Editorial

Um amigo muito estimado tem uma “FlorBela” , a poetisa, sentada à janela do mundo. A peça é de Pedro Fazenda e hoje permite à poetisa, a partir da Quinta de Santa Rita, um olhar eterno sobre o lado este da cidade de Évora. Todavia ela nem sempre esteve ali. Conheci-a na cidade, no Pátio de S. Miguel , quase debruçada sobre o velho Colégio Espírito Santo (actual “centro” da Universidade de Évora) e com um horizonte que dos “coutos “ orientais da cidade se prolongava, nos dias verdadeiramente transparentes , até Évora-Monte . Mas as coisas da vida são como se fazem. Depois de um par de anos vendo o mundo a partir da cidade , e de mais alguns por outras andanças e paragens, Florbela sentou-se definitivamente para observar a cidade. E lá a encontrará nos anos vindouros quem a souber procurar. À janela, de onde a poetisa gostava de apreciar se não o Mundo, pelo menos o Mar (“Da Minha Janela”, 1923).

À janela do mundo me coloco também para observar e comentar as múltiplas cidades que me interessam, os seus actores e instituições. Sem uma agenda definida. Pelo simples prazer de dar palavras a ideias quando tal me apetecer. Um exercício de liberdade e cidadania.

DiáriodeumaCatedraaJanela é um blog de autor, um espaço de opinião aberto a todas as dimensões que se inscrevem na minha identidade . A de um autor com experiência e memória de mais de meio século partilhadas entre África e Europa, Casado (há quase 30 anos), Pai (de três filhos), Livre Pensador, Cidadão (Português e Europeu) , Professor (Catedrático) e Historiador . O Diário passará por tudo isto, mas com o carácter de “conta-corrente”, só mesmo a vida académica, que no momento em que este editorial foi escrito de(le)itava-se em mais uma falsas férias.

Não me coloco ao abrigo de uma atalaia. Pretendo também ser observado, expondo o meu dia a dia profissional. É uma forma de ajudar a superar a miserável (manipulação da ) ignorância do “povo” e proporcionar a possibilidade de contrapôr experiências à retórica e oportunismo mediáticos de muitos observadores e políticos pouco criteriosos. Os cidadãos podem conhecer de perto o que nós (professores universitários com carreira universitária) fazemos pelo país, o modo como o fazemos e o que pensamos sobre o modo como podemos fazer ainda mais e melhor.

A começar a 1 de Setembro. Não por ser o dia dedicado pela Igreja Católica à bela “Santa Beatriz da Silva Menezes, Virgem “ (1490-c 1550). Não por constituir efeméride da invasão da Polónia pela Alemanha (1939), da Conferência de Belgrado (1961) ou da tomada do poder por Muammar al-Qaddafi (1969). Não também pelo comemorativo propósito dos dias do Caixeiro Viajante ou do Professor de Educação Física. Nem sequer por marcar o nascimento de António Lobo Antunes (1942), o autor das extraordinárias “D´este viver aqui neste papel descripto. Cartas da Guerra” (1971-1972) , cuja edição as filhas organizaram (2005) , ou de Allen Weinstein (1937), prestigiado historiador americano e actual “Archivist of the United States “. Nada disso. Também não é por corresponder ao 9802º dia da minha actividade como professor universitário, cujo início data de 30 de Outubro de 1980, quatro meses após a conclusão da licenciatura e uma disputa em concurso público limpinho. Apenas porque me fica mais em conta.

Vamos lá tentar fazer disto um mundo aberto.

Burgau, 15 de Agosto de 2007
Helder Adegar Fonseca (HAF)

sexta-feira, agosto 31

11623º Dia

Dia 31 de Agosto de 2012
Dia de Faina...

HAF

quinta-feira, agosto 30

11622º Dia

Dia 30 de Agosto de 2012

HAF

11621º Dia

Dia 29 de Agosto de 2012
I
O Banho de 29
Em Burgau, 0 «29 de Agosto» é dia de banho às 24 horas. O «povo» desce à praia , ilumina-a para a aquecer e , mais do que esperar que as águas lhe lavem a alma, bebem uns copos misturados com os sons misturados de uma praia organizada em fogueiras.
Até lá, instalado no «escritório», tento correr, tão depressa quanto os amigos passantes deixam, as últimas páginas do Diário Popular em edição que foi aérea.
Noite dentro lá cumprimos, como nos últimos 26 anos, o Banho de 29, agora com a família representada apenas pela T.

II
No Público de 21 de Agosto o historiador RR publicou um texto - «Um caso de difamação» - que me perturbou. Fiquei ontem a saber que o «colunista» da acusação «negacionista» é outro historiador, por quem também tenho grande apreço (ML). Todavia permaneço distante da «pessoalização» historiográfica, uma medíocre tradição portuguesa.
III
O País da Batota e Expressões da Meritocracia em Portugal
Anúncio de emprego que o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) publicou no seu site na internet para uma vaga de educador de infância na zona de Tavira:

E também li a explicação dada [http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ nacional/economia/vera-pereira-escolhida-entre-mil-candidatas]. Com arte (de artista) há sempre uma boa explicação ….
V
Os americanos portugueses são uns nabos
Uma das marcas “civilizacionais” americanas é a da separação entre a esfera de um Estado fraco e a esfera economia, com uma forte mercantilização das actividades sociais e com grandes instituições (empresas) influentes (fortes e protegidas).
É notório que há um grupo de empresários, políticos e intelectuais portugueses que acha vantajosa a reprodução deste modelo em Portugal . O recente exemplo da RTP ilustra a forma atabalhoada como abordam o assunto . Estava em curso um novo negócio tipo BPN. A posição de diversas forças políticas e sociais e a ruptura do PS ( ao declarar que tal processo seria revertido quando o PS chegasse ao governo) mataram a (má) solução, incompetentemente desenhada.
HAF

quarta-feira, agosto 29

11613 º a 11620º Dia

Dia 19 a 28 de Agosto de 2012
Aumentou a participação nas actividades típicas da «silly season» em Burgau: chegou o tempo marítimo e o «tic-tac» (em vias de ser rebaptizado e agora equipado com um «Honda») entrou em acção (abriu a «choco and squid season») integrando uma «frota » local de cerca de doze botes, prolongando-se as fases de recuperação das sucessivas incursões à «pedra negra» (Boca do Rio), «Pedreira», «Praia do Robolo» e «Ponta dos Mexilhões» ; as noites da Prateleira sucedem-se com abertura a «world music » e aos sons africanos. Nos intervalos o «Diário Popular» avançou o que pode e leram-se partes de teses em curso. Mas tudo somado, foi mais mar que terra. O dia de amanhá não será muito diferente pois do «banho de 29» se tratará.
HAF

terça-feira, agosto 21

11610 º a 11612º Dia

Dia 18 a 20 de Agosto de 2012
I
Diário Popular, Ed. Aérea, 1957
Maria Conceição Neto: In Town and Out of Town. A Social History of Huambo (Angola) 1902-1961, Thesis, DH-SOAS-UL, 2012
Rui Câmara Pina: África do Sul. A difícil transição., Lisboa, Fronteira do Caos Editores, 2012
II
Burgau… «a drink village with a fishing problem» ?

HAF

11609 º Dia

Dia 17 de Agosto de 2012
I
Prateleira Office: Diário Popular, Ed. Aérea, 1957
II
Portimão : revisão livreira e filmes de época
HAF

sexta-feira, agosto 17

11608º Dia

Dia 16 de Agosto de 2012
I
Prateleira Office: Diário Popular, Ed. Aérea, 1957
II
QUERO ESTUDAR MELHOR (QEM): 30 bolsas de estudo de seis semestres para estudantes universitários (2012-2013)

«O "Quero Estudar Melhor" (QEM) é uma iniciativa conjunta do Jornal Expresso e da Prébuild que conta com a assessoria técnica da EGOR.
É um projeto de concessão de bolsas de estudo universitárias (e de acompanhamento do desempenho académico desses escolhidos.) que visa premiar o talento e o aproveitamento escolar de jovens alunos do ensino secundário que se distingam pelo caráter exemplar dos seus métodos e processos de estudo, ambição e capacidade de trabalho, proporcionando-lhes as condições financeiras para prosseguirem os estudos universitários ao abrigo das condições expressas no presente regulamento. »
Sobre os cursos elegíveis, critérios e procedimentos ver :
http://expresso.sapo.pt/regulamento=f742549
Esta iniciativa merece dois comentários. O primeiro tem a ver com as funções do ensino superior numa sociedade moderna e como se podem garantir essas funções (sociais e técnico-culturais); o segundo , foca a iniciativa do Expresso em si, e nas condições portuguesas actuais.
Contrariamente ao que tenho visto por ai dito e escrito, a mais importante função actual do Ensino Superior ( Politécnico e Universitário) é a formação «das profissões » das classes médias que são o principal alicerce das sociedades modernas democráticas e massivamente constituídas por assalariados . Esta função não lhe é completamente exclusiva (há outros canais) , nem a ela se limita (deve manter a tradicional função de formação de elites) , mas é ao ensino superior que cabe a maior responsabilidade na concretização de tal desiderato. Para o fazer tem de ser uma formação de acesso aberto e massificado (1º Ciclo). Nas primeiras décadas do século XXI a massiva graduação no ensino superior, como patamar de civilização, terá uma importância equivalente ao da escolaridade primária no início do século XX. Por conseguinte, não haverá uma sociedade moderna sem a garantia da igualdade de oportunidades de acesso.
Ora, há indícios de que em Portugal se está a fazer um retrogresso nesta matéria: por um lado o recuo na procura do ensino superior ( limitações «internas» na transição do ensino secundário para o superior), a redução de vagas no ensino superior, a redução das bolsas de estudo públicas, o aumento do esforço financeiro familiar para a educação superior, etc, etc. ; . por outro lado, recupera-se e limita-se o discurso do mérito, não à saída, mas nas transições e no acesso a novos ciclos educativos formais.
Nas sociedades burguesas tradicionais, onde o ensino superior (quase exclusivamente universitário) estava essencialmente destinado à formação de elites a aptidão (pessoal ou familiar) fixava-se à entrada e só não era socialmente exclusivo porque se fixaram progressivamente diversas modalidades de bolsas para apoio ao pobres com talento, sendo o sistema generoso para todos os poucos ricos, com muito ou mediano talento. Nas sociedades modernas o mérito deve operar, tendencialmente, depois de asseguradas as oportunidades sociais básicas, que incluem o amplo acesso ao ensino superior.
A iniciativa do Expresso é um sempre louvável contributo - que as universidades já deviam ter explorado-, para atrair estudantes e ampliar as oportunidades de acesso e de efectiva conclusão de formação inicial do ensino superior. Também podem ser desenhadas soluções deste tipo (bolsas de longa duração; seguro estudante para as propinas…. em vez da ideia da propina-solidária e de outras coisas mais tontas) para evitar ou reduzir as taxas de abandono do ensino superior.
Todavia, destinado ao 1º ciclo universitário, o QEM é mais um indício, não de que estão a diversificar-se, mas de que está em fase de recuo a via «clássica» (?) que poderia assegurar a geral oportunidade efectiva de acesso a um diploma do ensino superior como elemento social estruturante, visando uma configuração societal suportada em amplas classes médias e, essencialmente, na meritocracia profissional, que a sociedade portuguesa actual substima ou praticamente desconhece.
HAF

11607º Dia

Dia 15 de Agosto de 2012

Évora - VR Stº António – Monte Gordo e Praia Verde (ambas exemplares de uma «espécie de feira parola») – Cacela Velha ( interessante) - Canas de Tavira- Tavira (ao reencontro de veraneantes a fazer o circuito algarvio dos pontos de férias dos militares)- Burgau
HAF

terça-feira, agosto 14

11606º Dia

Dia 14 de Agosto de 2012
I
Burgau-Tavira (que não é apenas a «capital» do choco grelhado)-Mértola- Évora
II
O INE e a recessão económica
Enquanto permanecem «deslocalizados» os papéis dos submarinos do Dr. PP, os dados hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram:
a)Aprofundamento da recessão económica: o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu 3,3% no segundo trimestre de 2012 relativamente ao mesmo período do ano anterior, sendo o principal factor para o agravamento do ritmo de queda do PIB (que no trimestre anterior caíra 2,3%) é o «contributo negativo» da procura interna
b)«Agravamento da situação da procura interna», indicador que, estima-se, entre 2010 e 2012 «vai regredir treze anos»: «em termos reais, voltaremos ao nível de procura interna registado no início de 1999, ou seja, de quando o euro foi introduzido» (Ricardo Cabral, citado pela Lusa).
c)sem o produzir, ou mesmo antes de o produzir (com o novo milagre alentejano depois do Alqueva), já exportamos ouro como quem exporta pevides.
d) o desemprego atinge 830.000 pessoas (15% da população activa), afectando já mais os homens do que as mulheres: o que ilustra bem a brutal queda de rendimento das famílias de assalariados. A infogravura mostra os fluxos entre os estados do mercado de trabalho e a trágica evolução recente da distribuição regional do desemprego.
E, o INE não o diz mas nós topamos logo, os nossos políticos laranja-azul, infelizmente activos, são uns artistas maravilhosos e generosamente arregalados, como devem ser.
[Para mais detalhes sobre a situação económica do país ver: . INE, Informação à Comunicação Social: Contas Nacionais Trimestrais – Estimativa Rápida, 2º Trimestre de 2012: 14 de Agosto de 2012; e INE, Estatísticas do Emprego. 2º trimestre de 2012, 14 de Agosto de 2012]
HAF

segunda-feira, agosto 13

11605º Dia

Dia 13 de Agosto de 2012
Prateleira Office: Diário Popular, Ed. Aérea, 1957
HAF

11604 º Dia

Dia 12 de Agosto de 2012
Prateleira Day. Revisão da imprensa de fim de semana e outras leituras. Um dia pasmado, mas com práticas gastronómicas locais.
HAF

11603º Dia

Dia 11 de Agosto de 2012
Dia de longa marcha para este ( B-PL)
Dia de mercado da "Reforma Agrária" de Lagos: um "resquício" da era revolucionária que se tornou indispensável/insubstituível (junto à RN).

Pedro Abrunhosa [Festival da Sardinha (Portimão) ]
HAF

11602º Dia

Dia 10 de Agosto de 2012
Diário Popular, Ed. Aérea, 1957
Maria Conceição Neto: In Town and Out of Town. A Social History of Huambo (Angola) 1902-1961, Thesis, DH-SOAS-UL, 2012
Prateleira by Night: dança do ventre com bailarinas locais.
HAF

quinta-feira, agosto 9

11601º Dia

Dia 09 de Agosto de 2012
Abertura da pesca na ponta da Gaivota. Finalmente há mar…
Diário Popular, Ed. Aérea, 1957
Maria Conceição Neto: In Town and Out of Town. A Social History of Huambo (Angola) 1902-1961, Thesis, DH-SOAS-UL, 2012
HAF

11600 º Dia


Dia 08 de Agosto de 2012
I
Dia do R.R. ou do Cm. Surucucu. Jantar na zona
O hip hop de Boss AC [Festival da Sardinha (Portimão)]
II
Peter Godwin: Quando um crocodilo come o sol. Memórias do Zimbabué ou a Implusão de uma nação, Lisboa, Bizâncio, 2008

Ao finalizar a leitura desta obra, onde o autor - branco,zimbabueano, emigrado nos EUA e residente em NY desde inicio dos anos 1990s, jornalista com colaboração regular ou ocasional no Sunday Times, NY Times, National Geographic, Reader Digest, Forbes FYI, Channel Four TV , etc. , - regista a sua experiência de sucessivas visitas profissionais e particulares realizadas entre 1996 e 2004 ao país que já foi considerado como a «a Suiça de África», sinto a obrigação de deixar aqui alguns trechos (o que é a primeira vez que o faço, em tal extensão) e um comentário final (sobre o caso angolano)
Os extratos:
[Introdução]
«As projecções demográficas tiveram de ser revistas. Em 1980, com a independência (era post Iam Smith) , um homem podia esperar viver até aos sessenta anos, e ver os seus filhos crescerem fortes e terem os seus próprios filhos; e se tivesse sorte, podia viver o tempo suficiente para ver os seus bisnetos levarem-lhe cabaças de cerveja, antes de morrer. A esperança de vida, porém, decaiu para os cinquenta anos, e actualmente baixou até aos trinta e três. É difícil abarcar todo o problema. Aos trinta e três anos , precisamente quando deve estar no auge da vida, a pessoa adoece subitamente e morre. Os administradores das minas, das fábricas, e das fazendas começaram a dar formação a três pessoas para ocupar cada cargo, porque sabem que duas não vivem o tempo suficiente para executar o trabalho.(p. 57-58)
[...]
«A posse da terra baseada em fundamentos raciais foi posteriormente codificada em diversas leis, e a pressão demográfica nos chamados territórios de Concessão Tribal começou a aumentar à medida que a população crescia, com o acesso à medicina ocidental, com pessoas como a minha mãe efectuando campanhas de vacinação em larga escala contra doenças mortais. Em meados de 1945, a população negra já superava os quatro milhões, e imigrantes brancos estavam a ser recrutados de uma Europa devastada pela guerra, sob o chamado Programa de Colonização do Império, comprando terras na Rodésia por meio de empréstimos com juros baixos.
Durante uma grande parte do século XX , a população branca possuiu mais de metade dos terrenos agrícolas do Rodésia/Zimbabué, ainda que apenas constituísse 1% d população, e esta disparidade foi vista como uma das principais causas da guerra civil no país. Todavia, com a independência em 1980, quando o domínio da minoria branca da Rodésia deu lugar ao regime de maioria negra do Zimbabué, o novo presidente, Robert Mugabe, com o incitamento do seu aliado, o presidente de Moçambique, Samora Machel, fez da reconciliação racial a peça central da sua política. Machel lamentava o caos económico gerado durante a independência do seu próprio país quando a sua política de nacionalizações extensivas provocou o êxodo de 250.000 portugueses, após quinhentos anos de colonização. Pessoas como os meus pais, que tinham receado que Mugabe, um marxista assumido, expulsasse todos os brancos do país, sentiram um enorme alívio ao verificarem que, em vez disso, eram acolhidos e convidados a permanecer num Zimbabué tolerante e multirracial. Designou um ministro da Agricultura branco, com quem percorreu o país, apelando aos fazendeiros brancos para que ficassem e contribuíssem para o novo país.
E foi o que fizeram... O Zimbabué tornou-se a economia de crescimento mais rápido de África e era o celeiro do continente ...
Roberto Mugabe deu início a um programa de redistribuição voluntária de terras, financiado na sua maior parte pelo Governo britânico e foram adquiridas cerca de 60% das terras possuídas por brancos à data da independência – a preços de mercado. e transferidos para mãos de negros 2m 2000” [não para os camponeses mas para as [elites politicas e militares e e classes médias negras urbanas; e, em 2006 300.000 hectares destas terras adquiridas para recolonização estavam, vazias e abandonadas] [pp. 64-65]
[...]
Junho de 2000.
[…]
A maior parte da população branca do Zimbabué e muitos indivíduos negros da classe média empacotaram a aprontaram aquilo a que se chama «sacos de salto», para a eventualidade de os resultados eleitorais provocarem um espasmo de violência. Chamam-se sacos de salto porque é tudo o que a pessoa tem quando «dá o salto», ou sejam, quando se evade através de uma passagem …na montanha, no caminho inverso ao que foi feito pelos pioneiros nas suas carroças cobertas.[p. 97-98]
[...]
Fevereiro de 2002
[...]
Há um escritor zimbabueano contemporâneo que tem combatido mais do que a maioria contra o peso da identidade africana. Chama-se Dambudzo Marechena [que se recusou a] explorar a negritude como um traço distintivo próprio [...]
À luz dos recentes acontecimentos no Zimbabué, os seus pontos de vista sobre a corrupção das elites – os chamados chefes – e a sua traição ao povo, que lhes entregou o poder , eram mais do que premonitórios …. Gostaria de falar com MArechera para este documentário, mas não posso. Morreu de uma pneumonia provocada pela sida...(pp. 164-166)
[...]
«Aqui, nesta região pobre de Moçambique, os Coetzees [família rodesiana, ligada a agricultura comercial, que se refugiou em Moçambique e que se pode instalar em terras exploradas por um fazendeiro português no tempo colonial e e posteriormente abandonadas] foram bem recebidos pelo chefe local e já empregam dezenas de membros da sua tribo. Outros fazendeiros zambabueanos tem sido igualmente bem acolhidos na Zâmbia e na Nigéria.
- os brancos que vieram para África fizeram muitas coisas erradas - admite Coetze – mas a História provou que o fazendeiro branco, o fazendeiro zimbabueano, é um produtor. Não há meio de alguém me convencer que o fazendeiro branco em àfrica não beneficiou o continente » (p. 169)
[...]
Setembro de 2002.
[...]. homenagem fúnebre a Garfield Todd.
Todd, um clérigo oriundo da Nova Zelândia, foi primeiro-ministro da Rodésia entre 1953 e 1958. Introduziu o ensino primário universal para os negros, duplicou o número de escolas e tentou (sem êxito) legalizar o cruzamento racial e incitar o país para um sistema de «um homem, um voto» acções consideradas demasiado radiciais para a maior parte dos brancos. Demitiram-no e substituíram-no por Iam Smith , que os levou a sete anos de guerra. Todd fundou uma escola em Dadaya, onde vidia, e um dos professores que empregou foi o jovem, Robert Mugabe. Durante a guerra da independência,Todd deu auxílio secreto aos guerrilheiros.
Mais recentemente, Todd fora crítico de Mugabe e, por ter nascido no estrangeiro, foi espoliado da nacionalidade e do direito de votar. Passara de primeiro-ministro a pária, sob o regime branco , e de herói a herege, na era de Mugabe [pp. 208-210]
[...]
Novembro de 2003
[...]
[O Dr. Bowers , «um dos últimos cirurgiões ortopédicos do país», pois a maioria dos existentes abandonou-o] e as regras financeiras fixadas na parede do consultório:] Devido às duras condições económicas actuais. Os honorários das consultas e das operações estão constantemente a ser revistos. […] Pede-se o favor de se dirigir ao consultório, numa data mais próxima da consulta ou da operação, no sentido de confirmar os honorários em vigor. (p. 257)
[...]
As gerações futuras irão abanar as cabeças num desprezo incrédulo e perguntar: porquê? Porque não fizeram alguma coisa? Porque não se rebelaram? Como foi que todos vocês, tantos milhões de pessoas, se mantiveram escravos deste velho (Robert Mugabe)? Olhem para ele, parece muito frágil, imberbe mesmo, - esta amostra de homem foi o vosso carrasco? Foi este o homem que manteve o pé nas vossas cabaças durante tanto tempo? E irão desprezar-nos. Interrogo-me o que terá acontecido aos Black Mambas de Tatchell. » (p. 278)
[...]
Sempre desejei amar a Cidade do Cabo [Africa do Sul]. […] De certa forma, a Cidade do cabo não parece fazer parte de África. A verdadeira África, a Àfrica Negra, detêm-se oitocentos quilómetros mais a leste, no Rio Grande do Peixe. Jared Diamond explicou-me isto quando estávamos a fazer o nosso filme sobre África. O Rio do Grande Peixe é onde o clima passa de tropical, com Invernos secos e Verões húmidos, para Mediterrânico, com Invernos húmidos e Verões secos. E as culturas que os povos bantos podiam desenvolver no Norte tropical – milho e sorgo – não se davam aqui... É por esse motivo que o Cabo ocidental não parece realmente africano. Não é.. Foi por essa razão que os Holandeses conseguiram tão facilmente estabelecer um bastião neste sítio.(p. 279)
[...]
Quantas gerações terão de passar até que o sabor do colonialismo desapareça das nossas bocas? (…) Um branco em África é como um judeu em qualquer parte – em sofrimento, vigiando prudentemente, à espera da próxima grande maré de hostilidade. (p. 281)
[...]
«Dezembro de 2003
[...]
É sempre instrutivo observar o ciclo vital do cooperante do Primeiro Mundo. Há um entusiasmo prudente que floresce num sentido quase messiânico do que é possível fazer. Depois, à medida que esbarra com os limites culturais da mudança aceitável, chega a inevitável desilusão, que pode endurecer em cinismo e até em racismo, ao ponto de não ser melhor do que os brancos residentes que menosprezou inicialmente. Mesmo pessoas como Osborn [Loki Osborn, americano, especialista em elefantes], que aprendeu a língua e realizou investigações minuciosas, veem as suas convicções frequentemente abaladas pelos caprichos de África, que podem começar a parecer horrivelmente irracionais para a mentalidade do Norte (p. 301)
[...]
«Fevereiro de 2004.
[...]
Agora, está tudo degradado. Passámos da lata do pão para a do lixo. O Mugabe está a perseguir o seu próprio povo. Mas no nosso tempo há-de chegar. Todo o cão tem o seu dia. [Tapera, capataz de um município de Harare] (p. 354)


Comentário final:
Face à experiência zimbabueana dos últimos 30 anos, vista pela óptica negativa (?) de Godwin, e ao perfil tendencialmente mugabeano dos dirigentes dos três movimentos de libertação em Angola na era da descolonização (Roberto, Neto e Savimbi), sou forçado a ponderar sobre a bondade do repatriamento massivo dos brancos europeus e angolanos na era da descolonização e a admitir que a alternativa de ficar teria sido bem mais traumática e destrutiva, proporcionando aos brancos, plausivelmente, uma experiência mais próxima do Zimbabwe do que da África do Sul das últimas duas décadas...
HAF

11599º Dia

Dia 07 de Agosto de 2012
Diário Popular, Edição Aérea (1957)
Antero Simões: Antologia Portugalidade. Nós ….somos todos nós, Luanda, Ed. Serviço de Publicações do Comissariado Provincial da MP, 1970
Peter Godwin: Quando um crocodilo come o sol. Memórias do Zimbabué ou a Implusão de uma nação, Lisboa, Bizâncio, 2008
HAF

11598º Dia

Dia 06 de Agosto de 2012
Diário Popular, Edição aérea (1957)
Rogério Cardoso Teixeira: Angola (N`Gola) História do Batalhão de Caçadores 109 ( 1961-1963), s.l., Quarteto, 2008
Peter Godwin: Quando um crocodilo come o sol. Memórias do Zimbabué ou a Implusão de uma nação, Lisboa, Bizâncio, 2008
HAF

domingo, agosto 5

11597º Dia

dia 05 de Agosto de 2012
Xico Barata (concerto) Festival da Sardinha(Portimão). Um angolano-luso (com 30 anos de Portimão) e mestiço musical
Peter Godwin: Quando um crocodilo come o sol. Memórias do Zimbabué ou a Implusão de uma nação, Lisboa, Bizâncio, 2008
HAF

11596 º Dia

Dia 04 de Agosto de 2012
I
O dia do Aquário....
II
Festival da Sardinha (Portimão) em nova «casa»: um «deserto» da crise. E um concerto quase «íntimo» de Mónica Ferraz (talentosa).
III
Peter Godwin: Quando um crocodilo come o sol. Memórias do Zimbabué ou a Implusão de uma nação, Lisboa, Bizâncio, 2008
HAF

11595º Dia

Dia 03 de Agosto de 2012
I
Férias…ou seja, um mês entretido com o que realmente quero.
II
Sobre o acesso à Universidade.
«Não tirou o 12ª ano? Não se preocupe. Pode entrar em cursos em cinco Universidades. Coimbra, Porto, Évora Lusófona e UAL» (1ª pagina do I, hoje). Para o Presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior trata-se de um facilitismo dramático.
Apenas três perguntas: quem e como se define o perfil dos alunos designados como « outros interessados » (ou seja os não inscritos num curso de ensino superior, vulgo, externos) que podem aceder à inscrição em unidades curriculares nos termos do Artº 46 do DL 107/2008 ? Como se decide o acesso? Tem sido um acto meramente burocrático, mas deveria merecer o reconhecimento prévio dos Conselhos Científicos.
O acesso a unidades curriculares autónomas deveria ser apenas prerrogativa de estudantes já matriculados em cursos do Ensino superior (independentemente da instituição ou de titulares de graus académicos. É esse obviamente o espírito do DL 107/2008.
III
Os amigalhaços ou aqueles que recebem subsídio de férias e de natal como «um abono suplementar» .Ops… como somos espertos !!

IV
O SCP no Ranking IFFHS dos 400 melhores clubes do mundo : 15º lugar (i.é., o clube português com melhor posição)
Quer saber como é estabelecido o Ranking mundial da Federação Internacional de História e Estatística ? Veja: http://www.iffhs.de/?bc83ccac3be8e00390b02fc5fdcdc3bfcdc0aec70aeed10a
HAF

11594ª Dia

Dia 02 de Agosto de 2012
I
Tutoria de teses
II
Ministério da Educação e Ciência: Um não-Ministério
Há pouco mais de um ano, com a fusão de dois ministérios que separadamente existiram desde 2002(M. da Educação; e o M. da Ciência e Ensino Superior com variações de «inovação» ou «tecnologia» na designação,regressou-se ao modelo do mega Ministério da Educação e Ciência.
Depois de quase 430 dias de actividade, já é claro que o Ministério tem um laço ténue com a Ciência, e que as instituições do ensino superior, em particular as Universidades (com a excepção de uma e outra) não compreendem a bondade do Ministro.
Focando-se na Educação - a tal que o Ministro, nas suas televisivamente tão solicitadas intervenções e nas suas opiniões publicadas, acusava de dominada por um «eduquês» contra o qual vociferava cobras e lagartos – percebemos agora também, que em vez do «radioso amanhã» que o Prof. Crato prometia ser capaz (e fácil) de alcançar, o Ministro inicia o segundo ano do seu governo com o Ministério mergulhado numa enorme confusão, com sinais de uma direcção politica e administrativa marcada por um confrangedor amadorismo e, sobretudo, por um timoneiro que navega à vista. Bem pregava frei Crato, mas mal parece fazer....
HAF

quarta-feira, agosto 1

11593 º Dia

Dia 01 de Agosto de 2012
I
Leitura de teses
II
O País da Batota e do Chico Esperto.
Ao mesmo tempo que atingimos o esplendoroso número de 850.000 desempregados (15,4 % da população activa; 66% entre os jovens)e o artista da Economia vem dizer que agora é que as coisas vão mudar (com as novas medidas de combate …é que vai ser)…a CMVM informa(relatório) que em 2010 havia um «gestor-turbo» com lugar em 73 administrações e mais 16 com lugares de gestão em pelo menos 30 empresas. Ora aqui esta um pais com um código de trabalho flexível….
Ao ler isto no Sapo, lembrei-me do título do tema “Fuck You” do Cee Lo Green no álbum “The Lady Killer”.
HAF