proporciona. Em quarto lugar, em relação ao mundo do trabalho as práticas empresariais em Portugal não são exemplares em matéria de bons valores éticos e responsabilidade social. Em quinto lugar, o envelhecimento da população portuguesa no topo da pirâmede nas últimas décadas foi muito acelerado, o que aumentou expressivamente o números de pensionsistas e reformados (nomeadamente dos titulares de pensões e reformas muito baixas)tendo uma parte deles sido quotizados enquanto activos durante pouco tempo. Finalmente, noutros países da Europa as transferência sociais directas ou indirectas cobrem uma faixa muito mais ampla da população. Basta pensar na desigualdade existente em matéria de apoios sociais ao prolongamento de estudos. E nós sabemos que mais um ano de estudos formais pode representar em média, no mercado do trabalho, um acréscimo de 10-15% nos rendimentos individuais.
Mas a notícia contêm um dado essencial da situação social portuguesa: «O fosso entre pobres e ricos em Portugal é […] o maior no conjunto dos países da União Europeia. O rendimento dos dois milhões de portugueses mais ricos do país é quase sete vezes maior do que o rendimento dos dois milhões de pessoas mais pobres.» Os dados , ainda que grosseiros, podem ser apresentados da forma seguinte (para 10,5 milhões de habitantes residentes em Portugal, 2006):
19% dos Portugueses / 7,5 % do rendimento líquido das familias
62% dos Portugueses / 47,5% do rendimento líquido das famílias
19% dos Portugueses / 45% do rendimento líquido das famílias
Este incremento da desigualdade social na última década, que é coincidente com as ainda reduzidas oportunidades para a maioria dos jovens realizar estudos prolongados, mostra que de facto a estrutura social portuguesa mantêm uma configuração losangular (tipo cebola valenciana), próxima do modelo americano e britânico (as sociedades mais desiguais entre os países do “Ocidente”) e, infelizmente para os portugueses, bem distante do modelo nórdico (tipo gota de água). E sabemos como as políticas económicas, fiscais e sociais constituem um forte contributo para o desenho daquelas configurações. Já basta aos pobres, serem pobres. Muitos deles são herdeiros dessa posição ocupada por muitas gerações, ou seja, são filhos, netos e bisnetos de pobres. E para os filhos dos pobres do presente o destino mais provável é permanecerem pobres. São escassas as oportunidades e os mecanismos para individualmente poderem sair desse círculo de pobreza. E o mesmo ocorre no outro extremo da pirâmede, onde a competição é desleal (veja-se o caso do perdão de dívidas do BCP: alguém imagina uma perdão bancário que evitasse os novos “pobres” que se afundaram com as prestações bancárias? ; o que podia o BCP fazer com 25 milhões de euros do ponto de vista da integração social?) .
A incapacidade de vencer esse grande segmento de pobreza que persite de forma tão duradoura na sociedade portuguesa deve envergonhar todos os portugueses, em particular as nosssas elites políticas [do “centrão”] e económicas, as primeiras responsáveis. Mas a quem ninguém pede responsabilidades efectivas. Por isso, neste sentido, são “os irresponsáveis”, os herdeiros de muitas gerações de igual atributo. O nosso Pacto Social está errado. Se o tivessem solicitado eu teria assinado a petição promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz, organização da Igreja Católica, que será amanhã entregue ao Parlamento solicitando “que a Pobreza seja reconhecida “como uma violação grave dos direitos humanos”. No documento se diz que “nunca, como hoje, foi tão possível erradicar a pobreza” (Público). Isso é de um enorme acerto. Ponto final.
HAF
10.00-10.30: Alunos Erasmus/Vagas disponíveis. Uma confusão, nesta Universidade. Salta a vista a organização deficiente que gere o programa.
10.30- 11.30: Dossier Mestrado EHE: análise de processos.
11.30-13.30 : Discussão de trabalhos de Seminário de História. Dois elementos comuns: um grande empenho dos estudantes; a “barreira” literária. Um problema muitíssimo sério que a Universidade não se empenha em resolver. Não serve o argumento de que vem mal preparados dos ciclos de estudo antecedentes. Por vezes ocorre-me pensar que saiem daqui piores do que quando entraram . Temos também muitas responsabilidades, sem dúvida. Os primeiros anos da licenciatura são fundamentais. E aí está localizada a nossa grande fraqueza. A Bolonhização, pelas solução adoptada, não vai permitir vencer esse grande enpecilho (pode mesmo agravá-lo.) O tempo o dirá. Entretanto prejudicamos a formação a três ou quatro gerações de jovens universitários.
15.00. Correspondência electrónica: reunião de júris, no IHC-UNL ; papers para sessão da APHES, etc.
16.00-20.00 : Regresso à Base de dados HSPSM
21.oo-22.00: “A Guerra” (a Guerra do Ultramar/de África/ Colonial/ da Independência, vista e comentada em família)
II.
Na edição de hoje a primeira página do Diário Económico dá uma enfâse especial ao caso do(s) empréstimo(s) do BCP perdoados a empresas ligadas a um dos rebentos e a outras pessoas próximas do Presidente da mais poderosa instituição bancária do país. Um caso a seguir…..que provavelmente tem, como não podia deixar de ser, batota pelo meio. E da grossa.
Embora possamos relacioná-las, esta não me parece ser a notícia mais importante daquela página. Verdadeiramente relevante é que “Há dois milhões de pobres em Portugal”. Neste artigo Sofia Lobato Dias noticia dados estatísticos ontem publicados, e inclui comentários do João Luís César das Neves, reputado economista liberal e Professor de Universidade Católica e (ainda?) do Instituto de Altos Estudos Militares, e por Fernando Nobre, presidente da Assistência Médica Internacional. Escreve a jornalista: «Os números são alarmantes. Um terço da população activa (entre os 16 e os 64 anos) seria pobre se dependesse apenas dos rendimentos do trabalho, de capital e de transferências privadas. De acordo com as estatísticas ontem publicadas pelo INE, sem as pensões de reforma e as transferências sociais do Estado, mais de quatro milhões de portugueses estariam em risco de pobreza.» Mesmo com as transferências sociais do Estado havia na em Portugal, em 2005, 2 milhões de portugueses no “limiar da pobreza” (cerca de 1/5 da população residente), gente que então vivia com cerca de 260 euros/ mês. O nível da quota dos pobres no conjunto da sociedade portuguesa parece estável desde 1995-96 embora se detecte um desigual andamento do pobreza consoante a dimensão das famílias. Segundo o Público, que comenta os mesmos dados do INE ( Inquérito às Condições de Vida e Rendimento), de 2004 para 2005, a quota dos pobres agravou-se em particular entre as famílias numerosas (isto é, “as famílias com três ou mais crianças” ) (de 38 para 42%). O leitor interessado em dados mais detalhados pode consultar a “Informação à Comunicação Social”, INE, de 15 de Outubro de 2007.
Para João César das Neves a responsabilidade é dos pobres e em particular da cidadania social que há muito distingue as sociedades democráticas europeias: « “É a própria concepção do Estado social que fomenta esta dependência das pessoas face ao Estado. (…) As pessoas pagam ao Estado para terem acesso a pensões de reforma e depois esperam, obviamente, receber. (…) Antes [da Revolução do 25 de Abril] , Portugal tinha das mais altas taxas de poupança do mundo porque as pessoas não contavam com o dinheiro do Estado”.
Uma interpretação respeitável mas puramente ideológica. Em primeiro lugar, os pobres não poupam o que não têm. Em segundo lugar, o Estado e a Sociedade Civil (incluíndo os empresários, etc…) continuam a fazer muito pouco pela superação da pobreza, tanto em matéria de transferências sociais como de politicas activas que a combatam (emprego, mais oportunidades educativas, etc..). Qualquer conhecedor dos sistemas de protecção social europeus, os mais evoluidos do mundo, sabe o que caracteriza o chamado “modelo mediterrânico” (fraca institucionalização, fraqueza ética, ineficácia, etc…). Em terceiro lugar, não está provado que em Portugal sejam os pobres os principais beneficiários de todas as transferências (que não apenas as sociais)que o Estado proporciona. Em quarto lugar, em relação ao mundo do trabalho as práticas empresariais em Portugal não são exemplares em matéria de bons valores éticos e responsabilidade social. Em quinto lugar, o envelhecimento da população portuguesa no topo da pirâmede nas últimas décadas foi muito acelerado, o que aumentou expressivamente o números de pensionsistas e reformados (nomeadamente dos titulares de pensões e reformas muito baixas)tendo uma parte deles sido quotizados enquanto activos durante pouco tempo. Finalmente, noutros países da Europa as transferência sociais directas ou indirectas cobrem uma faixa muito mais ampla da população. Basta pensar na desigualdade existente em matéria de apoios sociais ao prolongamento de estudos. E nós sabemos que mais um ano de estudos formais pode representar em média, no mercado do trabalho, um acréscimo de 10-15% nos rendimentos individuais.
Mas a notícia contêm um dado essencial da situação social portuguesa: «O fosso entre pobres e ricos em Portugal é […] o maior no conjunto dos países da União Europeia. O rendimento dos dois milhões de portugueses mais ricos do país é quase sete vezes maior do que o rendimento dos dois milhões de pessoas mais pobres.» Os dados , ainda que grosseiros, podem ser apresentados da forma seguinte (para 10,5 milhões de habitantes residentes em Portugal, 2006):
19% dos Portugueses / 7,5 % do rendimento líquido das familias
62% dos Portugueses / 47,5% do rendimento líquido das famílias
19% dos Portugueses / 45% do rendimento líquido das famílias
Este incremento da desigualdade social na última década, que é coincidente com as ainda reduzidas oportunidades para a maioria dos jovens realizar estudos prolongados, mostra que de facto a estrutura social portuguesa mantêm uma configuração losangular (tipo cebola valenciana), próxima do modelo americano e britânico (as sociedades mais desiguais entre os países do “Ocidente”) e, infelizmente para os portugueses, bem distante do modelo nórdico (tipo gota de água). E sabemos como as políticas económicas, fiscais e sociais constituem um forte contributo para o desenho daquelas configurações. Já basta aos pobres, serem pobres. Muitos deles são herdeiros dessa posição ocupada por muitas gerações, ou seja, são filhos, netos e bisnetos de pobres. E para os filhos dos pobres do presente o destino mais provável é permanecerem pobres. São escassas as oportunidades e os mecanismos para individualmente poderem sair desse círculo de pobreza. E o mesmo ocorre no outro extremo da pirâmede, onde a competição é desleal (veja-se o caso do perdão de dívidas do BCP: alguém imagina uma perdão bancário que evitasse os novos “pobres” que se afundaram com as prestações bancárias? ; o que podia o BCP fazer com 25 milhões de euros do ponto de vista da integração social?) .
A incapacidade de vencer esse grande segmento de pobreza que persite de forma tão duradoura na sociedade portuguesa deve envergonhar todos os portugueses, em particular as nosssas elites políticas [do “centrão”] e económicas, as primeiras responsáveis. Mas a quem ninguém pede responsabilidades efectivas. Por isso, neste sentido, são “os irresponsáveis”, os herdeiros de muitas gerações de igual atributo. O nosso Pacto Social está errado. Se o tivessem solicitado eu teria assinado a petição promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz, organização da Igreja Católica, que será amanhã entregue ao Parlamento solicitando “que a Pobreza seja reconhecida “como uma violação grave dos direitos humanos”. No documento se diz que “nunca, como hoje, foi tão possível erradicar a pobreza” (Público). Isso é de um enorme acerto. Ponto final.
HAF
segunda-feira, outubro 15
9846º Dia
I
A organização e preparação de uma sessão de seminário de Mestrado ou 2º Ciclo consome-me sempre cerca de 5-6 horas. Foi o que aconteceu hoje. E por isso a primeira sessão de trabalho do seminário “A Europa dos Séculos XIX e XX : Das Sociedades Nacionais à Sociedade Europeia ? “, das 17-20 h correu bem. Foi a minha primeira aula no Convento do Carmo, edifício que em tempos (há muito) foi do JM Eugénio de Almeida (1811-1872), um dos maiores capitalistas portugueses do Século XIX. A turma parece estar a reagir bem ao método de trabalho adoptado. Quase todos os estudantes tinham lido o texto guia. Saí satisfeito da sessão. O que não posso deixar de lamentar é o facto de ter necessidade de gastar cerca de 20 minutos (16.40-17.00) para instalar os equipamentos (data show etc…) e depois outros tanto (19.50-20.10) para deixar tudo arrumado e devolvido. É preciso uma nova política para a qualidade das condições materiais de ensino na Universidade de Évora.
II.
Ontem tive uma recaída. Voltei a passar pelo Prós e Contras da Fátima Campos Ferreira. Os jornais anunciavam que o tema era a Guerra.Imaginei que estivesse relacionado com a série documental com o mesmo título realizada por uma equipa coordenada pelo jornalista Joaquim Furtado [parece que tem um subtítulo mas nem na pag. web da RTP a informação prestada é completa]. E estava. E se as referências que tenho lido sobre a série são interessantes, o programa de ontem foi simplesmentee miserável. Desistí depois da intervenção delirante de um militar (talvez um habitué do programa…..pois já por lá o vi moutras ocasiões). A pivot estava mal preparada, como sempre. Impressiona pela regularidade de questionários tontos, disparatados e errantes. A animação foi entregue a um painel de militares e a um cientista/analista político, tudo muito ISCSP.UTL. Historiadores profissionais, nem um. Estamos num país assím: a História divulgada ou é pura ideologia ou é uma colecção de pequenos episódios, “palpites” e impressões pessoais. Ouvir sobre a matéria historiadores profissionais (portugueses, angolanos, guineenses, moçambicanos, e outros), isso é que não pode ser. Temos é de dar atenção aos “protagonistas” e ouvi-los sobre o que alvitavam sobre o assunto quando eram pequeninos e grandinhos e o que "palpitam" agora que estão mais madurinhos. E por isso aquilo ontem foi mais um churrilho de asneiras, desta vez sobre as colónias, os impérios, a organização administrativa das colónias, os estatutos coloniais, as guerras de pacificação/ocupação, os indígenas, etc, etc. E o show deve ter continuado depois de eu ter mudado de canal. Não seriam capazes de me fazer tal maldade, melhorando a coisa. O país pomposo, "pipocas", bem relacionado, expert, visionário e até heróico mas historiografiamente ignorante esteve lá muito bem representado e no seu melhor. Constrangido mesmo só o Joaquim Furtado. Bem tentou remar mas a corrente mediocre é forte.
Aí está. Uma boa ideia ( a visão cruzada) e um muito mau resultado. O melhor mesmo é concentrarmo-nos na série documental. Amanhã, por volta das 21.00. Lá estarei.
HAF
A organização e preparação de uma sessão de seminário de Mestrado ou 2º Ciclo consome-me sempre cerca de 5-6 horas. Foi o que aconteceu hoje. E por isso a primeira sessão de trabalho do seminário “A Europa dos Séculos XIX e XX : Das Sociedades Nacionais à Sociedade Europeia ? “, das 17-20 h correu bem. Foi a minha primeira aula no Convento do Carmo, edifício que em tempos (há muito) foi do JM Eugénio de Almeida (1811-1872), um dos maiores capitalistas portugueses do Século XIX. A turma parece estar a reagir bem ao método de trabalho adoptado. Quase todos os estudantes tinham lido o texto guia. Saí satisfeito da sessão. O que não posso deixar de lamentar é o facto de ter necessidade de gastar cerca de 20 minutos (16.40-17.00) para instalar os equipamentos (data show etc…) e depois outros tanto (19.50-20.10) para deixar tudo arrumado e devolvido. É preciso uma nova política para a qualidade das condições materiais de ensino na Universidade de Évora.
II.
Ontem tive uma recaída. Voltei a passar pelo Prós e Contras da Fátima Campos Ferreira. Os jornais anunciavam que o tema era a Guerra.Imaginei que estivesse relacionado com a série documental com o mesmo título realizada por uma equipa coordenada pelo jornalista Joaquim Furtado [parece que tem um subtítulo mas nem na pag. web da RTP a informação prestada é completa]. E estava. E se as referências que tenho lido sobre a série são interessantes, o programa de ontem foi simplesmentee miserável. Desistí depois da intervenção delirante de um militar (talvez um habitué do programa…..pois já por lá o vi moutras ocasiões). A pivot estava mal preparada, como sempre. Impressiona pela regularidade de questionários tontos, disparatados e errantes. A animação foi entregue a um painel de militares e a um cientista/analista político, tudo muito ISCSP.UTL. Historiadores profissionais, nem um. Estamos num país assím: a História divulgada ou é pura ideologia ou é uma colecção de pequenos episódios, “palpites” e impressões pessoais. Ouvir sobre a matéria historiadores profissionais (portugueses, angolanos, guineenses, moçambicanos, e outros), isso é que não pode ser. Temos é de dar atenção aos “protagonistas” e ouvi-los sobre o que alvitavam sobre o assunto quando eram pequeninos e grandinhos e o que "palpitam" agora que estão mais madurinhos. E por isso aquilo ontem foi mais um churrilho de asneiras, desta vez sobre as colónias, os impérios, a organização administrativa das colónias, os estatutos coloniais, as guerras de pacificação/ocupação, os indígenas, etc, etc. E o show deve ter continuado depois de eu ter mudado de canal. Não seriam capazes de me fazer tal maldade, melhorando a coisa. O país pomposo, "pipocas", bem relacionado, expert, visionário e até heróico mas historiografiamente ignorante esteve lá muito bem representado e no seu melhor. Constrangido mesmo só o Joaquim Furtado. Bem tentou remar mas a corrente mediocre é forte.
Aí está. Uma boa ideia ( a visão cruzada) e um muito mau resultado. O melhor mesmo é concentrarmo-nos na série documental. Amanhã, por volta das 21.00. Lá estarei.
HAF
domingo, outubro 14
9845º Dia
“CITÉ NATIONALE DE L`HISTOIRE DE L`IMMIGRATION (CNHI)"
Inaugurado em 10.Out.2007 (Paris). Pode começar por visitar o Site, onde encontra documentos muito interessantes ( http://www.histoire-immigration.fr/ ).
E a propósito da abertura do CNHI, não deixe de ler a declaração que segue subscrita pelos Historiadores demissionários há cinco meses do Conselho Cientifico do referido museu (Le Monde, 09.Out.2007):
“ La Cité nationale de l'histoire de l'immigration ouvre ses portes sans tambour ni trompette, comme si les plus hautes autorités de l'Etat cherchaient aujourd'hui à minimiser l'événement. Et, pourtant,l'ouverture de ce lieu de mémoire marque un moment important dans la vie politique et culturelle française. Le rôle majeur joué par l'immigration dans l'histoire contemporaine de la France est enfin reconnu par la communauté nationale.
En mai, nous avons démissionné du conseil scientifique de la CNHI, en dépit de notre attachement à ce projet, parce que la création du "ministère de l'immigration et de l'identité nationale", par son intitulé même, contredit les objectifs civiques que poursuit la Cité. Cette association de mots ne pouvait que conforter les stéréotypes et les préjugés qui existent aujourd'hui en France sur l'immigration.
Quatre mois après la création de ce ministère, nous constatons, hélas, que nos craintes étaient fondées. Les immigrés sont présentés, désormais, comme une menace pour l'identité nationale, comme des fraudeurs en puissance, des suspects qui doivent recourir à des tests ADN pour prouver leur bonne foi et leur bon droit. L'histoire de l'immigration est fréquemment mobilisée pour justifier ces mesures, dans des discours opposant les "bons" immigrés d'hier, respectueux des "valeurs républicaines" et qui "ont fait l'effort de s'intégrer", aux "mauvais" d'aujourd'hui.
Le projet défendu par la CNHI va à l'encontre de ces stéréotypes. Ceux qui l'ont conçu et porté ont toujours refusé de les cautionner, de même qu'ils ont toujours refusé d'entrer dans les polémiques stériles opposant les adeptes de la repentance et les tenants de l'antirepentance. La CNHI est un établissement culturel qui a une vocation éducative. Sa principale mission est de faire mieux connaître l'histoire des migrations pour combattre les contre-vérités et les fantasmes ; c'est la seule façon de former des citoyens un peu plus tolérants et respectueux des autres.
En dépit des difficultés qui ont jalonné sa mise en place, cette Cité est le résultat d'un travail collectif auquel ont contribué associations, chercheurs et acteurs de la vie publique, tous convaincus, au-delà de leurs divergences de vues, qu'il fallait changer le regard sur l'immigration. A contre-courant de l'offensive actuelle, on peut faire le pari que cette idée reste et sera partagée par un très grand nombre de Français. Pour toutes ces raisons nous souhaitons longue vie à la CNHI. Mais nous appelons à la vigilance pour éviter que ce lieu de mémoire soit détourné de sa fonction première.
Marie-Claude Blanc-Chaléard, historienne Paris-I ;
Geneviève Dreyfus-Armand, historienne ;
Nancy L. Green, historienne EHESS ;
Gérard Noiriel, historien EHESS ;
Patrick Simon, démographe INED ;
Vincent Viet, historien IDHE ;
Marie-Christine Volovitch-Tavarès, historienne
Patrick Weil, historien CNRS-Paris-I. "
E, já agora
HAF
Inaugurado em 10.Out.2007 (Paris). Pode começar por visitar o Site, onde encontra documentos muito interessantes ( http://www.histoire-immigration.fr/ ).
E a propósito da abertura do CNHI, não deixe de ler a declaração que segue subscrita pelos Historiadores demissionários há cinco meses do Conselho Cientifico do referido museu (Le Monde, 09.Out.2007):
“ La Cité nationale de l'histoire de l'immigration ouvre ses portes sans tambour ni trompette, comme si les plus hautes autorités de l'Etat cherchaient aujourd'hui à minimiser l'événement. Et, pourtant,l'ouverture de ce lieu de mémoire marque un moment important dans la vie politique et culturelle française. Le rôle majeur joué par l'immigration dans l'histoire contemporaine de la France est enfin reconnu par la communauté nationale.
En mai, nous avons démissionné du conseil scientifique de la CNHI, en dépit de notre attachement à ce projet, parce que la création du "ministère de l'immigration et de l'identité nationale", par son intitulé même, contredit les objectifs civiques que poursuit la Cité. Cette association de mots ne pouvait que conforter les stéréotypes et les préjugés qui existent aujourd'hui en France sur l'immigration.
Quatre mois après la création de ce ministère, nous constatons, hélas, que nos craintes étaient fondées. Les immigrés sont présentés, désormais, comme une menace pour l'identité nationale, comme des fraudeurs en puissance, des suspects qui doivent recourir à des tests ADN pour prouver leur bonne foi et leur bon droit. L'histoire de l'immigration est fréquemment mobilisée pour justifier ces mesures, dans des discours opposant les "bons" immigrés d'hier, respectueux des "valeurs républicaines" et qui "ont fait l'effort de s'intégrer", aux "mauvais" d'aujourd'hui.
Le projet défendu par la CNHI va à l'encontre de ces stéréotypes. Ceux qui l'ont conçu et porté ont toujours refusé de les cautionner, de même qu'ils ont toujours refusé d'entrer dans les polémiques stériles opposant les adeptes de la repentance et les tenants de l'antirepentance. La CNHI est un établissement culturel qui a une vocation éducative. Sa principale mission est de faire mieux connaître l'histoire des migrations pour combattre les contre-vérités et les fantasmes ; c'est la seule façon de former des citoyens un peu plus tolérants et respectueux des autres.
En dépit des difficultés qui ont jalonné sa mise en place, cette Cité est le résultat d'un travail collectif auquel ont contribué associations, chercheurs et acteurs de la vie publique, tous convaincus, au-delà de leurs divergences de vues, qu'il fallait changer le regard sur l'immigration. A contre-courant de l'offensive actuelle, on peut faire le pari que cette idée reste et sera partagée par un très grand nombre de Français. Pour toutes ces raisons nous souhaitons longue vie à la CNHI. Mais nous appelons à la vigilance pour éviter que ce lieu de mémoire soit détourné de sa fonction première.
Marie-Claude Blanc-Chaléard, historienne Paris-I ;
Geneviève Dreyfus-Armand, historienne ;
Nancy L. Green, historienne EHESS ;
Gérard Noiriel, historien EHESS ;
Patrick Simon, démographe INED ;
Vincent Viet, historien IDHE ;
Marie-Christine Volovitch-Tavarès, historienne
Patrick Weil, historien CNRS-Paris-I. "
E, já agora
HAF
sábado, outubro 13
9844º Dia
I
A carreira universitária profissional (distanciando assim outros tipos de presença nesta actividade) é uma das carreiras mais duras no grupo dos servidores públicos e dos quadros superiores em geral, incluindo a da generalidade dos professores. O Estatuto da Carreira Docente Universitária em vigor fixa no essencial as seguintes categorias de carreira: Assistente Estagiário, Assistente, Professor Auxiliar, Professor Associado e Professor Catedrátrico. A passagem de uma categoria para outra exige, em várias modalidades, provas duras e de longa preparação e concursos académicos escrutinados por júris qualificados e inter-institucionais. Neste modelo de carreira, só depois do Doutoramento, que “garante” a passagem de Assistente a Professor Auxiliar, e de 5 anos na categoria de Professor Auxiliar, o docente universitário pode aspirar à nomeação definitiva.
Até ao final do Século XX, por muitas razões da vida académica (carga lectiva acima da recomendada, regência integral de disciplinas por falta de professores séniores, restrições nas dispensas de serviço e outros factores mais específicos), era muito difícil em alguns domínios académicos, como na generalidade das Ciências Humanas e Sociais, atingir posições de alguma solidez antes dos 10-12 anos ( acesso a professor auxiliar) ou 15 a 17 anos (nomeação definitiva) de actividade. É preciso também dizer que o mais frequente era a entrada na carreira fazer-se na posição inicial (assistente estagiário), sendo mais raro o recrutamento directo de assistentes e de professores auxiliares.
Nesta carreira, até à nomeação definitiva, há sempre a possibilidade de ser dispensado, embora até à pouco tempo atrás isso fosse pouco frequente. Além disso a possibilidade de fracassar também é elevada. Nada que não aconteça noutras profissões públicas. Invulgar é o facto de, até agora, os colegas dispensados ou que eram forçados a abandonar a carreira por não conseguiam superar a etapa do doutoramento no prazo legal estabelecido, não terem acesso a um instrumento fundamental da protecção social que em muitos países europeus está universalizado desde os anos 1950: o direito básico ao subsídio de desemprego. Perante esta circunstância comprepende-se que na generalidade das instituições, muitas vezes por interesse próprio e ainda que numas com mais frequência do que noutras, a estes docentes se tenha prolongado a oportunidade com contratos de assistente-convidado durante vários anos…. Nem sempre com uma meta concreta à vista.
Graças tanto à persistência com que os sindicatos mantiveram este assunto na agenda reivindicativa e política, como à iniciativa do Provedor da Justiça e recomendação do Tribunal Constitucional – foi preciso isto tudo…..-, o governo corrigiu uma enorme injustiça. Muito tarde, é verdade. Já muitos colegas foram prejudicados. Não consigo estar grato por só no século XXI, mais de três décadas depois do 25 de Abril e de quase tantas de “democratização” (eu sei que estou a ser generoso/exagerado) da protecção social em Portugal, os professores universitários , como servidores públicos, terem obtido o acesso a um direito básico. Além disso o facto de agora o governo ter aprovado a proposta de lei que cria o subsídio do desemprego tem naturalmente em vista amenizar o impacto da intensificação dos despedimentos, alguns deles eticamente inaceitáveis, de que começa-mos a ter notícias todos os dias. E não se pense que estão a sair só os piores (se é que estes estão a sair) , porque isso não é verdade.
II
Escrevo este registo com um olho num canal de televisão que tem uma Operação em curso. Já se tornou uma maçada a regularidade com que cruzamos com personalidades “ímpares da cultura” portuguesa. Delas devemos ter o per capita mais elevado. "Facto" que tenho alguma obstinação em aceitar .
III
A jornada de trabalho concentrou-se na leitura de meia dúzia de trabalhos de estudantes finalistas da Licenciatura em História e do mestrado de Relações Internacionais e Estudos Europeus.
HAF
A carreira universitária profissional (distanciando assim outros tipos de presença nesta actividade) é uma das carreiras mais duras no grupo dos servidores públicos e dos quadros superiores em geral, incluindo a da generalidade dos professores. O Estatuto da Carreira Docente Universitária em vigor fixa no essencial as seguintes categorias de carreira: Assistente Estagiário, Assistente, Professor Auxiliar, Professor Associado e Professor Catedrátrico. A passagem de uma categoria para outra exige, em várias modalidades, provas duras e de longa preparação e concursos académicos escrutinados por júris qualificados e inter-institucionais. Neste modelo de carreira, só depois do Doutoramento, que “garante” a passagem de Assistente a Professor Auxiliar, e de 5 anos na categoria de Professor Auxiliar, o docente universitário pode aspirar à nomeação definitiva.
Até ao final do Século XX, por muitas razões da vida académica (carga lectiva acima da recomendada, regência integral de disciplinas por falta de professores séniores, restrições nas dispensas de serviço e outros factores mais específicos), era muito difícil em alguns domínios académicos, como na generalidade das Ciências Humanas e Sociais, atingir posições de alguma solidez antes dos 10-12 anos ( acesso a professor auxiliar) ou 15 a 17 anos (nomeação definitiva) de actividade. É preciso também dizer que o mais frequente era a entrada na carreira fazer-se na posição inicial (assistente estagiário), sendo mais raro o recrutamento directo de assistentes e de professores auxiliares.
Nesta carreira, até à nomeação definitiva, há sempre a possibilidade de ser dispensado, embora até à pouco tempo atrás isso fosse pouco frequente. Além disso a possibilidade de fracassar também é elevada. Nada que não aconteça noutras profissões públicas. Invulgar é o facto de, até agora, os colegas dispensados ou que eram forçados a abandonar a carreira por não conseguiam superar a etapa do doutoramento no prazo legal estabelecido, não terem acesso a um instrumento fundamental da protecção social que em muitos países europeus está universalizado desde os anos 1950: o direito básico ao subsídio de desemprego. Perante esta circunstância comprepende-se que na generalidade das instituições, muitas vezes por interesse próprio e ainda que numas com mais frequência do que noutras, a estes docentes se tenha prolongado a oportunidade com contratos de assistente-convidado durante vários anos…. Nem sempre com uma meta concreta à vista.
Graças tanto à persistência com que os sindicatos mantiveram este assunto na agenda reivindicativa e política, como à iniciativa do Provedor da Justiça e recomendação do Tribunal Constitucional – foi preciso isto tudo…..-, o governo corrigiu uma enorme injustiça. Muito tarde, é verdade. Já muitos colegas foram prejudicados. Não consigo estar grato por só no século XXI, mais de três décadas depois do 25 de Abril e de quase tantas de “democratização” (eu sei que estou a ser generoso/exagerado) da protecção social em Portugal, os professores universitários , como servidores públicos, terem obtido o acesso a um direito básico. Além disso o facto de agora o governo ter aprovado a proposta de lei que cria o subsídio do desemprego tem naturalmente em vista amenizar o impacto da intensificação dos despedimentos, alguns deles eticamente inaceitáveis, de que começa-mos a ter notícias todos os dias. E não se pense que estão a sair só os piores (se é que estes estão a sair) , porque isso não é verdade.
II
Escrevo este registo com um olho num canal de televisão que tem uma Operação em curso. Já se tornou uma maçada a regularidade com que cruzamos com personalidades “ímpares da cultura” portuguesa. Delas devemos ter o per capita mais elevado. "Facto" que tenho alguma obstinação em aceitar .
III
A jornada de trabalho concentrou-se na leitura de meia dúzia de trabalhos de estudantes finalistas da Licenciatura em História e do mestrado de Relações Internacionais e Estudos Europeus.
HAF
sexta-feira, outubro 12
9843º Dia
I
Vou tentar reservar a noite para ver o Caimão (Nanni Moretti, 2006, produção franco-iatliana) que tanto quanto sei é uma sátira ao trajecto empresarial (iniciado como construtor civil no início dos anos 60 sp.) e político (com marcas relevantes desde 1994) do Silvio Berlusconi. Espero ter um serão divertido.
O dia de trabalho começou bem cedo e foi longo. Dedicado à recepção de trabalhos de investigação, a uma reunião sobre o programa Erasmus, alguma pesquisa para a HSPSM e a preparação de materiais para os novos seminários. Dediquei o fim da tarde aos livros hoje chegados de Paris : “O Século XX das Guerras”, “As Culturas Comunistas do Século XX” e “A Nova Questão Escolar. Os benefícios da Democratização”. E já decidi começar pelo último.
A instituição, a instituição…. Depois da grande vaga de admissões aos 2º Ciclos poderá estar a ocorrer uma grande vaga de desistências. Em conversa informal, um colega chamou-me a atenção para essa possibilidade adiantando um argumento de peso: aos alunos normais que pretendem matricular–se, além das despesas de inscrição (100 €) e seguro escolar (…€?) pede-se-lhes à cabeça 40% da propina total do mestrado, primeiro pagamento que varia aproximadamente entre 900 e os 1300 euros. O que é muito para quase todos. Faltou sensibilidade à realidade sociológica? Por vezes a ganância mata a galinha. Vale a pena verificar a taxa dos matriculados e atalhar o assunto a tempo.
II.
O ISTécnico continua a ser notícia e por más razões. Segundo o Público, depois do corpo de Doutorados ter recursado, numa votação histórica, a constituição de uma assembleia ad hoc que desenvolveria a proposta do modelo fundacional admitido pelo novo RJIES, o Presidente do IST desvalorizou o voto expresso pelos doutores da instituição e declarou que será apresentado um projecto fundacional para competir em novas eleições com os novos estatutos do IST. Não vou comentar a artimanha. Mas todos temos que lhe tirar o alcance, mas não o chapéu. E depois, se voltar a perder ?
III.
Neste caso bem se podia dizer "mais vale nunca do que agora". Mas tem que ser. Aqui fica o preâmbulo do famoso Despacho Normativo datado do passado 30 de Setembro e assinado pelo SEE Valter Lemos. Deve ler-se, como sugere, o António Barreto, a peça burocratico-lieterária em voz alta. E, acrescento eu, fazendo-o ao serão, numa roda familiar e de amigos, como o Sena apreciava. Junte um qualquer tubérculo doce para empanturrar. E seja corajoso: evite o vomidrine.
IV.
Já sabemos tudo sobre o episódio policial da Covilha. Tudo normalíssimo. As únicas vítimas foram a democracia e a cidadania. "Acabar com isto. Depressa"(Vasco Pulido Valente)
HAF
Vou tentar reservar a noite para ver o Caimão (Nanni Moretti, 2006, produção franco-iatliana) que tanto quanto sei é uma sátira ao trajecto empresarial (iniciado como construtor civil no início dos anos 60 sp.) e político (com marcas relevantes desde 1994) do Silvio Berlusconi. Espero ter um serão divertido.
O dia de trabalho começou bem cedo e foi longo. Dedicado à recepção de trabalhos de investigação, a uma reunião sobre o programa Erasmus, alguma pesquisa para a HSPSM e a preparação de materiais para os novos seminários. Dediquei o fim da tarde aos livros hoje chegados de Paris : “O Século XX das Guerras”, “As Culturas Comunistas do Século XX” e “A Nova Questão Escolar. Os benefícios da Democratização”. E já decidi começar pelo último.
A instituição, a instituição…. Depois da grande vaga de admissões aos 2º Ciclos poderá estar a ocorrer uma grande vaga de desistências. Em conversa informal, um colega chamou-me a atenção para essa possibilidade adiantando um argumento de peso: aos alunos normais que pretendem matricular–se, além das despesas de inscrição (100 €) e seguro escolar (…€?) pede-se-lhes à cabeça 40% da propina total do mestrado, primeiro pagamento que varia aproximadamente entre 900 e os 1300 euros. O que é muito para quase todos. Faltou sensibilidade à realidade sociológica? Por vezes a ganância mata a galinha. Vale a pena verificar a taxa dos matriculados e atalhar o assunto a tempo.
II.
O ISTécnico continua a ser notícia e por más razões. Segundo o Público, depois do corpo de Doutorados ter recursado, numa votação histórica, a constituição de uma assembleia ad hoc que desenvolveria a proposta do modelo fundacional admitido pelo novo RJIES, o Presidente do IST desvalorizou o voto expresso pelos doutores da instituição e declarou que será apresentado um projecto fundacional para competir em novas eleições com os novos estatutos do IST. Não vou comentar a artimanha. Mas todos temos que lhe tirar o alcance, mas não o chapéu. E depois, se voltar a perder ?
III.
Neste caso bem se podia dizer "mais vale nunca do que agora". Mas tem que ser. Aqui fica o preâmbulo do famoso Despacho Normativo datado do passado 30 de Setembro e assinado pelo SEE Valter Lemos. Deve ler-se, como sugere, o António Barreto, a peça burocratico-lieterária em voz alta. E, acrescento eu, fazendo-o ao serão, numa roda familiar e de amigos, como o Sena apreciava. Junte um qualquer tubérculo doce para empanturrar. E seja corajoso: evite o vomidrine.
IV.
Já sabemos tudo sobre o episódio policial da Covilha. Tudo normalíssimo. As únicas vítimas foram a democracia e a cidadania. "Acabar com isto. Depressa"(Vasco Pulido Valente)
HAF
quinta-feira, outubro 11
9842º Dia
I
8.10: Saída de Évora
9.26: Fogueteiro (14 km de Lisboa)
10.28: Portagem (Ponte 25 Abril)
11.00: FCSH:UNL (Av. Berna)
E assim se perdem horas. Para milhares de pessoas, dias a fio. A longa e lenta fila do Fogueteiro à Ponte 25 de Abril teve a virtude de me permitir dar alguma atenção aos meus companheiros de estrada, nomeadamente os pequenos e grandes veículos de carga. A maioria sem qualquer logotipo. Percebeu-se que era gente de trabalho em movimento. A atenção acabou por concentrar-se nos veículos que tinham logotipos de empresas. E aí reparei que pontuado com uma ou outra marca sedeada em Portugal (Rações Valouro, WCL- Wash Clean Laundries, etc) estava de facto numa “gran via” de Espanha, para o Grupo Visibel (“un universo de belleza”) , a Eurocar (Alguiller de vehiculos”, a RioSol Transportes, a Dytur (transporte de pescado e frutas), etc, etc…Foi como uma ilha rodeada de Espanha, e não com uma “Jangada de Pedra”, que cheguei e atravessei o Tejo.
II.
A Comissão Intercentros de Investigação que agrega 10 centros de investigação de universidades portuguesas na Rede de História da I República tem já em curso dois projectos associados ao programa das Comemorações do Centenário da 1ª República: trata-se da organização de um Congresso Internacional e da edição do Dicionário de História da Primeira República e do Republicanismo. Estas acções tem o apoio da Assembleia da República e nelas se enquadra também a realização, em S. Bento, por proposta e com o apoio da Rede, de uma Exposição dedicada à 1ª República Portuguesa. Estamos a trabalhar neste projectos desde Março de 2006, com reuniões regulares.
A reunião de ontem é represenativa de um certo clima instalado. Um “lugar” que, vencidas as barreiras iniciais, tornou-se muito agradável, relaxado, aberto a boas picardias intelectuais e historiográficas. Um prazer. Estamos a analisar as propostas das entradas para os grupos temáticos. Na próxima reunião (dia 25), poderemos fechar esta agenda. Uma reunião prévia (dia 18) poderá ajudar. Superada esta fase trataremos das entradas de instituições e personalidades (biografias). Nos próximos meses teremos de andar bem (e depressa).
III
Se o clima da reunião foi optimista, o mesmo não se pode dizer da opinião que muitos presentes manifestaram sobre o estado actual das Faculdades e Universidades que subjugadas pelo garrote financeiro e quebras de solidariedade académica, promovem a dispensa de docentes e o não provimento com contratos de professores auxiliares dos assistentes recém-doutorados, oferecendo em alternativa o contrato de assistente convidado por um ano ou mesmo a saída. Quem conhece o meio universitário, as histórias profissionais de cada uma das pessoas que agora é dispensada ou remetida para uma condição que não a expectável e consagrada pelo ECDU, sabe que, para a maioria dos casos, o que se está a fazer é eticamente repugnante e de uma enorme insensatez institucional. Muitos destes assistentes não beneficiaram da dispensa de serviço, asseguraram cargas docentes enormes e por isso atrasaram os seus doutoramentos. E muitos deles são muito bons.
Ora, esta reunião correu no dia seguinte à entrada em vigor do novo Regime Jurídico para as Instituições do Ensino Superior (RJIES) . No Técnico (IST) a pressa era pelos vistos grande. Logo na segunda-feira p.p. os doutorados da instituição foram chamados a pronunciar-se sobre a criação de uma assembleia ad hoc para desenhar os estatutos de uma fundação pública de direito privado. E a maioria disse NÂO. Provavelmente ganhou a sensatez. O Técnico era o “caso” frequentemente evocado com o maior potencial de interesse no modelo fundacional. Pelos visto o modelo apenas colhe o interesse de uma parte minoritária da instituição. A pressa na escolha/decisão (um dia antes da entrada em vigor do novo RJIES ) permite supôr haver sido programada uma agenda de antecipação que, correndo bem, estimularia outras instituições a seguir o caminho do grande guia. Correu mal, para satisfação de muita gente nas academias. A solução fundacional passa seguramente a ter menos adeptos nas Universidades. Ao Ministro resta agora tomar ele a iniciativa. Um risco político elevadíssimo.
Nesta fase todos os docentes e estudantes universitários, representando a diversidade de visões sobre as instituições universitárias, devem estar empenhados em ajudar a moldar os novos estatutos das instituições que integram. O distaciamento pode custar (e quase sempre custa) muito caro. Nesse sentido, as notícias do Técnico, tal como as que nos chegam de Coimbra, são boas. As academias estão em movimento e não me surpreenderá que as coisas se compliquem/complexifiquem nos próximos tempos. Ainda bem. Falta debate. Que ele se trave, aberto e sério, e com base nele se decida. E que o que se decida venha melhorar o que deixamos para trás, que, se não era mau, era susceptível de terríveis perversidades.
IV.
Continuamos sem saber quem foram os mandantes da entrada de agentes da polícia na delegação do Sindicato dos Professores da Covilhã, em véspera da visita do Sr. Primeiro Ministro. E continuamos com silêncios ...surpreendentes. Provavelmeente teremos oportunidade de comemorar a primeira semana de aniversário deste evento “tão complexo “ sem saber o essencial e com a parte do país que não devia estar calada, calada. Quem mandou? E mandou o quê? Morro de curiosidade em conhecer o responsável. E se fôr apurado como primeiro responsável o porteiro da polícia, ou o o excesso de zelo dos polícias envolvidos, ou até uma má interpretação por parte dos dois agente de uma (intrinsecamente boa) ordem recebida, eu aceito a explicação , e fico satisfeito por tudo ficar na mesma. Isto é, no país, os políticos e delegados governamentais estão isentos de “accountability”. E (d)isso já todos suspeitávamos/sabiamos.
HAF
8.10: Saída de Évora
9.26: Fogueteiro (14 km de Lisboa)
10.28: Portagem (Ponte 25 Abril)
11.00: FCSH:UNL (Av. Berna)
E assim se perdem horas. Para milhares de pessoas, dias a fio. A longa e lenta fila do Fogueteiro à Ponte 25 de Abril teve a virtude de me permitir dar alguma atenção aos meus companheiros de estrada, nomeadamente os pequenos e grandes veículos de carga. A maioria sem qualquer logotipo. Percebeu-se que era gente de trabalho em movimento. A atenção acabou por concentrar-se nos veículos que tinham logotipos de empresas. E aí reparei que pontuado com uma ou outra marca sedeada em Portugal (Rações Valouro, WCL- Wash Clean Laundries, etc) estava de facto numa “gran via” de Espanha, para o Grupo Visibel (“un universo de belleza”) , a Eurocar (Alguiller de vehiculos”, a RioSol Transportes, a Dytur (transporte de pescado e frutas), etc, etc…Foi como uma ilha rodeada de Espanha, e não com uma “Jangada de Pedra”, que cheguei e atravessei o Tejo.
II.
A Comissão Intercentros de Investigação que agrega 10 centros de investigação de universidades portuguesas na Rede de História da I República tem já em curso dois projectos associados ao programa das Comemorações do Centenário da 1ª República: trata-se da organização de um Congresso Internacional e da edição do Dicionário de História da Primeira República e do Republicanismo. Estas acções tem o apoio da Assembleia da República e nelas se enquadra também a realização, em S. Bento, por proposta e com o apoio da Rede, de uma Exposição dedicada à 1ª República Portuguesa. Estamos a trabalhar neste projectos desde Março de 2006, com reuniões regulares.
A reunião de ontem é represenativa de um certo clima instalado. Um “lugar” que, vencidas as barreiras iniciais, tornou-se muito agradável, relaxado, aberto a boas picardias intelectuais e historiográficas. Um prazer. Estamos a analisar as propostas das entradas para os grupos temáticos. Na próxima reunião (dia 25), poderemos fechar esta agenda. Uma reunião prévia (dia 18) poderá ajudar. Superada esta fase trataremos das entradas de instituições e personalidades (biografias). Nos próximos meses teremos de andar bem (e depressa).
III
Se o clima da reunião foi optimista, o mesmo não se pode dizer da opinião que muitos presentes manifestaram sobre o estado actual das Faculdades e Universidades que subjugadas pelo garrote financeiro e quebras de solidariedade académica, promovem a dispensa de docentes e o não provimento com contratos de professores auxiliares dos assistentes recém-doutorados, oferecendo em alternativa o contrato de assistente convidado por um ano ou mesmo a saída. Quem conhece o meio universitário, as histórias profissionais de cada uma das pessoas que agora é dispensada ou remetida para uma condição que não a expectável e consagrada pelo ECDU, sabe que, para a maioria dos casos, o que se está a fazer é eticamente repugnante e de uma enorme insensatez institucional. Muitos destes assistentes não beneficiaram da dispensa de serviço, asseguraram cargas docentes enormes e por isso atrasaram os seus doutoramentos. E muitos deles são muito bons.
Ora, esta reunião correu no dia seguinte à entrada em vigor do novo Regime Jurídico para as Instituições do Ensino Superior (RJIES) . No Técnico (IST) a pressa era pelos vistos grande. Logo na segunda-feira p.p. os doutorados da instituição foram chamados a pronunciar-se sobre a criação de uma assembleia ad hoc para desenhar os estatutos de uma fundação pública de direito privado. E a maioria disse NÂO. Provavelmente ganhou a sensatez. O Técnico era o “caso” frequentemente evocado com o maior potencial de interesse no modelo fundacional. Pelos visto o modelo apenas colhe o interesse de uma parte minoritária da instituição. A pressa na escolha/decisão (um dia antes da entrada em vigor do novo RJIES ) permite supôr haver sido programada uma agenda de antecipação que, correndo bem, estimularia outras instituições a seguir o caminho do grande guia. Correu mal, para satisfação de muita gente nas academias. A solução fundacional passa seguramente a ter menos adeptos nas Universidades. Ao Ministro resta agora tomar ele a iniciativa. Um risco político elevadíssimo.
Nesta fase todos os docentes e estudantes universitários, representando a diversidade de visões sobre as instituições universitárias, devem estar empenhados em ajudar a moldar os novos estatutos das instituições que integram. O distaciamento pode custar (e quase sempre custa) muito caro. Nesse sentido, as notícias do Técnico, tal como as que nos chegam de Coimbra, são boas. As academias estão em movimento e não me surpreenderá que as coisas se compliquem/complexifiquem nos próximos tempos. Ainda bem. Falta debate. Que ele se trave, aberto e sério, e com base nele se decida. E que o que se decida venha melhorar o que deixamos para trás, que, se não era mau, era susceptível de terríveis perversidades.
IV.
Continuamos sem saber quem foram os mandantes da entrada de agentes da polícia na delegação do Sindicato dos Professores da Covilhã, em véspera da visita do Sr. Primeiro Ministro. E continuamos com silêncios ...surpreendentes. Provavelmeente teremos oportunidade de comemorar a primeira semana de aniversário deste evento “tão complexo “ sem saber o essencial e com a parte do país que não devia estar calada, calada. Quem mandou? E mandou o quê? Morro de curiosidade em conhecer o responsável. E se fôr apurado como primeiro responsável o porteiro da polícia, ou o o excesso de zelo dos polícias envolvidos, ou até uma má interpretação por parte dos dois agente de uma (intrinsecamente boa) ordem recebida, eu aceito a explicação , e fico satisfeito por tudo ficar na mesma. Isto é, no país, os políticos e delegados governamentais estão isentos de “accountability”. E (d)isso já todos suspeitávamos/sabiamos.
HAF
quarta-feira, outubro 10
9841º Dia
I
O Diário de hoje encerra um dia inteiramente dedicado à investigação. A manhã foi reservada à História da Mobilidade Social, nomeadamente à revisão do "paper" que será apresentado na próxima Conferência Anual da APHES , onde a equipa organiza uma sessão. A tarde dediquei-a ao dossier “Dicionário da História da Primeira República e do Republicanismo”, um projecto promovido por uma rede de centros de investigação nacionais e que deverá estar concluído e editado no ano do Centenário da Implantação da República em Portugal. Amanhã o grupo de trabalho reunirá mais uma vez em Lisboa, onde estarei todo o dia, para o efeito e para preparar um seminário conjunto com o IHC.
A visita de um colega ao serão permitiu uma estimulante conversa sobre o “estado da instituição” e em particular sobre as razões dos baixíssimos valores apurados para a mobilidade internacional. É possível superar a enorme fraqueza revelada pela instituição na colocação e atração de alunos e docentes. Há formas de vencer vencer a “incapacidade” instalada (isto dito com termos do glossário burocrata ganha outra densidade!!! ). Todavia tal propósito exige uma mudança extensa e radical (note-se bem, radical) na estratégia , no modelo organizacional que gere o programa Socrates/Erasmus e mesmo no “formato” dos ensinos ministrados na Universidade. Ora a mudança aqui …….é um quase espelho de água. O pior é matar soluções com uma probabilidade mais elevada de obter melhores resultados.
II
Mais de 48 horas depois do episódio policial ocorrido nas instalações do Sindicato dos Professores na Covilhã ainda não há relatório nem explicações nem responsáveis mandantes. Nada. Nada.
HAF
O Diário de hoje encerra um dia inteiramente dedicado à investigação. A manhã foi reservada à História da Mobilidade Social, nomeadamente à revisão do "paper" que será apresentado na próxima Conferência Anual da APHES , onde a equipa organiza uma sessão. A tarde dediquei-a ao dossier “Dicionário da História da Primeira República e do Republicanismo”, um projecto promovido por uma rede de centros de investigação nacionais e que deverá estar concluído e editado no ano do Centenário da Implantação da República em Portugal. Amanhã o grupo de trabalho reunirá mais uma vez em Lisboa, onde estarei todo o dia, para o efeito e para preparar um seminário conjunto com o IHC.
A visita de um colega ao serão permitiu uma estimulante conversa sobre o “estado da instituição” e em particular sobre as razões dos baixíssimos valores apurados para a mobilidade internacional. É possível superar a enorme fraqueza revelada pela instituição na colocação e atração de alunos e docentes. Há formas de vencer vencer a “incapacidade” instalada (isto dito com termos do glossário burocrata ganha outra densidade!!! ). Todavia tal propósito exige uma mudança extensa e radical (note-se bem, radical) na estratégia , no modelo organizacional que gere o programa Socrates/Erasmus e mesmo no “formato” dos ensinos ministrados na Universidade. Ora a mudança aqui …….é um quase espelho de água. O pior é matar soluções com uma probabilidade mais elevada de obter melhores resultados.
II
Mais de 48 horas depois do episódio policial ocorrido nas instalações do Sindicato dos Professores na Covilhã ainda não há relatório nem explicações nem responsáveis mandantes. Nada. Nada.
HAF
terça-feira, outubro 9
9840º Dia
I
A urgência de progredir na preparação dos dados para uma análise extensiva da mobilidade social portuguesa entre c.1880 e 1960 numa perspectiva comparada tem de ser temperada com a actividade lectiva cujo andamento começa a ganhar ritmo. O dia de hoje girou à volta da sessão dedicada à disciplina História das Instituições e dos Grupos Sociais no Período Contemporâneo, disciplina do antigo curriculum que apenas vigou dois anos…. A sucessão de novas disciplinas que nos últimos anos aompanharam as chamadas “reformas” na formação para a primeira graduação em História oferecida da instituição foi, no essencial,um grande desperdício de esforços. Mas não serviu de exemplo. Na adequação ao 1ºCilco os seus mentores foram ainda mais generosos. Vícios caros, claro.
A reunião com o Bolseiro foi muito útil: chegaram novos dados e devolveram-se outros (os das freguesias da Mina de S. Domingos) para adequar à matriz final
A reunião agendada com o Vice-Reitor que coordena o programa Socrates/Erasmus acabou por não realizar-se. Outro dia será.
II
O dia ficou marcado pelas notícias que a espaço fui ouvindo sobre a incursão policial a um sindicato(o dos Professores) da Covilhã nas vésperas da visita do Sr. José Sócrates, Primeiro Ministro de Portugal aquela cidade beirã. Um acto ignóbil. Devem ser raros os países onde o governo de uma maioria absoluta democrática e legítima é um factor de degradação da qualidade de vida/cidadania. Devemos todos sentir-nos responsáveis e envergonhados. Uns mais que outros, é verdade. E há pessoas no país que hoje não podiam ter ficado caladas. E ponto final.
A inclusão da versão integral da prometida pérola da literatura burocrática do SEE Valter Lemos (o preâmbulo de um despacho normativo de 30 de Setembro p.p.) que o António Barreto divulgou no passado domingo no Público fica para amanhã.
HAF
A urgência de progredir na preparação dos dados para uma análise extensiva da mobilidade social portuguesa entre c.1880 e 1960 numa perspectiva comparada tem de ser temperada com a actividade lectiva cujo andamento começa a ganhar ritmo. O dia de hoje girou à volta da sessão dedicada à disciplina História das Instituições e dos Grupos Sociais no Período Contemporâneo, disciplina do antigo curriculum que apenas vigou dois anos…. A sucessão de novas disciplinas que nos últimos anos aompanharam as chamadas “reformas” na formação para a primeira graduação em História oferecida da instituição foi, no essencial,um grande desperdício de esforços. Mas não serviu de exemplo. Na adequação ao 1ºCilco os seus mentores foram ainda mais generosos. Vícios caros, claro.
A reunião com o Bolseiro foi muito útil: chegaram novos dados e devolveram-se outros (os das freguesias da Mina de S. Domingos) para adequar à matriz final
A reunião agendada com o Vice-Reitor que coordena o programa Socrates/Erasmus acabou por não realizar-se. Outro dia será.
II
O dia ficou marcado pelas notícias que a espaço fui ouvindo sobre a incursão policial a um sindicato(o dos Professores) da Covilhã nas vésperas da visita do Sr. José Sócrates, Primeiro Ministro de Portugal aquela cidade beirã. Um acto ignóbil. Devem ser raros os países onde o governo de uma maioria absoluta democrática e legítima é um factor de degradação da qualidade de vida/cidadania. Devemos todos sentir-nos responsáveis e envergonhados. Uns mais que outros, é verdade. E há pessoas no país que hoje não podiam ter ficado caladas. E ponto final.
A inclusão da versão integral da prometida pérola da literatura burocrática do SEE Valter Lemos (o preâmbulo de um despacho normativo de 30 de Setembro p.p.) que o António Barreto divulgou no passado domingo no Público fica para amanhã.
HAF
segunda-feira, outubro 8
9839º Dia
I.
A recepção de alunos matrículados no Mestrado EHE e de novos “candidatos” ocupou-me uma parte substancial da manhã. Depois centrei-me na “arrumação de ideias” e preparação de materiais para a primeira aula do seminário A Europa dos Séculos XIX e XX : Das Sociedades Nacionais à Sociedade Europeia ? do 2º Ciclo de Teatro. Às 17.00 h começou a sessão que serviu para tirar o pulso à duzia de estudantes presente. Pareceu-me que os estudantes ficaram um pouco surpreendidos com a agenda. Umas horas de serão para não atrasar mais a codificação da Historical Sample Portuguese Ssocial Mobility. Amigos da família fizeram-me chegar cópia do processo de um trabalhador rural enquanto preso da PIDE. Noite dentro, folheà-lo-ei, seguramente.
II.
O Eng. João Cravinho, militante do Partido Socialista, experiente e reputado ex-deputado e ministro de Portugal, actualmente administrador do BERD em Londres, concedeu à revista Visão, uma entrevista editada no número de 4 de outubro (Nº 761), O tema forte da agenda foi, como deveria ser, o da corrupação, uma das dimensões do “país da batota”. A imprensa do final de semana deu grande revelo à forma corajosa como o assunto foi abordado. Pulido Valente, considera-a “indispensável para perceber a corrupção (em Porugal” e destaca o mecanismo chave que a proporciona: o “grosso da corrupção” faz-se de acordo com a lei uma vez que certos “lóbis” se apoderaram de orgãos vitais de decisão do Estado (Público, 7.out.07). Cravinho oferece uma frase assassina, “tudo se passa como se (nesta matéria) não houvesse diferenças entre PS e PSD» e releva a existência de um novo bloco central. A profundidade desta captura ilegítima não teve que passar à margem das instituições do ensinso superior e aqui reside um dos vários perigos do novo Regime Jurídico dos Estabelecimentos do Ensino Superior, que pode tornar-se no canal de legitimação destes “interesses difusos” mas organizados e eficazes.
Este depoimento recorda-me duas história. A primeira tem mais de uma década. Num almoço nos arredores de Évora juntamo-nos alguns docentes da Universidade de Évora. Um deles, em início de carreira académica, tinha já uma longa folha de actividade política. Era mesmo já um influente nos dos partidos do poder. Em breve abandonaria mesmo a carreia académica para uma dedicação a tempo inteiro à vida política , trepando para uma posição de grande destaque, ainda que não governamental.
As palavras que entremearam o repasto(talvez uma feijoada, a referência do local) centraram-se essencialmente na política, que na arena nacional era marcada pelo “Cavaquismo”. E já na altura se falava de corrupção, do enriquecimento ilegítimo com fundos europeus, etc., etc. Foi nesse contexto que dito candidato a uma carreira académico narrou um episódio que presenciara meses antes. Visitava uma região do país, no âmbito dos trabalhos de encerramento de um curso de auditor. O programa da visita, de vários dias, num deles incluíu uma recepção no respectiva comissão de coordenação regional, seguida, horas mais tarde, de uma outra numa unidade (digamos que) “industrial” instalada com avultados fundos europeus (dos “perdidos”) e que era tido como uma referência de modernidade empresarial. O picante da história estava no facto de os personagens que os receberam e dirigiam a comissão de coordenação serem os mesmos que eram donos da empresa. Perguntei ao narrador como é que ele, com as responsabilidades políticas que tinha, nada fazia para denunciar o caso, que aparentava uma conexão muito perigosa. E na resposta fui cilindrado com um argumento fatal: “agora é a vez deles, um dia será a nossa” . A “nossa” é naturalmente a “deles” (quem?), pensei eu. E o assunto morreu com o almoço sem nunca deixar de me atormentar o assunto.
A segunda ouvi-a em discurso directo muito recentemente, embora reporte um episódio com menos de meia dúzia de anos. Envolve a gestão de uma grande holding portuguesa, que decidiu diversificar os seus interesses no Alentejo, entrando na exploração de novos produtos de alta qualidada na região. No encerramento das contas anuais, o antigo contabilista fez o que tinha de fazer. A administração (intermédia?) solicitou uma alteração nas contas porque o grupo “não estava habituado a pagar impostos”. O resto da história, o leitor vai ter que ter a paciência de deitar-se a adivinhar.
III.
Se perdeu a coluna de António Barreto do passado domingo (dia 7 de Outubro) no Público, que titulou “Um naco de Prosa”, o leitor deve fazer os maiores esforços para a ler. O sumo está num despacho normativo de 20 de Setembro de 2007 assinado pelo SEE Valter Lemos. SEE = Secretário de Estado da Educação. É verdade, o homem é SEE. O país é assim. Barreto recomenda ler a prosa em voz alta. Acho que não o deve fazer para evitar chorar a chorar (as perdas não compensam). Mas sigo-o na conclusão que tira: “”É fácil compreender as razões pelas quais chegámos aonde chegamos. E ainda porque, assim, nunca sairemos de onde estamos.”. Mas o leitor mais preguiçoso deve ficar descansado pois amanhã cá encontrará o essencial (o preâmbulo) do dito despacho normativo que está também integralmente reproduzido em “Um naco da Prosa”
HAF
A recepção de alunos matrículados no Mestrado EHE e de novos “candidatos” ocupou-me uma parte substancial da manhã. Depois centrei-me na “arrumação de ideias” e preparação de materiais para a primeira aula do seminário A Europa dos Séculos XIX e XX : Das Sociedades Nacionais à Sociedade Europeia ? do 2º Ciclo de Teatro. Às 17.00 h começou a sessão que serviu para tirar o pulso à duzia de estudantes presente. Pareceu-me que os estudantes ficaram um pouco surpreendidos com a agenda. Umas horas de serão para não atrasar mais a codificação da Historical Sample Portuguese Ssocial Mobility. Amigos da família fizeram-me chegar cópia do processo de um trabalhador rural enquanto preso da PIDE. Noite dentro, folheà-lo-ei, seguramente.
II.
O Eng. João Cravinho, militante do Partido Socialista, experiente e reputado ex-deputado e ministro de Portugal, actualmente administrador do BERD em Londres, concedeu à revista Visão, uma entrevista editada no número de 4 de outubro (Nº 761), O tema forte da agenda foi, como deveria ser, o da corrupação, uma das dimensões do “país da batota”. A imprensa do final de semana deu grande revelo à forma corajosa como o assunto foi abordado. Pulido Valente, considera-a “indispensável para perceber a corrupção (em Porugal” e destaca o mecanismo chave que a proporciona: o “grosso da corrupção” faz-se de acordo com a lei uma vez que certos “lóbis” se apoderaram de orgãos vitais de decisão do Estado (Público, 7.out.07). Cravinho oferece uma frase assassina, “tudo se passa como se (nesta matéria) não houvesse diferenças entre PS e PSD» e releva a existência de um novo bloco central. A profundidade desta captura ilegítima não teve que passar à margem das instituições do ensinso superior e aqui reside um dos vários perigos do novo Regime Jurídico dos Estabelecimentos do Ensino Superior, que pode tornar-se no canal de legitimação destes “interesses difusos” mas organizados e eficazes.
Este depoimento recorda-me duas história. A primeira tem mais de uma década. Num almoço nos arredores de Évora juntamo-nos alguns docentes da Universidade de Évora. Um deles, em início de carreira académica, tinha já uma longa folha de actividade política. Era mesmo já um influente nos dos partidos do poder. Em breve abandonaria mesmo a carreia académica para uma dedicação a tempo inteiro à vida política , trepando para uma posição de grande destaque, ainda que não governamental.
As palavras que entremearam o repasto(talvez uma feijoada, a referência do local) centraram-se essencialmente na política, que na arena nacional era marcada pelo “Cavaquismo”. E já na altura se falava de corrupção, do enriquecimento ilegítimo com fundos europeus, etc., etc. Foi nesse contexto que dito candidato a uma carreira académico narrou um episódio que presenciara meses antes. Visitava uma região do país, no âmbito dos trabalhos de encerramento de um curso de auditor. O programa da visita, de vários dias, num deles incluíu uma recepção no respectiva comissão de coordenação regional, seguida, horas mais tarde, de uma outra numa unidade (digamos que) “industrial” instalada com avultados fundos europeus (dos “perdidos”) e que era tido como uma referência de modernidade empresarial. O picante da história estava no facto de os personagens que os receberam e dirigiam a comissão de coordenação serem os mesmos que eram donos da empresa. Perguntei ao narrador como é que ele, com as responsabilidades políticas que tinha, nada fazia para denunciar o caso, que aparentava uma conexão muito perigosa. E na resposta fui cilindrado com um argumento fatal: “agora é a vez deles, um dia será a nossa” . A “nossa” é naturalmente a “deles” (quem?), pensei eu. E o assunto morreu com o almoço sem nunca deixar de me atormentar o assunto.
A segunda ouvi-a em discurso directo muito recentemente, embora reporte um episódio com menos de meia dúzia de anos. Envolve a gestão de uma grande holding portuguesa, que decidiu diversificar os seus interesses no Alentejo, entrando na exploração de novos produtos de alta qualidada na região. No encerramento das contas anuais, o antigo contabilista fez o que tinha de fazer. A administração (intermédia?) solicitou uma alteração nas contas porque o grupo “não estava habituado a pagar impostos”. O resto da história, o leitor vai ter que ter a paciência de deitar-se a adivinhar.
III.
Se perdeu a coluna de António Barreto do passado domingo (dia 7 de Outubro) no Público, que titulou “Um naco de Prosa”, o leitor deve fazer os maiores esforços para a ler. O sumo está num despacho normativo de 20 de Setembro de 2007 assinado pelo SEE Valter Lemos. SEE = Secretário de Estado da Educação. É verdade, o homem é SEE. O país é assim. Barreto recomenda ler a prosa em voz alta. Acho que não o deve fazer para evitar chorar a chorar (as perdas não compensam). Mas sigo-o na conclusão que tira: “”É fácil compreender as razões pelas quais chegámos aonde chegamos. E ainda porque, assim, nunca sairemos de onde estamos.”. Mas o leitor mais preguiçoso deve ficar descansado pois amanhã cá encontrará o essencial (o preâmbulo) do dito despacho normativo que está também integralmente reproduzido em “Um naco da Prosa”
HAF
domingo, outubro 7
sábado, outubro 6
9837º Dia
I
No sistema de gestão de documentos da Universidade de Évora foi colocado um novo Despacho Reitoral que retifica a calendário escolar do 2º ciclo, nomeadamente quanto aos prazos de matrícula, inscrição e pedidos de equivalência. Sinais de turbulência e adaptação. O inexperado fluxo de alunos a isso obriga. É preciso sermos expeditos e eficazes nesta fase que compreende a apreciação de imensos pedidos de equivalência e creditação de competências.
II
Um olho na imprensa nacional e outro nas memórias de Fernando Gouveia (inspector da Pide) sobre o PCP anteciparam o regresso a Évora no final da tarde.
III
Há muitos meses que não lia o Sol. Devo confessar que não gostei dos primeiros números. Tinham parra, mas pouca uva. As circunstâncias levaram a que o comprasse o nº 56 (5 de Outubro). A leitora cá de casa também reconhece que o semanário melhorou substancialmente. Desta edição, o destaque vai naturalmente para a inclusa primeira parte da entrevista concedida por Catalina Pestana. Embora aborde aspectos biográficos interessantes do seu trajecto pessoal, o “boiling-point” são as referências ao caso dos pedófilos da Casa Pia. Denuncia a persistência de uma prática iniciada pelo menos nos anos 1960 e que, segundo a ex-provedora (abandonou o cargo na primavera), sobreviveu ao escândalo (2002) cujo julgamento (da “guarda avançada”) se arrasta pelos tribunais, porque o “grosso da coluna está cá fora”, “largas dezenas”, como refere. Catalina não deixou o cargo sem antes informar o PGR das suspeitas da(s) rede(s) pedófila(s) ainda am actividade. Percebemos melhor o alcance de algumas das alterações no C. P.Penal mas Catalina tomou algumas providências sobre o caso: “eu tenho tudo isto escrito e a salvo. Porque admito que alguém tente branquear esta história. Porque a história das instituições faz-se com os vencedores, sempre. A versão dos vencidos, seja nas grandes instituições ou nas guerras, nunca aparece”.
IV
No acto mais relevante das Comemorações do 97º aniversário da Impplantação da Républica, Anibal Cavaco Silva, como Presidente em exercício da 3ª República (a Democrática) evocou no seu Discurso, optimista e positivo, dois pilares do programa e cultura política da geração de republicanos que fez a Revolução de 1910. Em primeiro lugar a “maior transparência da vida pública”, um propósito que aprofunda a ética republicana no combate activo à corrupação, ao amiguismo, ao clientelismo e ao país dos interesses difusos. Depois, realçou o “ideal educativo, que sempre marcou o programa político do regime instituído em Outubro de 1910”, o que é verdade. Mas “ao fim de um século de existência, temos de reconhecer que a República não conseguiu resolver a principal causa do nosso atraso estrutural: as deficiências na educação das crianças e dos jovens . Passados mais de trinta anos sobre a instauração do regime democrático, o problema persiste, desde logo em comparação com outros países europeus.“, refere o Presidente no seu discurso. O que também é verdade.O regresso à retórica da prioridade educativa é acompanhado do apelo a um novo modelo educativo baseado na “inovação social”(centralidade da escola e dos alunos; escola plural, aberta e neutra (num sentido específico); descentralização de competências; responsabilidade social; inclusão social; auto-exigência; prestígio profissional e social dos docentes; dignidade dos estabelecimentos e das instalações escolares, etc…). Digamos que enunciou o ABC da coisa….e mais alguma coisa (uma estratégia: excelência e exigência). E sem surpresa, todos os actores políticos e sociais se sentiram fora dos reparos do PR. A ministra do sector não tem sequer nada a ver com o assunto: faltou porque “não pode estar presente”.O Primeiro-Ministro atrasadíssimo mas lá chegou… E estavam à espera que a populaça lá estivesse em massa!!!!.O Discurso do PR está disponível na página oficial da Presidência da República.E não me parece que nele tenha estado “demasiado” presente a imagem peregrina dos neo-liberais que vêm o Estado Português como o poço de todos os males, e a nossa sociedade civil como um poço de virtudes. A ele devemos exigir mais que retórica, influência política. E tudo isto no Dia Mundial do Professor.
Em 2010 comemorar-se-á o centenário da Implantação da República. Será então publicado o Dicionário da História da Primeira República e do Republicanismo, um projecto que congrega mais de uma dezena de centros de investigação e esperamos renove expressivamente a historiografia do período. A obra proporcionará seguramente um conhecimento mais profundo sobre o esforço educativo das primeiras gerações republicanas liberais que governaram o país. Possamos nós todos estar então mais optimistas e seguros quanto ao trajecto educativo desenhado para as primeiras décadas do século XXI.
HAF
No sistema de gestão de documentos da Universidade de Évora foi colocado um novo Despacho Reitoral que retifica a calendário escolar do 2º ciclo, nomeadamente quanto aos prazos de matrícula, inscrição e pedidos de equivalência. Sinais de turbulência e adaptação. O inexperado fluxo de alunos a isso obriga. É preciso sermos expeditos e eficazes nesta fase que compreende a apreciação de imensos pedidos de equivalência e creditação de competências.
II
Um olho na imprensa nacional e outro nas memórias de Fernando Gouveia (inspector da Pide) sobre o PCP anteciparam o regresso a Évora no final da tarde.
III
Há muitos meses que não lia o Sol. Devo confessar que não gostei dos primeiros números. Tinham parra, mas pouca uva. As circunstâncias levaram a que o comprasse o nº 56 (5 de Outubro). A leitora cá de casa também reconhece que o semanário melhorou substancialmente. Desta edição, o destaque vai naturalmente para a inclusa primeira parte da entrevista concedida por Catalina Pestana. Embora aborde aspectos biográficos interessantes do seu trajecto pessoal, o “boiling-point” são as referências ao caso dos pedófilos da Casa Pia. Denuncia a persistência de uma prática iniciada pelo menos nos anos 1960 e que, segundo a ex-provedora (abandonou o cargo na primavera), sobreviveu ao escândalo (2002) cujo julgamento (da “guarda avançada”) se arrasta pelos tribunais, porque o “grosso da coluna está cá fora”, “largas dezenas”, como refere. Catalina não deixou o cargo sem antes informar o PGR das suspeitas da(s) rede(s) pedófila(s) ainda am actividade. Percebemos melhor o alcance de algumas das alterações no C. P.Penal mas Catalina tomou algumas providências sobre o caso: “eu tenho tudo isto escrito e a salvo. Porque admito que alguém tente branquear esta história. Porque a história das instituições faz-se com os vencedores, sempre. A versão dos vencidos, seja nas grandes instituições ou nas guerras, nunca aparece”.
IV
No acto mais relevante das Comemorações do 97º aniversário da Impplantação da Républica, Anibal Cavaco Silva, como Presidente em exercício da 3ª República (a Democrática) evocou no seu Discurso, optimista e positivo, dois pilares do programa e cultura política da geração de republicanos que fez a Revolução de 1910. Em primeiro lugar a “maior transparência da vida pública”, um propósito que aprofunda a ética republicana no combate activo à corrupação, ao amiguismo, ao clientelismo e ao país dos interesses difusos. Depois, realçou o “ideal educativo, que sempre marcou o programa político do regime instituído em Outubro de 1910”, o que é verdade. Mas “ao fim de um século de existência, temos de reconhecer que a República não conseguiu resolver a principal causa do nosso atraso estrutural: as deficiências na educação das crianças e dos jovens . Passados mais de trinta anos sobre a instauração do regime democrático, o problema persiste, desde logo em comparação com outros países europeus.“, refere o Presidente no seu discurso. O que também é verdade.O regresso à retórica da prioridade educativa é acompanhado do apelo a um novo modelo educativo baseado na “inovação social”(centralidade da escola e dos alunos; escola plural, aberta e neutra (num sentido específico); descentralização de competências; responsabilidade social; inclusão social; auto-exigência; prestígio profissional e social dos docentes; dignidade dos estabelecimentos e das instalações escolares, etc…). Digamos que enunciou o ABC da coisa….e mais alguma coisa (uma estratégia: excelência e exigência). E sem surpresa, todos os actores políticos e sociais se sentiram fora dos reparos do PR. A ministra do sector não tem sequer nada a ver com o assunto: faltou porque “não pode estar presente”.O Primeiro-Ministro atrasadíssimo mas lá chegou… E estavam à espera que a populaça lá estivesse em massa!!!!.O Discurso do PR está disponível na página oficial da Presidência da República.E não me parece que nele tenha estado “demasiado” presente a imagem peregrina dos neo-liberais que vêm o Estado Português como o poço de todos os males, e a nossa sociedade civil como um poço de virtudes. A ele devemos exigir mais que retórica, influência política. E tudo isto no Dia Mundial do Professor.
Em 2010 comemorar-se-á o centenário da Implantação da República. Será então publicado o Dicionário da História da Primeira República e do Republicanismo, um projecto que congrega mais de uma dezena de centros de investigação e esperamos renove expressivamente a historiografia do período. A obra proporcionará seguramente um conhecimento mais profundo sobre o esforço educativo das primeiras gerações republicanas liberais que governaram o país. Possamos nós todos estar então mais optimistas e seguros quanto ao trajecto educativo desenhado para as primeiras décadas do século XXI.
HAF
sexta-feira, outubro 5
quinta-feira, outubro 4
9835º Dia
I
Uma manhã longa, mesmo bastante longa. Foi necessário afinar o serviço docente de História Contemporânea, rever o calendário para o início do Curso de Mestrado EHE (edição 07-09), tomar providências para que as sessões de trabalho com os mestrandos decorram em espaços adequados e dignos, iniciar o reconhecimento dos diplomas de alguns dos novos alunos (os estrangeiros), solucionar as situações especiais de alunos que frequentaram anteriores edições do mestrado. Só paulatinamente todos nos vamos apercebendo da diversidade de problemas que a transição para Bolonha trouxe para este início do ano lectivo. O que é necessário é solucioná-los um a um com sensatez e equidade.
Finalmente, iniciei a troca de informações e a colecta de elementos essenciais para ser possível dar concretização já no próximo ano ao acordo de cooperação Socrates/Erasmus que acabamos de assinar com a Universidade de Bielefeld (Alemanha), no âmbito de História Contemporânea e Estudos Históricos Europeus que inclui o mútuo acolhimento de alunos e docentes de Licenciatura, Mestrado e Doutoramento. Estes acordos só se justificam quando de facto funcionam,isto é, quando abrem um fluxo contínuo de mobilidade de alunos e docentes entre as instituições. E o bom ou mau funcionamento destes programas depende por vezes apenas de detalhes organizacionais.
II
Curiosamente isto ocorre no dia em que são assinaladas as duas décadas do Programa Erasmus, programa da EU que já proporcionou o estudo em universidades de outras nacionalidades a mais de um milhão de jovens estudantes europeus, uma experiência também notável pela promoção do interconhecimento dos europeus. Por analogia com as gerações eurocratas certamente formar-se-ao gerações Erasmus. E em terrenos assim se consolida o projecto europeu.
Os jovens portugueses do Ensino Superior manifestam um interesse crescente por este progama, que actualmente envolverá cerca de 5000 estudantes nacionais. Lamentavelmente não é público o andamento da Universidade de Évora nesta matéria: quantos estudantes e docentes da instituição partem no âmbito destes programas? Quantos chegam? De onde? Alguns serão, e dois deles frequentaram um das minhas disciplinas. Mas não encontrei uma resposta quantitativa geral. Os números estarão colectados (espero eu) no anexo estatístico que acompanha o relatório de auto-avaliação elaborado há seis meses atrás, mas estes dados não foram tornados públicos, nem distribuidos entre a comunidade académica (o que é um indício preocupante). Ouvi dizer que apenas os Presidentes dos Departamentos (todos?) tiveram acesso a uma edição (reduzida) em formato papel. Isto quer dizer, por exemplo, que a maior parte dos catedráticos da instituição ignora os dados do dito anexo. “Institutional Quality”? Boas práticas? São urgentes são. Temos de mudar esta cultura do secretismo, e a sua existência possa comprender-se (esconder os maus resultados) mas é inútil. Em suma, vou ter que pedir a um daqueles colegas o favor de , discretamente /secretamente (!!!!!), me ceder uma cópia da primeira compilação de dados estatísticos da Universidade de Évora. Seja como for, a situação em matéria de mobilidade de alunos foi comentada de forma muito negativa pela Grupo de Peritos da Associação Europeia das Universidades (EUA) na apresentação oral das conclusões sobre a avaliação institucional da Universidade de Évora. Continuo, eu seguramente acompanhado por todos os elementos da Academia, à espera do divulgação pública relatório escrito daquela Comissão.
Com a tarde já adiantada reuniram-se os elementos da família co-residentes e viajamos para o sul. A expectativa são dois dias junto ao mar a começar com um jantar, que começa a ser obrigatório, na lota de Lagos. O destino final, a “nossa praia” nos arredores desta cidade.
HAF
Uma manhã longa, mesmo bastante longa. Foi necessário afinar o serviço docente de História Contemporânea, rever o calendário para o início do Curso de Mestrado EHE (edição 07-09), tomar providências para que as sessões de trabalho com os mestrandos decorram em espaços adequados e dignos, iniciar o reconhecimento dos diplomas de alguns dos novos alunos (os estrangeiros), solucionar as situações especiais de alunos que frequentaram anteriores edições do mestrado. Só paulatinamente todos nos vamos apercebendo da diversidade de problemas que a transição para Bolonha trouxe para este início do ano lectivo. O que é necessário é solucioná-los um a um com sensatez e equidade.
Finalmente, iniciei a troca de informações e a colecta de elementos essenciais para ser possível dar concretização já no próximo ano ao acordo de cooperação Socrates/Erasmus que acabamos de assinar com a Universidade de Bielefeld (Alemanha), no âmbito de História Contemporânea e Estudos Históricos Europeus que inclui o mútuo acolhimento de alunos e docentes de Licenciatura, Mestrado e Doutoramento. Estes acordos só se justificam quando de facto funcionam,isto é, quando abrem um fluxo contínuo de mobilidade de alunos e docentes entre as instituições. E o bom ou mau funcionamento destes programas depende por vezes apenas de detalhes organizacionais.
II
Curiosamente isto ocorre no dia em que são assinaladas as duas décadas do Programa Erasmus, programa da EU que já proporcionou o estudo em universidades de outras nacionalidades a mais de um milhão de jovens estudantes europeus, uma experiência também notável pela promoção do interconhecimento dos europeus. Por analogia com as gerações eurocratas certamente formar-se-ao gerações Erasmus. E em terrenos assim se consolida o projecto europeu.
Os jovens portugueses do Ensino Superior manifestam um interesse crescente por este progama, que actualmente envolverá cerca de 5000 estudantes nacionais. Lamentavelmente não é público o andamento da Universidade de Évora nesta matéria: quantos estudantes e docentes da instituição partem no âmbito destes programas? Quantos chegam? De onde? Alguns serão, e dois deles frequentaram um das minhas disciplinas. Mas não encontrei uma resposta quantitativa geral. Os números estarão colectados (espero eu) no anexo estatístico que acompanha o relatório de auto-avaliação elaborado há seis meses atrás, mas estes dados não foram tornados públicos, nem distribuidos entre a comunidade académica (o que é um indício preocupante). Ouvi dizer que apenas os Presidentes dos Departamentos (todos?) tiveram acesso a uma edição (reduzida) em formato papel. Isto quer dizer, por exemplo, que a maior parte dos catedráticos da instituição ignora os dados do dito anexo. “Institutional Quality”? Boas práticas? São urgentes são. Temos de mudar esta cultura do secretismo, e a sua existência possa comprender-se (esconder os maus resultados) mas é inútil. Em suma, vou ter que pedir a um daqueles colegas o favor de , discretamente /secretamente (!!!!!), me ceder uma cópia da primeira compilação de dados estatísticos da Universidade de Évora. Seja como for, a situação em matéria de mobilidade de alunos foi comentada de forma muito negativa pela Grupo de Peritos da Associação Europeia das Universidades (EUA) na apresentação oral das conclusões sobre a avaliação institucional da Universidade de Évora. Continuo, eu seguramente acompanhado por todos os elementos da Academia, à espera do divulgação pública relatório escrito daquela Comissão.
Com a tarde já adiantada reuniram-se os elementos da família co-residentes e viajamos para o sul. A expectativa são dois dias junto ao mar a começar com um jantar, que começa a ser obrigatório, na lota de Lagos. O destino final, a “nossa praia” nos arredores desta cidade.
HAF
quarta-feira, outubro 3
9834º Dia
I
Depois de uma reunião com a Comissão de Curso e , em seguida , com os docentes do grupo de História Contemporânea, foi encontrada uma solução decente para os numerosos alunos do Curso de História que decidiram finalizar o 4º Ano do antigo plano de estudos. Fico satisfeito por ter sido possível proporcionar a todos os meus alunos em circunstâncias similares de aprendizagem e avaliação.
Continuam outras “pequenas questões” (os detalhes, senhores, os detalhes) em aberto. Contiuamos a aguardar a nomeação das novas Comissões de Curso, que “informalmente” já estão a trabalhar (ou não?) e, considerando o novo paradigma pedagógico, é urgentíssima a nomeação dos júris das disciplinas (agora unidades curriculares). É ainda urgente esclarecer definitivamente quais os parâmetros de referência para as equivalências e credenciação de competências aplicável aos admitidos a 2º Ciclo. Não se podem prolongar estas incertezas por semanas após o início do ano lectivo pois elas perturbam muito, mas muito mesmo, o funcionamento de turmas e disciplinas. Há orgãos institucionais nesta casa que se tomaram de uma prostação…. de meses, demasiados.
Hoje foi ainda a minha estreia como jurado em concurso para Professor Catedrático. Gostei que isso tivesse acontecido numa escola lisboeta que muito aprecio, onde tenho colegas que muito considero e com quem mantenho uma longa colaboração. A reserva que estes actos implicam não fica violada se deixar duas notas: a primeira para assinalar a forma expedita e sólida como tudo decorreu e ficou resolvido; em segundo lugar, a sensatez demonstrada na fixação dos critérios de classificação dos candidatos. E sobre este assunto agora tenho o dever de ficar por aqui (não por muito tempo). É claro que também houve o prazer de rever alguns colegas e amigos de anos.
Com o regresso tardio a Évora, o dia “operário” ficou por aqui.
II- Nas “frases de ontem” o Público inclui uma citação do que presumo ser um texto publicado pelo colunista joão Paulo Guerra n na edição de 3 de Outubro do Diário Económico (costumo folhear a edição electrónica de vem em quando…porque é um bom jornal), citação que aqui transcrevo: “Portugal está a ficar curto para os portuguesess. Fecham escolas e há alunos com aulas em contentores. Há alunos sem aulas por falta de professores e há milhares de professores desempregados”. São os neo-!!!!!!!, estúpido. Digo aos estudantes o que digo aos meus filhos: preparem-se de forma a que o vosso futuro não tenha que ser necessariamente aqui. Mais do que saber que há mais mundo e necessário imaginar soluções para nele entrar.
Hoje, sem mais.
HAF.
Depois de uma reunião com a Comissão de Curso e , em seguida , com os docentes do grupo de História Contemporânea, foi encontrada uma solução decente para os numerosos alunos do Curso de História que decidiram finalizar o 4º Ano do antigo plano de estudos. Fico satisfeito por ter sido possível proporcionar a todos os meus alunos em circunstâncias similares de aprendizagem e avaliação.
Continuam outras “pequenas questões” (os detalhes, senhores, os detalhes) em aberto. Contiuamos a aguardar a nomeação das novas Comissões de Curso, que “informalmente” já estão a trabalhar (ou não?) e, considerando o novo paradigma pedagógico, é urgentíssima a nomeação dos júris das disciplinas (agora unidades curriculares). É ainda urgente esclarecer definitivamente quais os parâmetros de referência para as equivalências e credenciação de competências aplicável aos admitidos a 2º Ciclo. Não se podem prolongar estas incertezas por semanas após o início do ano lectivo pois elas perturbam muito, mas muito mesmo, o funcionamento de turmas e disciplinas. Há orgãos institucionais nesta casa que se tomaram de uma prostação…. de meses, demasiados.
Hoje foi ainda a minha estreia como jurado em concurso para Professor Catedrático. Gostei que isso tivesse acontecido numa escola lisboeta que muito aprecio, onde tenho colegas que muito considero e com quem mantenho uma longa colaboração. A reserva que estes actos implicam não fica violada se deixar duas notas: a primeira para assinalar a forma expedita e sólida como tudo decorreu e ficou resolvido; em segundo lugar, a sensatez demonstrada na fixação dos critérios de classificação dos candidatos. E sobre este assunto agora tenho o dever de ficar por aqui (não por muito tempo). É claro que também houve o prazer de rever alguns colegas e amigos de anos.
Com o regresso tardio a Évora, o dia “operário” ficou por aqui.
II- Nas “frases de ontem” o Público inclui uma citação do que presumo ser um texto publicado pelo colunista joão Paulo Guerra n na edição de 3 de Outubro do Diário Económico (costumo folhear a edição electrónica de vem em quando…porque é um bom jornal), citação que aqui transcrevo: “Portugal está a ficar curto para os portuguesess. Fecham escolas e há alunos com aulas em contentores. Há alunos sem aulas por falta de professores e há milhares de professores desempregados”. São os neo-!!!!!!!, estúpido. Digo aos estudantes o que digo aos meus filhos: preparem-se de forma a que o vosso futuro não tenha que ser necessariamente aqui. Mais do que saber que há mais mundo e necessário imaginar soluções para nele entrar.
Hoje, sem mais.
HAF.
terça-feira, outubro 2
9833º Dia
Jornada dedicada à leitura de trabalhos escolares (seminários dos finalistas , trabalhos de disciplinas do MRIEE ) , dos documentos dos candidatos a um concurso para Catedrático e dos referentes a uma prova de agregação.
Um dia com duas boas novidades. A primeira de natureza académica: a instituição reconheceu a necessidade de criar uma turma normal para os alunos de História que decidiram concluir a antiga licenciatura de 4 anos . A segunda notícia é mais pessoal: o regresso da minha filha dos EUA. Depois das prendas e mimos lá rumou à sua (nossa) Academia mater. Espero que o gosto pelas viagens continue. Não foi ao MOCA, mas devia ter ido.
A oportunidade não serviu para a viajante trazer em mão da terra do Tio Sam uma obra essencial da História Social Europeia, há muito ambicionada (ed. Peter S. Stearns em 6 vols). Foi pena. Fica feita a encomenda à Amazon.fr. e o assunto definitivamente resolvido. Espero que assim possa evitar os enormes custos alfandegários. A experiência não me permite ser optimista. Veremos.
Houve ainda tempo para regressar às Memórias do já apresentado inspector da PIDE Fernando Gouveia, logo depois do DYN.Kiev-SCP(1-2) e UM-ROM (1-0). Algo se perdeu: os noticiários da noite e o Daily Show de Jon Stewart.
HAF
Um dia com duas boas novidades. A primeira de natureza académica: a instituição reconheceu a necessidade de criar uma turma normal para os alunos de História que decidiram concluir a antiga licenciatura de 4 anos . A segunda notícia é mais pessoal: o regresso da minha filha dos EUA. Depois das prendas e mimos lá rumou à sua (nossa) Academia mater. Espero que o gosto pelas viagens continue. Não foi ao MOCA, mas devia ter ido.
A oportunidade não serviu para a viajante trazer em mão da terra do Tio Sam uma obra essencial da História Social Europeia, há muito ambicionada (ed. Peter S. Stearns em 6 vols). Foi pena. Fica feita a encomenda à Amazon.fr. e o assunto definitivamente resolvido. Espero que assim possa evitar os enormes custos alfandegários. A experiência não me permite ser optimista. Veremos.
Houve ainda tempo para regressar às Memórias do já apresentado inspector da PIDE Fernando Gouveia, logo depois do DYN.Kiev-SCP(1-2) e UM-ROM (1-0). Algo se perdeu: os noticiários da noite e o Daily Show de Jon Stewart.
HAF
segunda-feira, outubro 1
9832º Dia
I- Do Diário Académico fica um registo quase telegráfico:
8.00-11.00h: Codificação electrónica dos títulos ocupacionais portugueses.
11.00-12.45. Reunião da equipa docente e discente do 2ª Ciclo em Teatro. Constituido o Ensino Artístico há pouco mais de uma década, num processo em que quase me ia envolvendo,é a primeira vez que sou solicitado a com eles colaborar em actividades de ensino. Este é um mundo que me não é completamente estranho pois por ele andei como actor amadoríssimo (1970-74) e estudante (de História do Teatro, 1977-78?) . Vou assegurar a regência do Seminário “História da Europa dos Séculos XIX e XX: Das Sociedades Europeias à Sociedade Europeia?”
14.00. Reunião com adjunta do Mestrado de EHE. Além do balanço da reunião do passado dia 28 com os estudantes admitidos, tratamos de assuntos relacionados com equivalências e creditação de competências.
15.00. Recebi um aluno estrangeiro do referido mestrado e tomaram-se as iniciativas no sentido de fixar os horários lectivos e marcação de uma sala adequada.
16.30.-20.00 Regresso à Codificação.
II-O País da Batota, o Povo e as Elites Políticas
Os últimos dias tem sido ricos em matéria de batota.O futebol é realmente exemplar. A mais importante actividade associada à internacionalização portuguesa tem uma componente interna(o sector da arbitragem)que dificilmente pode ser vista apenas como incompetente.Acho que a generalidade dos portugueses (o povo….que tantos temem) pensa assim, e provavelmente pensa bem.
Mas a batota insinua-se noutros sectores. Como no recente episódio da eleição directa de um líder partidário. De facto ele ficou marcado, em primeiro lugar, por insinuações nunca completamente esclarecidas sobre (tentativas de) arranjos convenientes nos cadernos eleitorais; depois, pela composição, de duvidosa legitimidade democrática, da entidade fiscalizadora. Os Europeus tem dois séculos de experiência eleitoral e é dificil aceitar que foi a incompetância política que levou à fixação de procedimentos adequados tanto na constituição dos cadernos eleitorais como das entidades fiscalizadoras.Uma lástima.
Este episódio serve bem para tirar a medida à nossa elite política. É extraordinário o que foi possível dizer e escrever pela opinião publicada e entrevistada do costume sobre o candidato vencedor e os seus eleitores, depois de contados os votos. Chamaram-lhe de tudo e prognosticaram as maiores desgraças para o partido em causa e para o país. E, pelo menos em alguns meios políticos, fixaram algum consenso sobre o caminho a seguir: acabar com as eleições directas (obviamente porque a populaça não sabe escolher), e limitar essa tão nobre e difícil tarefa aos baronatos e dependentes directos estabelecidos e naturalmente esclarecidos.
Direi, por analogia, que este raciocínio pobre é extensivo às instituições do ensino superior (existiu e mantêm-se no novo RJIES). A partir de finais dos anos 1970, na sequência da lei de Outubro de 1976 que regulou a gestão democrárica no Ensino Superior, os reitores, até então de nomeação ministerial,passaram a ser eleitos por uma assembleia, onde estavam representados (por eleição) os três corpos da Universidade (docentes, estudantes e funcionários ) e alguns votantes por inerência de funções. O “povo universitário” elegia, em primárias separadas, os seus representantes que, maturos e preclaros, escolhiam o reitor entre os catedráticos locais disponíveis para o cargo. Nunca percebi tal menoridade. Todos os actores sociais presentes na Universidade (estudantes, professores e funcionários) são (salvo raríssimas excepções)cidadãos activos (eleitores). São capazes como todos os outros portugueses recenseados de eleger directamente os Deputados dos seus círculos ou, de foma mais clara, o Presidente da República. Quanto menos intermedários tem havido melhores parecem ser as escolhas do povo, como o caso da Presidência ilustra muito bem.
Ora, porque razão não se reconhece capacidade à comunidade universitária para eleger directamente o seu Reitor? A experiência do “colégio eleitoral” revelou o lado mais sórdido dos jogos de conveniência política e corporativa e das más práticas. As dificuldades que hoje atravessam algumas instituições decorrem desse facto. Os mentores e autores do novo regime jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) deveriam ter dado mais atenção à experiência que nesta matéria está em curso em algumas(ainda que poucas)instituições do ensino superior em vários países da Europa com a introdução da eleição directa dos reitores. Mas é também necessário dizer que o dito RJIES não impossibilita totalmente um modelo de eleição reitoral em que a comunidade académica tenha um momento relevante de participação directa activa. Não atender a uma solução desta natureza pode significar manter, à boa maneira portuguesa, as mesmas dificuldades que pertubaram o modelo anterior. Nâo basta mudar os actores, especialmente se eles partilham (quase) todos o mesmo caldo cultural. O princípio da atracção da semelhança reconstituirá os antigos vícios enquanto o legislador esfrega um olho.
A elite política deveria dar o exemplo nas organizações que dirige, aprofundando a eleição directa dos seus líderes, mesmo que isso por vezes conduza os ditos “populistas” ao poder. Errado é a solução da desresponsabilidade dos cidadãos, quer como militantes políticos ou cidadãos ou que como membros de uma instituição do Ensino Superior Público, que pretende formar a “escol” técnico de que falava Sedas Nunes mas também constituir referência na formação de bons cidadãos, empenhados e treinados para as boas práticas e para a cidadania.
III- A Dimensão Social do Ensino Superior nas Sociedades Europeias (cont.)
Como prometido, prossigo hoje com a divulgação sistemática de algumas das mais importantes conclusões dos últimos relatórios da União Europeia sobre a dimensão social do ensino superior nas sociedades europeias. Sobre as fontes e procedimentos que estou a adoptar e a agenda, tudo deixei suficientemente explicado em registos anteriores (cf. 9822º dia). Ao primeiro feixe de questões - Quem paga os custos do Ensino Superior? Qual é o nível de intervenção do financiamento público (FP)? E este FP cobre que tipo de despesas? Qual é que isto tudo ocorre em Portugal, tanto quanto os dados permitem conhecer? – ficou dada resposta no registo do 9825º dia. Para hoje a questão é a seguinte: Qual a contribuição dos estudantes europeus para o custo dos seus estudos no Ensino Superior, nomeadamente para a obtenção do primeiro diploma? A resposta tem 5 pontos:
1.Em todos os países da Europa as autoridades públicas (centrais, regionais e locais) intervêm nas despesas do ensino superior. Em 2003, nos 27 paises que hoje constituem a EU-27, a contribuição média das autoridades públicas para o financiamento do Ensino Superior (Nível ISCED5) era na ordem dos 80%. A segunda grande fonte de financiamento foram as contribuições das famílias/estudantes. O peso do financiamento obtido através de “outras entidades privadas” ou recrutado internacionalmente não excedia os 6% e em alguns dos países, ricos e pobres, simplesmente não existiram.
2.Quanto às contribuições dos estudantes podemos distinguem-se três categorias principais:
a)As que cobrem as despesas administratrivas: taxas de acesso, inscrições, certificação etc…
b)As que cobrem despesas de ensino: propinas
c)A cotização das associações de estudantes (que em alguns paises são obrigatórias)
Entre as sociedades europeias há uma grande diversidade quanto a presença destes encargos. Em alguns paises não há encargos nenhum para o estudante (Dinamarca, Estónia, Irlanda, Grécia, Hungria, Malta, Escócia), em alguns há apenas uma contribuição como quotização das associações de estudantes (Chipre, Suécia e Finlância), noutros apenas são cobradas despesas administrativas específicas (Luxemburgo, Roménia, Eslovénia; e Islândia, país da AECL-EEE), noutros ainda só despesas de ensino (Bélgica, Lituânia ), e noutros há várias combinações entre cotizações e despesas administrativas. São ainda vários os países que cobram em simultâneo despesas administrativas e de ensino : Portugal é um deles, no que é acompanhado pela Itália, Letónia, Bélgica (Comunidade germanófila) e fora da Comunidade, pela sector privado subvencionado da Noruega e pela Turquia. O gráfico que se segue ilustra esta variedade:
3. Tendo em conta o peso efectivo do conjunto das contribuições exigidas aos estudantes –quando alguma é exigida – a primeira conclusão que se destaca é o facto de numa dúzia de países da Europa, todos eles integrados na UE,poder considerar-se como gratuito o acesso aos estudos em regime de full-time para obter uma primeira qualificação(ISCED5)no Ensino Superior.
“Em três países (Finlândia, Suécia e no sector público da Noruega) só é exigida uma contribuição monetária (cota) para as organizações estudantis; na Dinamarca não existe qualquer contribuição. Consequentemente, nestes paises nórdicos, o acesso pode considerar-se como gratuito. A situação é similar para todos os programas na Irlanda, Chipre, Grécia, Eslovénia, Escócia e ainda para os estudantes que dispõem de um lugar subsidiado na Letónia (cerca de 25%). Tal gratuitidade existe ainda nos programas longos teóricos da República Checa e nos programas curtos profissionais de Espanha.
Catorze países exigem aos seus estudantes uma contribuição para os custos do ensino (tuition fees). Na maior parte deles os montantes anuais variam entre 200 e 1000 Euros Padrão. Frequentemente as instituições de ensino são livres de determinar o montante das propinas mas está fixado um montante máximo.
Em Itália e no sector privado dependente da subvenção do Estado na Noruega, as instituições são totalmente livres de fixar o montante das propinas. Nos paises onde está fixado um montante máximo, elas podem superar os 6000 Euros Padrão como no sector público da Letónia para os estudantes não subsidiados e em alguns programas em Portugal. Em Inglaterra e Irlanda do Norte desde 2006/2007 as instituições são livres de fixar o montante das propinas, sem ultrapassar o máximo imposto que é de 4031 Euros PCP.”(Cf. Memo)
Depois do UK (ENG/WLS/NIR), da Letónia e da Holanda, os países da Península Ibérica são os que têm fixados os arcos (mínimo-máximo) de propinas mais elevados e os que cobram montantes anuais mais elevados em Euros padrão. Embora com um arco similar ao espanhol,as propinas cobradas em Portugal são em média superiores às praticadas no país vizinho.
4. Dos relatórios em análise, destaca-se ainda o facto de quinze países revelarem a determinação de limitar a duração dos estudos impondo contribuições majoradas em caso de prolongamento de estudos (i.é.,o pagamento de contribuições crescentes se o número de anos de estudo para aobter um determinado certificado fôr superior a um determinado período fixado, «penalizando» assim os maus resultados académicos). O montante é, neste caso, e de um modo geral, deixado ao livre arbítrio das instituições.
“As despesas já são majoradas em Espanha, Itália, Portugal e Turquia. Só noutros seis países [a República Checa, nos programas longos teóricos), a Irlanda, a Hungria, a Roménia, a Eslovénia e a UK-Escócia] assim como em seis (das dezaseis) « Länder » Alemãs, a situação de atraso ou adiamento é a única circunstância em que os estudantes nacionais podem ser obrigados a pagar uma contribuição. Contudo nestes casos a gratuitidade mantem-se na Dinamarca, Grécia, Chipre, Malta, Suécia, Finlância e ainda nos programas profissionais curtos em Espanha e no sector público norueguês. “
5. Tudo somado, no que toca à obtenção do primeiro diploma universitário, os estudantes universitários portugueses estão numa situação de acentuada desigualdade face à grande maioria dos jovens europeus. Uma boa parte destes não tem que suportar encargos com o acesso e a frequência escolar universitária e os que suportam parte desses encargos, nomeadamente as propinas, liquidam montantes muito mais baixos. Para se ter uma ideia, enquanto as propinas portuguesas e espanholas podem variar entre os 586-516 e os 1109-1082 € (respectivamente),na República Checa variam entre os 149 e 298 €, em França são de 146 € (excepto na área da saúde), na Eslovénia não ultrapassam os 50 €, na Bélgica oscilam entre os 153 (ensino politécnico)–307 (ensino univeristário) e os 199(ensino politécnico)-399 (ensino universitário) euros (padrão, obviamente).
HAF
8.00-11.00h: Codificação electrónica dos títulos ocupacionais portugueses.
11.00-12.45. Reunião da equipa docente e discente do 2ª Ciclo em Teatro. Constituido o Ensino Artístico há pouco mais de uma década, num processo em que quase me ia envolvendo,é a primeira vez que sou solicitado a com eles colaborar em actividades de ensino. Este é um mundo que me não é completamente estranho pois por ele andei como actor amadoríssimo (1970-74) e estudante (de História do Teatro, 1977-78?) . Vou assegurar a regência do Seminário “História da Europa dos Séculos XIX e XX: Das Sociedades Europeias à Sociedade Europeia?”
14.00. Reunião com adjunta do Mestrado de EHE. Além do balanço da reunião do passado dia 28 com os estudantes admitidos, tratamos de assuntos relacionados com equivalências e creditação de competências.
15.00. Recebi um aluno estrangeiro do referido mestrado e tomaram-se as iniciativas no sentido de fixar os horários lectivos e marcação de uma sala adequada.
16.30.-20.00 Regresso à Codificação.
II-O País da Batota, o Povo e as Elites Políticas
Os últimos dias tem sido ricos em matéria de batota.O futebol é realmente exemplar. A mais importante actividade associada à internacionalização portuguesa tem uma componente interna(o sector da arbitragem)que dificilmente pode ser vista apenas como incompetente.Acho que a generalidade dos portugueses (o povo….que tantos temem) pensa assim, e provavelmente pensa bem.
Mas a batota insinua-se noutros sectores. Como no recente episódio da eleição directa de um líder partidário. De facto ele ficou marcado, em primeiro lugar, por insinuações nunca completamente esclarecidas sobre (tentativas de) arranjos convenientes nos cadernos eleitorais; depois, pela composição, de duvidosa legitimidade democrática, da entidade fiscalizadora. Os Europeus tem dois séculos de experiência eleitoral e é dificil aceitar que foi a incompetância política que levou à fixação de procedimentos adequados tanto na constituição dos cadernos eleitorais como das entidades fiscalizadoras.Uma lástima.
Este episódio serve bem para tirar a medida à nossa elite política. É extraordinário o que foi possível dizer e escrever pela opinião publicada e entrevistada do costume sobre o candidato vencedor e os seus eleitores, depois de contados os votos. Chamaram-lhe de tudo e prognosticaram as maiores desgraças para o partido em causa e para o país. E, pelo menos em alguns meios políticos, fixaram algum consenso sobre o caminho a seguir: acabar com as eleições directas (obviamente porque a populaça não sabe escolher), e limitar essa tão nobre e difícil tarefa aos baronatos e dependentes directos estabelecidos e naturalmente esclarecidos.
Direi, por analogia, que este raciocínio pobre é extensivo às instituições do ensino superior (existiu e mantêm-se no novo RJIES). A partir de finais dos anos 1970, na sequência da lei de Outubro de 1976 que regulou a gestão democrárica no Ensino Superior, os reitores, até então de nomeação ministerial,passaram a ser eleitos por uma assembleia, onde estavam representados (por eleição) os três corpos da Universidade (docentes, estudantes e funcionários ) e alguns votantes por inerência de funções. O “povo universitário” elegia, em primárias separadas, os seus representantes que, maturos e preclaros, escolhiam o reitor entre os catedráticos locais disponíveis para o cargo. Nunca percebi tal menoridade. Todos os actores sociais presentes na Universidade (estudantes, professores e funcionários) são (salvo raríssimas excepções)cidadãos activos (eleitores). São capazes como todos os outros portugueses recenseados de eleger directamente os Deputados dos seus círculos ou, de foma mais clara, o Presidente da República. Quanto menos intermedários tem havido melhores parecem ser as escolhas do povo, como o caso da Presidência ilustra muito bem.
Ora, porque razão não se reconhece capacidade à comunidade universitária para eleger directamente o seu Reitor? A experiência do “colégio eleitoral” revelou o lado mais sórdido dos jogos de conveniência política e corporativa e das más práticas. As dificuldades que hoje atravessam algumas instituições decorrem desse facto. Os mentores e autores do novo regime jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) deveriam ter dado mais atenção à experiência que nesta matéria está em curso em algumas(ainda que poucas)instituições do ensino superior em vários países da Europa com a introdução da eleição directa dos reitores. Mas é também necessário dizer que o dito RJIES não impossibilita totalmente um modelo de eleição reitoral em que a comunidade académica tenha um momento relevante de participação directa activa. Não atender a uma solução desta natureza pode significar manter, à boa maneira portuguesa, as mesmas dificuldades que pertubaram o modelo anterior. Nâo basta mudar os actores, especialmente se eles partilham (quase) todos o mesmo caldo cultural. O princípio da atracção da semelhança reconstituirá os antigos vícios enquanto o legislador esfrega um olho.
A elite política deveria dar o exemplo nas organizações que dirige, aprofundando a eleição directa dos seus líderes, mesmo que isso por vezes conduza os ditos “populistas” ao poder. Errado é a solução da desresponsabilidade dos cidadãos, quer como militantes políticos ou cidadãos ou que como membros de uma instituição do Ensino Superior Público, que pretende formar a “escol” técnico de que falava Sedas Nunes mas também constituir referência na formação de bons cidadãos, empenhados e treinados para as boas práticas e para a cidadania.
III- A Dimensão Social do Ensino Superior nas Sociedades Europeias (cont.)
Como prometido, prossigo hoje com a divulgação sistemática de algumas das mais importantes conclusões dos últimos relatórios da União Europeia sobre a dimensão social do ensino superior nas sociedades europeias. Sobre as fontes e procedimentos que estou a adoptar e a agenda, tudo deixei suficientemente explicado em registos anteriores (cf. 9822º dia). Ao primeiro feixe de questões - Quem paga os custos do Ensino Superior? Qual é o nível de intervenção do financiamento público (FP)? E este FP cobre que tipo de despesas? Qual é que isto tudo ocorre em Portugal, tanto quanto os dados permitem conhecer? – ficou dada resposta no registo do 9825º dia. Para hoje a questão é a seguinte: Qual a contribuição dos estudantes europeus para o custo dos seus estudos no Ensino Superior, nomeadamente para a obtenção do primeiro diploma? A resposta tem 5 pontos:
1.Em todos os países da Europa as autoridades públicas (centrais, regionais e locais) intervêm nas despesas do ensino superior. Em 2003, nos 27 paises que hoje constituem a EU-27, a contribuição média das autoridades públicas para o financiamento do Ensino Superior (Nível ISCED5) era na ordem dos 80%. A segunda grande fonte de financiamento foram as contribuições das famílias/estudantes. O peso do financiamento obtido através de “outras entidades privadas” ou recrutado internacionalmente não excedia os 6% e em alguns dos países, ricos e pobres, simplesmente não existiram.
2.Quanto às contribuições dos estudantes podemos distinguem-se três categorias principais:
a)As que cobrem as despesas administratrivas: taxas de acesso, inscrições, certificação etc…
b)As que cobrem despesas de ensino: propinas
c)A cotização das associações de estudantes (que em alguns paises são obrigatórias)
Entre as sociedades europeias há uma grande diversidade quanto a presença destes encargos. Em alguns paises não há encargos nenhum para o estudante (Dinamarca, Estónia, Irlanda, Grécia, Hungria, Malta, Escócia), em alguns há apenas uma contribuição como quotização das associações de estudantes (Chipre, Suécia e Finlância), noutros apenas são cobradas despesas administrativas específicas (Luxemburgo, Roménia, Eslovénia; e Islândia, país da AECL-EEE), noutros ainda só despesas de ensino (Bélgica, Lituânia ), e noutros há várias combinações entre cotizações e despesas administrativas. São ainda vários os países que cobram em simultâneo despesas administrativas e de ensino : Portugal é um deles, no que é acompanhado pela Itália, Letónia, Bélgica (Comunidade germanófila) e fora da Comunidade, pela sector privado subvencionado da Noruega e pela Turquia. O gráfico que se segue ilustra esta variedade:
3. Tendo em conta o peso efectivo do conjunto das contribuições exigidas aos estudantes –quando alguma é exigida – a primeira conclusão que se destaca é o facto de numa dúzia de países da Europa, todos eles integrados na UE,poder considerar-se como gratuito o acesso aos estudos em regime de full-time para obter uma primeira qualificação(ISCED5)no Ensino Superior.
“Em três países (Finlândia, Suécia e no sector público da Noruega) só é exigida uma contribuição monetária (cota) para as organizações estudantis; na Dinamarca não existe qualquer contribuição. Consequentemente, nestes paises nórdicos, o acesso pode considerar-se como gratuito. A situação é similar para todos os programas na Irlanda, Chipre, Grécia, Eslovénia, Escócia e ainda para os estudantes que dispõem de um lugar subsidiado na Letónia (cerca de 25%). Tal gratuitidade existe ainda nos programas longos teóricos da República Checa e nos programas curtos profissionais de Espanha.
Catorze países exigem aos seus estudantes uma contribuição para os custos do ensino (tuition fees). Na maior parte deles os montantes anuais variam entre 200 e 1000 Euros Padrão. Frequentemente as instituições de ensino são livres de determinar o montante das propinas mas está fixado um montante máximo.
Em Itália e no sector privado dependente da subvenção do Estado na Noruega, as instituições são totalmente livres de fixar o montante das propinas. Nos paises onde está fixado um montante máximo, elas podem superar os 6000 Euros Padrão como no sector público da Letónia para os estudantes não subsidiados e em alguns programas em Portugal. Em Inglaterra e Irlanda do Norte desde 2006/2007 as instituições são livres de fixar o montante das propinas, sem ultrapassar o máximo imposto que é de 4031 Euros PCP.”(Cf. Memo)
Depois do UK (ENG/WLS/NIR), da Letónia e da Holanda, os países da Península Ibérica são os que têm fixados os arcos (mínimo-máximo) de propinas mais elevados e os que cobram montantes anuais mais elevados em Euros padrão. Embora com um arco similar ao espanhol,as propinas cobradas em Portugal são em média superiores às praticadas no país vizinho.
4. Dos relatórios em análise, destaca-se ainda o facto de quinze países revelarem a determinação de limitar a duração dos estudos impondo contribuições majoradas em caso de prolongamento de estudos (i.é.,o pagamento de contribuições crescentes se o número de anos de estudo para aobter um determinado certificado fôr superior a um determinado período fixado, «penalizando» assim os maus resultados académicos). O montante é, neste caso, e de um modo geral, deixado ao livre arbítrio das instituições.
“As despesas já são majoradas em Espanha, Itália, Portugal e Turquia. Só noutros seis países [a República Checa, nos programas longos teóricos), a Irlanda, a Hungria, a Roménia, a Eslovénia e a UK-Escócia] assim como em seis (das dezaseis) « Länder » Alemãs, a situação de atraso ou adiamento é a única circunstância em que os estudantes nacionais podem ser obrigados a pagar uma contribuição. Contudo nestes casos a gratuitidade mantem-se na Dinamarca, Grécia, Chipre, Malta, Suécia, Finlância e ainda nos programas profissionais curtos em Espanha e no sector público norueguês. “
5. Tudo somado, no que toca à obtenção do primeiro diploma universitário, os estudantes universitários portugueses estão numa situação de acentuada desigualdade face à grande maioria dos jovens europeus. Uma boa parte destes não tem que suportar encargos com o acesso e a frequência escolar universitária e os que suportam parte desses encargos, nomeadamente as propinas, liquidam montantes muito mais baixos. Para se ter uma ideia, enquanto as propinas portuguesas e espanholas podem variar entre os 586-516 e os 1109-1082 € (respectivamente),na República Checa variam entre os 149 e 298 €, em França são de 146 € (excepto na área da saúde), na Eslovénia não ultrapassam os 50 €, na Bélgica oscilam entre os 153 (ensino politécnico)–307 (ensino univeristário) e os 199(ensino politécnico)-399 (ensino universitário) euros (padrão, obviamente).
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