Dia Branco... para acabar um ano de monumentais tontarias.
HAF
Um blogue sobre as cores da vida e a variedade dos seus heróis.
Esta capa diz muito mais. Mas o destaque desta edição do Jornal de Angola vai ser , certamente, o
«Editorial (não assinado)
Jogos perigosos
Camões, faminto de tudo, até de pão, na hora da partida desta vida, descontente, ainda foi capaz de um último grito de amor. Morreu sem nada, mas com a sua ditosa e amada pátria no coração. Ele que sofreu as agruras do exílio e foi emigrante nas sete partidas, escorraçado pelos que se enfeitavam com a glória de mandar e a vã cobiça, morreu no seu país.
O mais universal dos poetas de língua portuguesa deixou-nos uma obra que é o orgulho de todos os que falam a doce e bem-amada língua de Camões. Mas também deixou, seguramente por querer, a marca das elites nacionais que o desprezaram e atiraram para a mais humilhante pobreza. O seu poema épico acaba com a palavra Inveja. Desde então, mais do que uma palavra, esse é o estado de espírito das elites portuguesas que não são capazes de compreender a grandeza do seu povo e muito menos a dimensão da sua História.
Nós em Angola aprendemos, desde sempre, o que quer dizer a palavra que fecha o poema épico, com chave de chumbo sobre a masmorra que guarda ciosamente a baixeza humana. A inveja moveu os primeiros portugueses que chegaram à foz do Rio Zaire e encontraram gente feliz, em comunhão com a natureza. Seres humanos que apenas se moviam para honrar a sua dimensão humana e nunca atrás de riquezas e honrarias.
A inveja fez mover os invasores estrangeiros nesta imensa terra angolana. Inveja foi o combustível que alimentou os beneficiários da guerra colonial. Inveja foi o estado de alma de Mário Soares quando entrou na reunião do Conselho da Revolução, que discutia o reconhecimento do novo país chamado Angola, na madrugada de 10 para 11 de Novembro de 1975. Roído de inveja e de cabeça perdida porque a CIA não conseguiu fazer com êxito o seu trabalho sujo contra Angola, disse aos conselheiros, Capitães de Abril: não vale a pena reconhecerem o regime de Agostinho Neto porque Holden Roberto e as suas tropas já entraram em Luanda. Uma mentira ditada pela inveja e a vã cobiça.
A inveja alimentou em Portugal o ódio contra Angola todos estes anos de Independência Nacional. E já lá vão 37! Os invejosos e ingratos para com quem os quer ajudar estão gastos de tanto odiar. Que o diga a chanceler Ângela Merkel, que ajudou a salvar Portugal da bancarrota, mas é todos os dias insultada. Recusam aceitar que foram derrotados depois de alimentarem décadas de rebelião em Angola, de braço dado com as forças do “apartheid” de uma África do Sul zelosa guardiã da humilhação de África.
As elites políticas portuguesas odeiam Angola e são a inveja em figura de gente. Vivem rodeadas de matilhas que atacam cegamente os políticos angolanos democraticamente eleitos, com maiorias qualificadas. Esse banditismo político tem banca em jornais que são referência apenas por fazerem manchetes de notícias falsas ou simplesmente inventadas. E Mário Soares, Pinto Balsemão, Belmiro de Azevedo e outros amplificam o palavreado criminoso de um qualquer Rafael Marques, herdeiro do estilo de Savimbi.
Os angolanos estão em festa pela Independência Nacional. Em Portugal, a nova Procuradora-Geral da República foi a Belém onde deve ter explicado a Cavaco Silva as informações que no mesmo dia saíram na SIC Notícias e no “Expresso”, jornal oficial do PSD, que fizeram manchetes insultuosas e difamatórias visando o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, que acaba de ser eleito com mais de 72 por cento dos votos dos angolanos. Militares angolanos com o estatuto de Heróis Nacionais e ministros democraticamente eleitos foram igualmente vítimas da inveja e do ódio do banditismo político que impera em Portugal, neste 11 de Novembro, o Dia da Independência Nacional. A PGR portuguesa é amplamente citada como a fonte da notícia. A campanha contra Angola partiu do poder ao mais alto nível. Mas como a PGR até agora ficou calada, consente o crime. As relações entre Angola e Portugal são prejudicadas quando se age com tamanha deslealdade. A cooperação é torpedeada quando um ramo mafioso da Maçonaria em Portugal, que amamentou Savimbi e acalenta o lixo político que existe entre nós, hoje determina publicamente o sentido das nossas relações, destilando ódio e inveja contra os angolanos de bem. Da boca para fora, são sempre amigos de Angola e dos angolanos, da Alemanha e dos alemães. Enchem os bornais de dinheiro, à custa de Angola, comem à custa da Alemanha. Sobrevivem à miséria, usando como último refúgio a antiga “jóia da coroa”, feliz expressão do capitão de Abril Pezarat Correia. Mas na hora da verdade, conspiram e ofendem angolanos e alemães, usando a sua máquina mediática.
“De sorte que Alexandre em nós se veja,/ sem à dita de Aquiles ter inveja.” Estes são os dois últimos versos de Camões no seu poema épico. Os restos do império, que estrebucham na miséria moral, na corrupção e no embuste, deviam render-se à evidência. Angola não é um joguete! Nós somos Aquiles! Tão grandes e vulneráveis como ele. Mas não tenham Inveja do nosso êxito, porque fazemos tudo para merecê-lo. »
Este texto, de meias verdades, tem um mérito muito limitado porque o seu autor não teve a coragem de dar a cara. E devia expor-se. Leva-nos a imaginar que também ele tem telhados de vidro.
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"In this election, you the American people reminded us that while our road has been hard, our journey has been long, we have picked ourselves up, we have fought our way back and we know in our hearts that for the United States of America the best is yet to come," [Barack Obama's Victory Speech - Election 2012]
Em suma, tudo na mesma: na Presidência e no Congresso, com um «Senate» democrata e, uma «House of Representatives» com maioria republicana. Vejamos se no novo mandato a Hause é mais construtiva, ou se, como se teme, reforce a sua posição de bastião neo-conservador.
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Quem venceu o debate esta noite?
«Romney is Winner for the Media, Big Loser is Moderator Jim Lehrer. […] Substantively, Obama won the people who will already vote Democratic, Romney won the people who will already vote Republican, and the swing voters are just as confused as ever.» Matthew Rozsa ( Historiador: Politics, 2012 El
Who Won the Debate in Terms of Temperament? « I wrote this morning that the most important thing to watch in tonight’s debate would be the evidence it gave of the candidates’ temperaments, as they faced each other in the most high-stakes moment of the campaign. I described temperament […]as “the strength of character that allows a president to stay on top of all the events and complexities and life-and-death challenges of the world’s most difficult job, and to remain open-minded and flexible and yet determined.” Throughout most of the debate, and especially in the first half, Romney seemed more confident and flexible and yet determined than President Obama did. Obama looked defensive and uncertain. Romney may have said things that were clearly untrue—I believe he did—but he said them convincingly, and Obama didn’t even challenge them. [Frederick E. Allen, in Forbes]
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« 3 Quotes ["Trickle-down government" (new political lexicon); “Deficit spending” ; “I'm gonna stop the subsidy to PBS. I'm gonna stop other things”] proving Why Mitt Romney Was the Clear Winner at the Presidential Debate» James Velasquez
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«In the First Presidential Debate, A Lack of Foresight Prevents Us from Understanding Candidates' Visions. Obama's subdued performance along with Romney's aggressive use of the president's usual rhetoric and the candidates' mutual emphasis on communality made the first debate a murky affair.» (Sam Meier )
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Winners and losers from the first presidential debate : Romney earns a star turn when he needed one, while Obama seemed purposely restrained. [Chris Cillizza , Washington Post]
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«Two-thirds of people who watched the first presidential debate think that Republican nominee Mitt Romney won the showdown, according to a nationwide poll conducted Wednesday night. According to a CNN/ORC International survey conducted right after the debate, 67% of debate watchers questioned said that the Republican nominee won the faceoff, with one in four saying that President Barack Obama was victorious.» (CNN Poll)
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Neste final de tarde, depois da sessão de Teoria da História, ao folhear a página web do «The Guardian », uma notícia assinada por Mark Mazower «anunciava» a morte de Eric Hobsbawm.
Cruzei com Hobsbawm (EH) algumas vezes. A mais privada foi em Reading, num almoço de véspera de natal em casa de um outro grande historiador britânico Edward .J.T. Collins, um bom amigo, hoje Emeritus Professor of Rural History (U. Reading) . Ainda que não se achasse uma «subespécie excepcional» ( E.H.: Años Interessantes. Una vida em el siglo XX, Critica, 2003 (ed.orig. 2002) , EH era de facto demasiado solicitado (e eu insuficientemente atrevido) para que a nossa conversa não tenha ficado limitada a uma breve troca de palavras em torno de um historiador português e de outras matérias históricas portuguesas (o colonialismo, p.ex.)
EH fez os estudos pré-universitários em Viena e Berlim, onde viveu a ascensão do Nazismo e descobriu a obra de K. Marx. Em 1936 ingressou na Universidade de Cambridge e no grupo local do partido comunista [«me hiced comunista em 1932, aunque en realidade no ingressé en el Partido hasta mi llegada a Cambridge en otoño de 1936 (Hobsbawm, 2003, p. 125) e em particular no CUSC (Cambridge University Socialist Club) - os «vermelhos» de Cambridge, a que a campanha pró-republicana na Guerra Civil de Espanha deu grande visibilidade- e, entre os estudos, projectos editoriais ( Granta, etc) e a militancia política anti-fascista, repartia as férias entre a London School of Economics (que então acolhia muitos refugiados intelectuais judeus e antifascistas da Europa Central: Norbert Elias, Karl Polanyi, etc) e a França (gostava de viajar à boleia na Bretanha). Em 1939 integrou a Apostle Society ,uma sociedade secreta de intelectuais (grupo de discussão), fundada em 1820, também conhecida por « The Cambridge Apostles» ou, «Cambridge Conversazione Society», de que John Maynard Keynes também foi membro (1903, integrando o Bloomsbury Group) .
«Es fácil describir retrospectivamente cómo sentíamos y qué hacíamos como militantes del Partido cicuenta años atrás, pero explicarlo resulta mucho más difícil» (EH, 2003, p. 132). Foi militante do CPGB - Comunist Parety of Great Britain durante 55 anos, vinculo que só terminou com a extinção do partido (1920-1991). "I was a loyal Communist party member for two decades before 1956 and therefore silent about a number of things about which it's reasonable not to be silent." (Eric Hobsbawm, in Observer special, 22 set. 2002) . Um dos episódios marcantes desta fidelidade foi o famoso panfleto que, com Raymond Williams, assinou de apoio à fracassada invasão da Finlândia pela União Soviética ( 1939-40) que o pacto Hitler-Estaline consentiu. O argumento de que Estaline estaria apenas a proteger a Rússia de uma invasão imperialista britânica correspondeu fundamentalmente a uma obediência partidária: «We were given the job as people who could write quickly, from historical materials supplied for us. You were often in there writing about topics you did not know very much about, as a professional with words.’ (cf. Raymond Williams : Politics and letters: interviews with New left review, 1981, p.43) .
Iniciou a sua carreira académica em 1947 como «Leccturer» no Birkbeck College (universidade de Londres),de que se tornou Presidente em 2002. De 1949 a 1955 foi « history fellow at King’s College».
Com Chrsitopher Hill, Raphael Samuel E.P. Thompson e outros, EH fundou o «Comunist Party Historian Group» (CPHG, 1946-1956), um extraordinário clube (British Marxist Historian) cujo contributo historiográfico – uma « history from below» e acessível ao povo , a que a revista Past and Present (que fundaram em 1952) deu uma sólida feição académica -, não só revolucionou a historiografia britânica do pós-guerra e a projectou internacionalmente, como marcou toda a teoria e prática em torno escrita profissional da História ou, como gosto de dizer, dos Estudos Históricos.
Tornou-se uma referência do «marxismo cultural» ou «académico» no campo historiográfico, sendo os Primitive Rebelds. Studies in Archaic Forns of Social Movements in the 19th and 20th Centuries (1959) um trabalho seminal. E foi, por cima de tudo, um grande historiador, tanto na aplicação dos princípios cardinais como na arte da escrita da História. Uma parte do seu extenso legado historiográfico está traduzido em português, em particular a colecção, originalmente publicada entre 1962 e 1994, que dedicou à História do Mundo Contemporâneo (desde a Revolução Francesa): The Age of Revolution, 1789-1848;, The Age of Capital; The Age of Empire; The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914-1991. E deixou ainda uma notável autobiografia (2002), já acima referenciada e citada na edição de Espanha [ Años Interessantes. Una vida em el siglo XX, Critica, 2003.]
O quadro conceptual, instrumentos analíticos a que recorreu, as suas interpretações históricas, a forma da escrita da história tornaram-se regular objecto de debate, um debate que sempre aceitou e o tornou regularmente presente nos grandes encontos científicos da comunudade sistémica que os historiadores edificaram( Karl Dietrich Erdmann: Towards a Global Community of Historians. The International Historical Congresses and the International Committee of Historical Sciences, 1898-2000, Berghahn, 2005).
Desde os anos 1930s cultivou o gosto pelo Jazz, um «ritmo» (e cultura) então pouco apreciado nos meios universitários britânicos, e, nas décadas seguintes, cultivou este gosto nos seus contactos com outros militantes comunistas da Europa de Leste e dos Estados Unidos. Nos anos 1950s, a figura do crítico de jazz ganhou um espaço crescente nos jormais britânicos. EH, que já tinha prestado alguma colaboração à revista Jazz Music, aceitou o convite (1955) para tal colaboração no New Stateman and Nation, um jornal que tinha como leitor tipo «o clássico funcionário público, varón, de unos cuarenta e tantos años» (EH, 2003). E, como entendeu dever separar a personalidade de professor universitário da de crítico de Jazz, durante uma década, escreveu crítica jazzística com o pseudónimo de Francis Newton. E « As ‘Francis Newton’ (named after a Communist jazz trumpeter who played on Billie Holiday’s ‘Strange Fruit’), I wrote a column every month or so for the New Statesman for about ten years.» (E.H. «Diary» , London Review of Books , Vol 32-10 27 May 2010; EH, 2003, p. 212). E ainda como Francis Newton publicou em 1959, The Jazz Scene , a primeira história social do jazz na perspectiva britânica, obra reeditada em 1993 agora autorada pelo historiador.
Regressando à notícia do «The Guardian»: 'To anyone who loves history Eric Hobsbawm's death is very sad news' (Mark Mazower)
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