Editorial

Um amigo muito estimado tem uma “FlorBela” , a poetisa, sentada à janela do mundo. A peça é de Pedro Fazenda e hoje permite à poetisa, a partir da Quinta de Santa Rita, um olhar eterno sobre o lado este da cidade de Évora. Todavia ela nem sempre esteve ali. Conheci-a na cidade, no Pátio de S. Miguel , quase debruçada sobre o velho Colégio Espírito Santo (actual “centro” da Universidade de Évora) e com um horizonte que dos “coutos “ orientais da cidade se prolongava, nos dias verdadeiramente transparentes , até Évora-Monte . Mas as coisas da vida são como se fazem. Depois de um par de anos vendo o mundo a partir da cidade , e de mais alguns por outras andanças e paragens, Florbela sentou-se definitivamente para observar a cidade. E lá a encontrará nos anos vindouros quem a souber procurar. À janela, de onde a poetisa gostava de apreciar se não o Mundo, pelo menos o Mar (“Da Minha Janela”, 1923).

À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.

DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.

Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.

A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.

Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.

Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)

quarta-feira, outubro 31

11680º a 11684º Dia

27 a 30 de Outubro de 2012 I 17 de 32 trabalhos escolares (MRIEE.UMA) 3 de 5 teses Relatórios ESTER (European graduate School for Training in Economic and Social-historical Research) Parecer sobre o Plano de estudos Mestrado em Ensino de História África (ISCED, Huíla) II Um choramingas no semáforo Foi ontem. Naquela sequência de semáforos ali adiante. Foi a primeira vez que o vi. Num deles, um homem, curvado que lambia o chão, sem rosto que se visse e muito menos sem nome, pedia, pedia qualquer coisa. Os condutores paravam os carros, os que tinham de parar, e logo seguiam apressados, incomodados, sem abrir os vidros que o temporizador permitia . E a mão ficava suspensa no nada, sem nada. Todos podem ter pensado muita coisa, mas não o que plausivelmente pensa o primeiro ministro do país: lá está mais um choramingas….a querer aparecer! É por isso, por esta vergonha que se me agarra à pele, que me repugna a nova retórica da «refundação» das funções do Estado. E quando penso nos seus promotores vejo o país a pulular de empresas do tipo daquela que deu formação de técnicos de navegação aérea a funcionários municipais. E não quero mesmo ir por aí. HAF

11679º Dia

26 de Outubro de 2012 09,00-12,00: Preparação de seminário de doutoramento 15,00-17,00: tutorias 17,00-20,00: Sessão de Doutoramento (História, os laços entre a teoria e o método) HAF

11678º Dia

25 de Outubro de 2012 09,00-13,00: TH: tutorias 15,00-18,00: Em torno da História dos Retornados 20-21,30: Sessão TH HAF

11677º Dia

24 de Outubro de 2012 I 09.00-13,00:Teses 15,00-18,00 : Tutorias II O último combate: sem navios, sem «Cavalos e Baionetas » e sem Europa Foi há dois dias. Centrou-se nas questões internacionais. Obama venceu, generosamente. O mais relevante para os políticos desta margem: a Europa não existiu neste debate. HAF

quarta-feira, outubro 24

11676º Dia

23 de Outubro de 2012 I Paper “A agricultura alentejana no século XIX e o advento do crescimento económico moderno da agricultura portuguesa” Aula TH -1 Aula TH -2 II A Dança das Moscas O Procurador Geral da República foi substituído, a Ministra disse que nada ia ser como dantes…. e sem ter ainda sequer aquecido o lugar, prosseguem as violações ao segredo de justiça e as declarações a favor da inocência de governantes. III A Europa, a ciência e o futuro da Europa No Le Monde desta manhã, uma carta aberta de quase meia centena de cientistas europeus dirigida aos líderes políticos dos países e instituições da União Europeia . E este apelo deve ser particularmente ouvido nos países onde, a actividade cientifica sistemática estava em «take off» . Aqui fica: «Ne sacrifiez pas une génération entière de scientifiques de haut niveau» «Chaque crise présente des opportunités à saisir. La crise actuelle nous contraint à opérer des choix : l'un d'eux concerne la recherche scientifique et le soutien qu'il convient de lui apporter. En l'an 2000, les chefs d'Etat ou de gouvernement de l'Union européenne (UE), les présidents des institutions de l'UE et leurs prédécesseurs ont établi que l'Europe deviendrait "l'économie de la connaissance la plus dynamique du monde dès 2010". L'intention était noble et ambitieuse, mais cet objectif n'est pas encore atteint. La science peut assurément nous aider à trouver les réponses aux nombreux problèmes urgents auxquels nous devons faire face : découvrir de nouvelles sources d'énergie, de nouvelles formes de production et de nouveaux produits, ainsi que des moyens plus adéquats pour saisir comment évoluent nos sociétés et comment mieux les organiser. Nous sommes aujourd'hui au début d'une période révolutionnaire et une nouvelle compréhension du fonctionnement du corps humain aura des conséquences incalculables pour notre santé et notre longévité. L'Europe est aux avant-postes de la recherche scientifique dans de nombreux domaines. Transformer la connaissance en services, en savoir-faire industriels et en nouveaux produits innovants est la seule voie possible pour une Europe compétitive dans un paysage en mutation rapide, et pour garantir sa prospérité à l'avenir. Les savoirs n'ont pas de frontières. Le recrutement des chercheurs de haut niveau est très concurrentiel sur le marché international. L'Europe peut difficilement se permettre de perdre ses meilleurs chercheurs et enseignants, et elle gagnerait bien plus à attirer les talents étrangers. Réduire le financement de la recherche d'excellence aurait pour conséquence inéluctable un appauvrissement de la formation des chercheurs. Une baisse conséquente du budget de l'UE consacré à la recherche et à l'innovation nous mettrait en danger : celui de sacrifier une génération entière de scientifiques de haut niveau, au moment même où l'Europe en a le plus besoin. Le Conseil européen de la recherche (ERC) a acquis à cet égard et en très peu de temps, une reconnaissance et une réputation mondiales. Il finance les chercheurs les plus prometteurs, partout en Europe et quelle que soit leur nationalité; en un mot, des chercheurs excellents, des projets excellents. L'ERC apporte ainsi un complément opportun et décisif aux financements nationaux destinés à la recherche fondamentale. Le financement de la recherche au niveau de l'UE est un catalyseur qui vise une meilleure utilisation des ressources qui sont les nôtres et qui rend les financements nationaux plus actifs et plus efficaces. C'est dire si les ressources de l'UE sont inestimables. Elles ont permis de réelles avancées pour la science européenne. Elles ont aussi renforcé la compétitivité internationale et ont eu des effets bénéfiques pour toute la société. Nous considérons qu'il est essentiel de soutenir, et plus important encore, de stimuler l'extraordinaire richesse du potentiel qui existe en Europe en matière de recherche et d'innovation. Nous sommes convaincus que la jeune génération de chercheurs fera aussi entendre sa voix et que les chefs d'Etat ou de gouvernement de l'Union européenne seront à l'écoute de ce qu'ils ont à dire. Les 22 et 23 novembre, se tient à Bruxelles la réunion des chefs d'Etat ou de gouvernement, au cours de laquelle le budget de l'UE pour la période 2014-2020 sera discuté. La question que nous leur posons est simple : à l'heure où le budget européen est déterminé et bientôt annoncé, quels seront le rôle et la part de la science dans l'Europe du futur ? [42 lauréats des prix Nobel et 45 lauréats des médailles Fields] [cf. http://www.lemonde.fr/idees/article/2012/10/23/ne-sacrifiez-pas-une-generation-entiere-de-scientifiques-de-haut-niveau_1779272_3232.htm] HAF

11675º Dia

22 de Outubro de 2012 Paper “A agricultura alentejana no século XIX e o advento do crescimento económico moderno da agricultura portuguesa” Aula TH Tutorias HAF

segunda-feira, outubro 22

11674º Dia

21 de Outubro de 2012 Europa desfocada. No momento em que o «espirito europeu» concretizado em «realizações concretas» (União Europeia) é reconhecido com a atribuição do Prémio Nobel da Paz, a Europa «institucional» ( a União Europeia) vive uma fase de «unserendipity» . A «fractura» norte-sul que o talento de Mario Monti parece não conseguir superar a curto prazo; gente do norte , conservadora e resistente aos avanços políticos e solidários da integração; os «europeístas» federalistas lentos a responder e acima de tudo fora do poder (como o líder do SPD) ou nele demasiado «isolados» (F. Hollande) . Tudo isto é verdade, e a Europa, como projecto , está a alimentar-se (mal) de erráticas [«desesperadas», «históricas», «excepcionales»] cimeiras de empatas. Tudo indica que novidades, só depois de cumprido o ciclo eleitoral do outono de 2014 e ano de 2015 . Para o governo liberal-conservador português, se não há massa de borla da Europa, para aplicar na formação dos portugueses em segurança aeroportuária e noutras pérolas similares, não há presença na política europeia. Estasse nas cimeiras , mas mudos á entrada e calados à saída, e subservientes q.b. Como disse François Hollande (na entrevista que refiro adiante) , a pior ameaça para a Europa « C'est de ne plus être aimée. De n'être regardée au mieux que comme un guichet austère, où les uns viendraient chercher des fonds structurels, d'autres une politique agricole, un troisième un chèque, au pire comme une maison de redressement. ». Falar dos portugueses, do esforço que lhes está a ser exigido , do que eles já se dispuseram a suportar, dos «assaltos à mão armada» com que lidam nos últimos anos…disso, o governo português nada diz, onde devia dizer. Tem de ser outros a fazê-lo. Desta vez foi o Ppresidente francês numa entrevista «europeia» (i.é, para o espaço público europeu) concedida seis jornais europeus (Le Monde, The Guardian , El Pais, gazeta Wyborcza, La Stampa e Süddeutsche Zeitung), nas vésperas da última cimeira europeia, onde pode expor as bases d a sua tese da «integração solidária» que o distancia da chanceler alemã. « On ne peut pas infliger une peine à perpétuité à des nations qui ont déjà fait des sacrifices considérables, si les peuples ne constatent pas, à un moment, les résultats de leurs efforts. Aujourd'hui, ce qui nous menace, c'est autant la récession que les déficits !» (Le Monde) HAF

11673º Dia

20 de Outubro de 2012 Leituras transnacionais Akira Iriye et al. The Palgrave Dictionary of Transnational History, 2009 HAF

11672º Dia

19 de Outubro de 2012 I Reunião GHC : programa de doutoramento e revisão do mestrado Sessão do CC UE Tutoria Sessão de Doutoramento de HC II C.Saunders et al., Region-building in Southern Africa , Zed Books, 2012. HAF

quinta-feira, outubro 18

11671º Dia

18 de Outubro de 2012 I Além de uma autêntica via sacra médica... Despacho do CC ECS UE Sessão de Teoria da História (20.00-21.30) II Manuel Pereira Cresto, Vice-Almirante : Porque perdemos a guerra. Lisboa, Abril, 1977 Um livro curioso. Depois de umas «Breves noções sobre a guerra e sobre a estratégia, e de dedicar 40 páginas a «A Guerra de África» e mais 30 à sua acção como Ministro da Marinha dos governos de Salazar e de Caetano («Da minha entrada no Governo em Agosto de 1968 e meados de 1973») , o autor, «oficial distintíssimo» (Martinho Simões, no Prefácio), centrou-se no desfecho da guerra, que foi a «Derrota» portuguesa, uma vez que «o inimigo» alcançou os seus objectivos: «a entrega dos territórios ultramarinos e das suas populações» . E a derrota ocorreu, na sua perspectiva, por «ter sido abandonada a única política ultramarina que poderia ter evitado a catástrofe – a de prosseguir a guerra até que o inimigo desistisse de lutar». Razões evocadas por outros, como a «traição (de alguns) socialistas e comunistas», o desânimo do exército português («das nossas tropas não quererem continuar a lutar»), os «errados... procedimentos adoptados» na descolonização, todos eles foram factores secundários. «Para vencer , teríamos de prosseguir a guerra até que o inimigo desistisse de lutar. Não procedendo assim, fomos derrotados. A vitória pertenceu aos grupos armados que, durante treze anos, nos combateram sem sucesso, e às potências comunistas que os apoiavam» , escreve o Vice-Almirante a rematar . Uma leitura «de regime» em nada surpreendente, mas que aqui fica registada, para que se conheça. HAF

11670º Dia

17 de Outubro de 2012 I Reunião com o ICTT: Mestrado Estudos Históricos Eu e Af. AHU-UM. II «Pobres» e «Ricos» em Portugal: as vagas recentes da desigualdade social Segundo um estudo coordenado por Carlos Farinha Rodrigues [Desigualdade económica em Portugal, ISEG-Fundação FMS] , de que se acabem de divulgar alguns dados e conclusões ( cf. Público e web) o ano de 2009 marcou um ponto de viragem na história recente da desigualdade social em Portugal: foi o fim de uma década na redução da «intensidade da pobreza» - medida pela distribuição dos rendimentos das famílias que releva uma aproximação entre os mais pobres e os mais ricos - , devido não ao aumento dos «ganhos mensais » [salários , que estagnaram entre 1985 e 2009) mas às politicas (rendimentos) sociais de apoio aos mais desfavorecidos (com ênfase para o rendimento mínimo de inserção) que proporcionaram um aumento do conjunto de recursos disponíveis das famílias. Seguindo a leitura que Andreia Sanches fez deste estudo (Público, 17-10-2021, de que tiramos as citações), desde 1993 e até 2009, «houve uma melhoria do rendimento das famílias mais pobres, não tanto porque estejam a ganhar melhor, mas essencialmente por causa dos apoios que recebem do Estado» , o que tendencialmente se traduziu numa «ligeira redução» da desigualdade social Todavia o estudo parece ainda mostrar que no referido período o andamento da desigualdade social foi ondulado por quatro fases: agravamento entre 1985 e 1994 (Cavaquismo), atenuação entre 1995 e 2001 (Gueterrismo); voltou a agravar-se entre 2002 e 2005 (Barrosismo e Lopismo); e nos quatro anos a seguir (Socratismo) , conheceu de novo uma ligeira atenuação. Foi um andamento modesto que parece ter como alicerces uma evolução positiva do rendimento global das famílias (que matiza a desigualdade social, porque favorece as mais pobres) que teve como contraponto um acentuar da «desigualdade salarial» : «quem tem um crescimento superior à média são as pessoas com maiores salários, que vêem os seus salários crescer mais» ( Farinha Rodrigues, citado no Público). [Ver ainda: Carlos Farinha Rodrigues: Desigualdade económica em Portugal, http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=projects&id=94] HAF

quarta-feira, outubro 17

11669º Dia

16 de Outubro de 2012 I Leitura de Tese (Sociedade e economia no BIÉ) Sessão Teoria da História Tutoria: Domingos Pascoal II Abderrahmane Bouchéne , Jean-Pierre Peyroulou , Ouanassa Shari Tengour e Sylvie Thénault (dir), Histoire de L´Algerie Colonial, 1830-1962, Paris , LA Découverte, 2012 HAF

11668º Dia

15 de Outubro de 2012 I Paper: A agricultura alentejana no século XIX e o advento do crescimento económico moderno da agricultura portuguesa. Sessão Teoria da História II H.Sapire and C.Saunders, eds., New Perspectives on Liberation Struggles in Southern Africa, UCT Press, 2012). III Portugal , os defeitos do sector público e as virtudes do sector privado O senhor Relvas e os seus amigos estão a tornar-se num «case study» do maior interesse. Porque se apresentam como neo-liberais radicais , advogando um Estado mínimo, única forma de vencer a ineficácia e os custos directos excessivos da administração pública povoada dos funcionários públicos diabólicos, que cobram salários chorudos e mordomias inaceitáveis ( excepto os amigos deles e os especialistas que eles contratam, claro) . E porque propagam as virtudes económicas do sector privado, como exemplo de eficiência, mesmo na prestação se serviços públicos. É verdade que «Empresas» como as hospitalares não tem sido um exemplo nada glorioso mas agora dispomos de exemplos protagonizados por estes propagandistas do Estado fora dos serviços . O Público de ontem publicava mais dados sobre a História da Tecnoforma que quis encher o país (zona centro) de funcionários municipais convertidos em peritos de campos de aviação e heliportos. Retenho apenas o título da 1º pagina: «Relvas [como Secretário de Estado da administração Local] e Passos Coelho [como consultor, administrador e/ou gestor da empresa] agiram juntos para angariar contratos» . Já está a vista de todos o que aconteceu e como estas recorrentes práticas bandoleiras estão enraizadas na sociedade portuguesa. Mas o meu ponto aqui é outro. Em comentário anterior dedicado a este assunto (11 de novembro) escrevi: « Dos 1063 formandos previstos no projecto candidato, com vista a preparar pessoal camarário para meia dúzia de aeródromos e heliportos, a um custo 2164 euros/formando, a Tecnofoma… proporcionou a frequência dos três cursos centrais apenas a 36 formandos (houve mais 68 que participaram noutras sessões avulsas), não obteve a acreditação dos cursos e o custo por formado foi superior a 8.500 euros. », isto é, numa «gestão privada» , gastou-se quatro vezes mais do que o estimado para formar 36 «especialistas» de aeródromos que ficaram credenciados. O que me parece é que se tal formação tivesse sido facultada por uma instituição pública, provavelmente o custo de cada formando até poderia ser o mesmo (dou isso de barato) mas uma coisa é certa, os formandos acabariam preparados e devidamente credenciados . HAF

11667º Dia

14 de Outubro de 2012 Paper: A agricultura alentejana no século XIX e o advento do crescimento económico moderno da agricultura portuguesa. HAF

11666º Dia

13 de Outubro de 2012 Dia Branco H.Sapire and C.Saunders, eds., New Perspectives on Liberation Struggles in Southern Africa, UCT Press, 2012. HAF

11665º Dia

12 de Outubro de 2012 I 08.00-12,00: Preparação de “”paper” e de painel no próximo ECAS 5 (ISCTE 2013) 15,00-17,00: Júis de Doutoramento 17,00-19,00: Sessão de Doutoramento II H.Sapire and C.Saunders, eds., New Perspectives on Liberation Struggles in Southern Africa, UCT Press, 2012). HAF

sexta-feira, outubro 12

11664º Dia

11 de Outubro de 2012 I Referee. Formação de Júris . Preparação de «paper» Sessão TH (20-21,30) II Os batoteiros do país: novos exemplares No passado dia 8 de outubro o Publico começou a divulgar um dossier sobre as activididades de uma empresa especializada em formação (Tecnoforma), de que Passos Coelho foi várias coisas de que na se lembrava já muito bem, que abixou uma pipa de massa através de uma rede de negócios e tráfico de influências, que envolveu(e) (ex-)dirigentes do PSD e «jovens sociais democratas» , incluindo o incontornável Relvas, então como Secretário de Estado da Administração Local (2004) O tema regressa à primeira página de hoje do referido jornal: «Relvas ajudou empresa de Passos a ter monopólio de formação para aeródromos» , do centro do país. A ideia é genial: visando a «segurança das aeronaves e seus passageiros» e barrar a possibilidade de «atentados terroristas» da Al-Qaeda, o governo, via Mr. Grass, criou (em combinação com a rede) um programa de apoio à formação profissional de técnicos camarários para aeródromos e heliportos municipais e dele conhecimento apenas a uma empresa: a dos amigos íntimos da Tecnoforma. A ideia era facturarem 2,3 milhões de euros, mas a coisa mesmo assim correu tão mal que o programa acabou por ter de ser suspenso depois de encaixarem 312.000 mil euros e não terem formado ninguém com certificação ddo INAC. Dos 1063 formandos previstos no projecto candidato, com vista a preparar pessoal camarário para meia dúzia de aeródromos e heliportos, a um custo 2164 euros/formando, a Tecnofoma, de que Passos Coelho foi consultor, membro do Conselho de Administração e gestor (confuso, eu também) , proporcionou a frequência dos três cursos centrais apenas a 36 formandos (houve mais 68 que participaram noutras sessões avulsas) , não obteve a acreditação dos cursos e o custo por formado foi superior a 8.500 euros. E este banquete só acabou porque com a saída do PSD do governo mudou a elite regional à frente da Comissão de Coordenação da Região Centro...e, eventualmente, foi necessário satisfazer as novas clientelas…para manter, alimentar e criar legitimas expectativas nesta longa vaga de «amiguismo» em que o país mergulhou. E é esta gente de chicos-espertos, com hábitos batoteiros tão enraizados, que nos governa. Mas o leitor não fique pelo “perfume negro” deste comentário. Leia o dossier do Público e comova-se com o talento português para a batota. HAF

quarta-feira, outubro 10

11663º Dia

10 de Outubro de 2012 Despacho CC ECS UE e proposta de júris Carl Martten: Koffie Verkeerd?. A study of the retailer Albert Heijn and the public relations during the boycott of 1973 by the Angola Comity in the Netherland, MA Thesis Economic History , Leiden University, 2012 (prc) Provas de Mestrado (discussão): MBF: Descolonização e Repatriamento Europeus. A História dos Retornados Portugueses: o caso do Distrito de Évora (1975-1976).(tese de mestrado, NICPRI.UE, orientação HAF e PEG) Também na discussão se revelou uma boa tese. HAF

11662º Dia

09 de Outubro de 2012 Proposta da sessão (Painel) ao ECAS 5: From Liberation Struggles to Region-building in Southern Africa Carl Martten: Koffie Verkeerd?. A study of the retailer Albert Heijn and the public relations during the boycott of 1973 by the Angola Comity in the Netherland, MA Thesis Economic History , Leiden University, 2012 (prc) Propostas de Júris Despacho do NICPRI.UÉ 15,30-17,00: Sessão TH 20,0o-21,30: Sessão TH HAF

11661º Dia

08 de Outubro de 2012 I Leitura de teses e pareceres Reunião da ECS: abertura de vagas 15,30-17,00 Sessão de TH 17,00-19,00: Sessão CC ECS UE II O País da batota e os jovens assessores especialistas do governo A imprensa deu notícia do facto de o governo ter contratado nos últimos meses, como assessores especialistas, umas dezenas de jovens do PSD e do CDS , recém-licenciados e muito bem remunerados . É claro que foi um recrutamento sem concurso mas, segunda noticia, com muitos apelidos comuns. Apenas um desses jovens «especialistas» se dispôs a dar a cara e explicar as circunstâncias em que tinha sido contratado . No todo, foi um depoimento surpreendente. A «cereja em cima do bolo» foi o momento em que o rapaz , com 33 anos, e recém-licenciado em direito , com 3 anos de experiência, respondeu à questão da especialidade , e disse (cito de memória): «neste momento sou especialista em juventude». Chapeau !!!! HAF

11660º Dia

11660º Dia 07 de Outubro de 2012 I Leitura e pareceres de teses de mestrado sobre a »Peregrinação Alentejana a Loures», Família e Sociedade de TN no longo século 19 e a Guerra Colonial . Preparação de Aulas II Os Rankings e o «factor institucional» no desempenho das Universidades Nos últimos dias a imprensa nacional divulgou alguns dos «resultados » mais relevantes do «Times Higher Education World University Rankings 2012-2013» [uma breve nota no Expresso de 5/10 ; e uma página do Público de 4/10]. O ranking estabelece-se com base em 13 13 «indicadores de desempenho» agrupados em cinco áreas com diferente ponderação [ambiente de ensino; volume, rendimento e reputação da investigação; influencia da investigação (citações) ; inovação ( «industry income»); perspectiva Internacional (staff, estudantes e investigação) ] consideradas como as «core missions» das universidades. Embora a descrição metodológica não se refira ao universo das universidades avaliadas, terão sido objecto de avaliação 700 universidades (Público) , para apurar as 400 melhores. O subtítulo do Público permite uma visão geral e nacional : «apesar da melhoria nos Portugal passou a ter apenas três academias no Ranking do THE. EUA e Reino Unido dominam, mas o balanço do poder está a deslocar-se para a Ásia. Uma análise mais fina permite relevar outros aspectos. O primeiro , a queda de Harvard para 4º lugar (no ano passado ocupava a 2º posição ex—equo com Stanford, que agora assou para 3º) , porque Oxford subiu de 4º (2011) para 2º Lugar (por mérito nos indicadores de investigação). O IT Califórnia, mantem o 1º lugar No plano nacional , as Universidades do Porto e Aveiro mantiveram-se entre as 400 melhores universidades mas desceram no ranking . As Universidades de Coimbra e Nova de Lisboa, saíram da lista. Mas a grande novidade é a entrada da Universidade do Minho que com as duas universidades acima referidas se coloca entre no ranking na posição 350-400. O THEWUR sugere explicações globais para os movimentos: a ascensão das universidades asiáticas (chinesas, p.ex.) associado a uma maior alocação de recursos do que nas universidades do «Ocidente» , referindo-se mesmo o declínio relativo das universidades do Ocidente pelo abrandamento do investimento público . Mas o THEWUR nada refere sobre as razões das variações/oscilações no plano nacional , como é compreensível. Vivendo num contexto de financiamento público similar, as principais razões daquelas variações devem se de outra natureza, de escala, mas também de escopo institucional Num momento em que estamos a rever os Estatutos da nossa Universidade vale a pena ponderar se as diferenças na organização institucional não deverão estar a ter um impacto profundo no desempenho das Universidades portuguesas , independentemente da quantidade e mérito do staff de docentes e investigadores, distraindo-os do foco central da sua actividade universitária (o ensino e a investigação) e, em contrapartida, estimulando carreiras excessivamente alicerçadas na gestão académica . Uma arquitectura institucional complexa e «basista» , especialmente nas universidades de pequena dimensão, pode ser uma boa condição para o fraco desempenho. As Universidades de Aveiro e Minho, nos seus «modelos» específicos e nas soluções institucionais que adoptaram quando da revisão dos estatutos de 2008 e 2009, podem servir de referência para outras instituições que tem uma visível incapacidade de encontrar uma solução (institucional) sólida. II FCP-SCP 2-0 com a famosa e recorrente bênção local HAF

domingo, outubro 7

11659º Dia

06 de Outubro de 2012 Finalmente, um «dia branco». Serviu para descobrir o caos urbanístico e o terror paisagístico de Sesimbra. Quem inventou aquele pontão? Salvou-se o «pargo» escalado d, em VN Azeitão o Museu de JMF. HAF

sábado, outubro 6

11658º Dia

05 de Outubro de 2012 I A UÉ também tem boas notícias Não são tão frequentes como seria desejável mas existem. Há um mês a trás, foi uma boa notícia a atribuição à Universidade de Évora de uma cátedra UNESCO (Património). Foi assim recompensado o esforço de um colega que , há décadas se dedica à institucionalização do Património Cultural , como área de investigação, ensino e serviço da UÉ. È também uma boa noticia saber que um dos nossos colegas de Literatura (CJFJ) integra, na categoria de ensaio, a «shortlist» dos Prémios PEN II O 5 de Outubro Um dia que para mim será sempre «feriado» , oficial ou pessoal. Os «valores republicanos» como os vejo: Liberdade, Igualdade, fraternidade ou solidariedade, público ( gestão pública e espaços públicos), laicidade, racionalidade (no uso dos recursos) Um combate político contra esta República sistémica, conservadora e neoliberal , baseada na «democracia precária» , na sociedade da precariedade, e na radical desigualdade social. A alternativa só pode ser a democracia participativa na deliberação política, o «Estado Social» , essa grande invenção da Europa, a meritocracia e a igualdade de oportunidades (no contexto europeu), a «accountability» e o direito ao trabalho e ao ócio. Ontem, nas celebrações, a «Luísa » e a «Ana Maria» mostraram o ponto onde estamos. Luisa colocou [aos convidados que saiam da cerimónia oficial à porta fechada para conter os custos] uma questão assassina (que a todos nos deve envergonhar, não apenas aos responsáveis): «Sou uma pessoa livre, séria e honesta […] «Não se envergonham de olhar para a minha miséria?». III Convergências da «República» que temos «Ná série de terror em que se tornou a economia política da austeridade, cada capítulo fulmina e desvasta mais do que o anterior. A terra queimada alastra através da escolha fria das vítimas, sempre as mesmas vítimas. (…) Recessão, depressão, injustiça, frieza, minagem da vida colectiva, eis o mundo que o governo nos propõe. Não pode ser! Há mais capacidades em Portugal» ( José Reis, «O Dia em que deixamos de ter governo», Público, 5 de Outubro de 2012) « (…) Mas existe uma linha muito ténue entre o céu e o inferno, e esta política de terra queimada conduzir-nos-á ao inferno . (…) É em Bruxelas (onde estão os credores) que o Governo tem de se bater pelo país ….Ricardo Arroja, «Entre dois mundos». Público, 5 de Outubro de 2012 HAF

quinta-feira, outubro 4

11657º Dia

04 de Outubro de 2012 I [...] II Foi esta madrugada , o Primeiro «De/Combate»: a visões de outros As Sondagens Quem venceu o debate esta noite? «Romney is Winner for the Media, Big Loser is Moderator Jim Lehrer. […] Substantively, Obama won the people who will already vote Democratic, Romney won the people who will already vote Republican, and the swing voters are just as confused as ever.» Matthew Rozsa ( Historiador: Politics, 2012 El Who Won the Debate in Terms of Temperament? « I wrote this morning that the most important thing to watch in tonight’s debate would be the evidence it gave of the candidates’ temperaments, as they faced each other in the most high-stakes moment of the campaign. I described temperament […]as “the strength of character that allows a president to stay on top of all the events and complexities and life-and-death challenges of the world’s most difficult job, and to remain open-minded and flexible and yet determined.” Throughout most of the debate, and especially in the first half, Romney seemed more confident and flexible and yet determined than President Obama did. Obama looked defensive and uncertain. Romney may have said things that were clearly untrue—I believe he did—but he said them convincingly, and Obama didn’t even challenge them. [Frederick E. Allen, in Forbes] * « 3 Quotes ["Trickle-down government" (new political lexicon); “Deficit spending” ; “I'm gonna stop the subsidy to PBS. I'm gonna stop other things”] proving Why Mitt Romney Was the Clear Winner at the Presidential Debate» James Velasquez * «In the First Presidential Debate, A Lack of Foresight Prevents Us from Understanding Candidates' Visions. Obama's subdued performance along with Romney's aggressive use of the president's usual rhetoric and the candidates' mutual emphasis on communality made the first debate a murky affair.» (Sam Meier ) * Winners and losers from the first presidential debate : Romney earns a star turn when he needed one, while Obama seemed purposely restrained. [Chris Cillizza , Washington Post] * «Two-thirds of people who watched the first presidential debate think that Republican nominee Mitt Romney won the showdown, according to a nationwide poll conducted Wednesday night. According to a CNN/ORC International survey conducted right after the debate, 67% of debate watchers questioned said that the Republican nominee won the faceoff, with one in four saying that President Barack Obama was victorious.» (CNN Poll) HAF

11656º Dia

03 de Outubro de 2012 I 08,00-11,00: Correspondência 11,00-13,00: Mesa do CC ECS 14,30-17,00: Sessão do CC ECS e se ubíquo fosse teria também estado no CCP do IIFA e no CCUE… 17,00-18,30: Júris de equivalência e mestrado II A crise e o Fisco: modalidade de um estado demo-bandoleiro Há poucos comentários a fazer à comunicação do ministro Gaspar. Um colossal aumento dos impostos directos para a classe média, e um vago e difuso «imposto Robin» para os ricos… desta vez tiveram mesmo que poupar os mais pobres. A imprevisibilidade fiscal do estado, torna-o num estado-bandoleiro. Os que puderem passarão à clandestinidade.

quarta-feira, outubro 3

11655º Dia

02 de Outubro de 2012 08,00-12,00: Documentos da África Austral (ADN) 15,30-17,00: Sessão de TH 20,00-21,30: Sessão de TH HAF

segunda-feira, outubro 1

11654º Dia

01 de Outubro 2012 I Despacho do CC ECS (a «questão dos editais» ) Sessão de TH Tutoria (RC): Tese sobre emigração açoriana para o Alentejo (projecto Pina Manique) II ERIC HOBSBAWN, «the History Man» (1917-2012) Neste final de tarde, depois da sessão de Teoria da História, ao folhear a página web do «The Guardian », uma notícia assinada por Mark Mazower «anunciava» a morte de Eric Hobsbawm. Cruzei com Hobsbawm (EH) algumas vezes. A mais privada foi em Reading, num almoço de véspera de natal em casa de um outro grande historiador britânico Edward .J.T. Collins, um bom amigo, hoje Emeritus Professor of Rural History (U. Reading) . Ainda que não se achasse uma «subespécie excepcional» ( E.H.: Años Interessantes. Una vida em el siglo XX, Critica, 2003 (ed.orig. 2002) , EH era de facto demasiado solicitado (e eu insuficientemente atrevido) para que a nossa conversa não tenha ficado limitada a uma breve troca de palavras em torno de um historiador português e de outras matérias históricas portuguesas (o colonialismo, p.ex.) EH fez os estudos pré-universitários em Viena e Berlim, onde viveu a ascensão do Nazismo e descobriu a obra de K. Marx. Em 1936 ingressou na Universidade de Cambridge e no grupo local do partido comunista [«me hiced comunista em 1932, aunque en realidade no ingressé en el Partido hasta mi llegada a Cambridge en otoño de 1936 (Hobsbawm, 2003, p. 125) e em particular no CUSC (Cambridge University Socialist Club) - os «vermelhos» de Cambridge, a que a campanha pró-republicana na Guerra Civil de Espanha deu grande visibilidade- e, entre os estudos, projectos editoriais ( Granta, etc) e a militancia política anti-fascista, repartia as férias entre a London School of Economics (que então acolhia muitos refugiados intelectuais judeus e antifascistas da Europa Central: Norbert Elias, Karl Polanyi, etc) e a França (gostava de viajar à boleia na Bretanha). Em 1939 integrou a Apostle Society ,uma sociedade secreta de intelectuais (grupo de discussão), fundada em 1820, também conhecida por « The Cambridge Apostles» ou, «Cambridge Conversazione Society», de que John Maynard Keynes também foi membro (1903, integrando o Bloomsbury Group) . «Es fácil describir retrospectivamente cómo sentíamos y qué hacíamos como militantes del Partido cicuenta años atrás, pero explicarlo resulta mucho más difícil» (EH, 2003, p. 132). Foi militante do CPGB - Comunist Parety of Great Britain durante 55 anos, vinculo que só terminou com a extinção do partido (1920-1991). "I was a loyal Communist party member for two decades before 1956 and therefore silent about a number of things about which it's reasonable not to be silent." (Eric Hobsbawm, in Observer special, 22 set. 2002) . Um dos episódios marcantes desta fidelidade foi o famoso panfleto que, com Raymond Williams, assinou de apoio à fracassada invasão da Finlândia pela União Soviética ( 1939-40) que o pacto Hitler-Estaline consentiu. O argumento de que Estaline estaria apenas a proteger a Rússia de uma invasão imperialista britânica correspondeu fundamentalmente a uma obediência partidária: «We were given the job as people who could write quickly, from historical materials supplied for us. You were often in there writing about topics you did not know very much about, as a professional with words.’ (cf. Raymond Williams : Politics and letters: interviews with New left review, 1981, p.43) . Iniciou a sua carreira académica em 1947 como «Leccturer» no Birkbeck College (universidade de Londres),de que se tornou Presidente em 2002. De 1949 a 1955 foi « history fellow at King’s College». Com Chrsitopher Hill, Raphael Samuel E.P. Thompson e outros, EH fundou o «Comunist Party Historian Group» (CPHG, 1946-1956), um extraordinário clube (British Marxist Historian) cujo contributo historiográfico – uma « history from below» e acessível ao povo , a que a revista Past and Present (que fundaram em 1952) deu uma sólida feição académica -, não só revolucionou a historiografia britânica do pós-guerra e a projectou internacionalmente, como marcou toda a teoria e prática em torno escrita profissional da História ou, como gosto de dizer, dos Estudos Históricos. Tornou-se uma referência do «marxismo cultural» ou «académico» no campo historiográfico, sendo os Primitive Rebelds. Studies in Archaic Forns of Social Movements in the 19th and 20th Centuries (1959) um trabalho seminal. E foi, por cima de tudo, um grande historiador, tanto na aplicação dos princípios cardinais como na arte da escrita da História. Uma parte do seu extenso legado historiográfico está traduzido em português, em particular a colecção, originalmente publicada entre 1962 e 1994, que dedicou à História do Mundo Contemporâneo (desde a Revolução Francesa): The Age of Revolution, 1789-1848;, The Age of Capital; The Age of Empire; The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914-1991. E deixou ainda uma notável autobiografia (2002), já acima referenciada e citada na edição de Espanha [ Años Interessantes. Una vida em el siglo XX, Critica, 2003.] O quadro conceptual, instrumentos analíticos a que recorreu, as suas interpretações históricas, a forma da escrita da história tornaram-se regular objecto de debate, um debate que sempre aceitou e o tornou regularmente presente nos grandes encontos científicos da comunudade sistémica que os historiadores edificaram( Karl Dietrich Erdmann: Towards a Global Community of Historians. The International Historical Congresses and the International Committee of Historical Sciences, 1898-2000, Berghahn, 2005). Desde os anos 1930s cultivou o gosto pelo Jazz, um «ritmo» (e cultura) então pouco apreciado nos meios universitários britânicos, e, nas décadas seguintes, cultivou este gosto nos seus contactos com outros militantes comunistas da Europa de Leste e dos Estados Unidos. Nos anos 1950s, a figura do crítico de jazz ganhou um espaço crescente nos jormais britânicos. EH, que já tinha prestado alguma colaboração à revista Jazz Music, aceitou o convite (1955) para tal colaboração no New Stateman and Nation, um jornal que tinha como leitor tipo «o clássico funcionário público, varón, de unos cuarenta e tantos años» (EH, 2003). E, como entendeu dever separar a personalidade de professor universitário da de crítico de Jazz, durante uma década, escreveu crítica jazzística com o pseudónimo de Francis Newton. E « As ‘Francis Newton’ (named after a Communist jazz trumpeter who played on Billie Holiday’s ‘Strange Fruit’), I wrote a column every month or so for the New Statesman for about ten years.» (E.H. «Diary» , London Review of Books , Vol 32-10 27 May 2010; EH, 2003, p. 212). E ainda como Francis Newton publicou em 1959, The Jazz Scene , a primeira história social do jazz na perspectiva britânica, obra reeditada em 1993 agora autorada pelo historiador. Regressando à notícia do «The Guardian»: 'To anyone who loves history Eric Hobsbawm's death is very sad news' (Mark Mazower) HAF