Longos dias entre o desenho de um novo projecto de investigação, de reuniões da equipe, de aulas, de leituras de teses e de um «plano (dito) estratégico», de júris, da organização de uma “reunião” de alunos Teresianos angolanos, de uma meia-gripe e de outras coisas que não me dispensaram mais tempo para o «Diário de Cátedra» do que o indispensável para os apontamentos que se seguem.
I

(18 de abril)
II
A suspensão das das reformas antecipadas
Um governo na boa tradição portuguesa: batota e chico-expertise natos (18 de abril)
III
Neste país de muitos laicos da treta , de muitos falsos e cada vez menos católicos e de beatagem …. Roma ainda manda. Os trabalhadores portugueses devem estar gratos à Igreja de Roma por mais dois dias de descanso por ano. À aristocracia «revolucionária» setecentista e aos republicanos de 1910 ( « O diabo à solta» escreveria João Ameal) é que nada. Ponto final. (19 de abril)
IV
Confirmada uma nova «aventura/ditadura militar» (temporária?) na Guiné com a submissão dos políticos a um «Conselho de transição»….. de dois anos! Uma boa oportunidade para ficarmos a saber se a CPLP serve para alguma coisa…. (20 de abril)
V
A «Sábado» (número 416 ) realça «Como se vivia em Portugal nos frenéticos anos 70» , antes e depois do 25 de abril. Muita gente do mundo de hoje convidada a falar do «pequeno mundo» de então. Os «colonos», os «retornados» (etc, etc,) é que ficaram sem voz. Expectável.
VI
É fundamental para a União Europeia, cuja democracia política e social exige uma cada vez mais extensa constelação de classes médias que o socialista François Hollande seja o próximo Presidente da República Francesa. Os resultados da 1ª volta não permitem concluir que nos livremos do «petit français»…..mas pressinto que isso vai ocorrer. (24 de abril)
VII
António Casimiro Ferreira, autor de «A Sociedade da Austeridade e o Direito ao Trabalho de Excepção » (lançamento a 23 de abril, e, Coimbra), em entrevista ao Público disse : «É preciso pressionar e criar no espaço público condições para que as pessoas sintam incómodo de se pensarem como pessoas com medo. É uma tentativa de introduzir conceitos que estão afastados do discurso oficial como a dignidade humana, a boa sociedade, a reciprocidade democrática do olhar, o respeito, o reconhecimento , a vulnerabilidade» (Público, 23 de Abril). A declaração da Associação 25 de Abril expressa no Comunicado «Abril não Desarma» é um importante contributo nesse sentido. Perder o medo, combater com clareza a ruptura social em curso, para a qual o PS contribuíu. O Dr. Mário Soares e o poeta Manuel Alegre perceberam isso. Devia haver mais gente com coragem de dar a cara, mesmo que tivesse que se retratar dos erros do passado.
VIII
Já sabíamos que a taxa de desemprego entre os nossos jovens (o grupo etário formalmente com mais elevada taxa de qualificação do país apesar da sangria migratória) ronda os 40%. Agora sabemos também que dos que estão empregados 40% tem salários abaixo dos 600 euros. Falta saber quantas horas de trabalho lhes é exigido. Mas que fique claro: um mundo de assalariados explorado miseravelmente. Chegou sem dúvida a hora do divórcio com o país. Definitivo. (27 de abril)
IX
O SCP… vive um momento «iluminado» em torno do seu futebol. O «Sá Pinto» ilustra bem o que pode fazer e como deve proceder um líder.
X
A morte de Miguel Portas, aos 53 anos. Uma mente livre, o discurso «não-seminarista» do Bloco. Ouvia-se sempre com o prazer com que ouvimos as pessoas inteligentes, intransigentes e livres.
XI
A Operação «Cuba Livre» que deveria ter sido designada de Madeira Corrupta , aparentemente não deu nada. Surprise, estúpido.
XII
«Universidades fazem ultimato para recuperar milhões em propinas» (Público, 28 de Abril). Eu não faria. Teria a coragem de adoptar soluções que estejam ao alcance dos devedores. (28 de Abril)
XIII
Em 27-28 de abril, começam as despedidas… de mais um. Manuel Freire, cantou nos inicio dos anos 1970s, «Ei-los que partem novos e velhos buscando a sorte noutras paragens noutras aragens entre outros povos ei-los que partem velhos e novos»…. Hoje , partem , partem essencialmente os novos, numa vaga que se aproxima de novo dos 100.000/ano e sem o horizonte do retorno. Chegou a vez de lidarmos cá em casa com isso. Não deve ser só esta. Este «reino da batota» não é um país para ambiciosos com ambições legítimas. Quero que partam.
XIV
A leitura destes dias:
Elísio Estanque: A Classe Média: Ascensão e Declínio, Ed. da Fundação FMS. Um ensaio que tem a apresentação em Évora, no próximo dia 4 de maio, pelas 17 horas,
HAF